O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou, em coletiva de imprensa desta quarta-feira (28), o início da produção do imunizante ButanVac, produzido pelo Instituto Butantan, em parceria com Hospital Mount Sinai, de Nova York, nos Estados Unidos.
O instituto solicitou à Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa), no dia 26 de março, autorização para realizar o primeiro estudo clínico em humanos -- até o momento, o imunizante foi testado apenas em animais.
Se autorizado, os testes das fases 1 e 2 irão envolver 1,8 mil voluntários e 9 mil, na fase 3, quando será estipulada a eficácia do imunizante.
“Que a Anvisa tenha senso de urgência para aprovação da testagem e dessa vacina. Já temos 395 mil mortes no Brasil. Menos burocracia e mais solidariedade é o que esperamos da Anvisa”, afirmou o governador.
“Seguir os critérios científicos, mas lembrar que estamos diante de um drama jamais visto em nosso país".
Se todos os trâmites ocorrerem nos prazos planejados, o Butantan deve produzir 18 milhões de doses da vacina até o fim da primeira quinzena de junho, segundo o diretor Dimas Covas, e mais 40 milhões de doses até o fim do segundo semestre, acrescentou Doria.
De acordo com o Butantan, apesar de haver uma parceria com um órgão estrangeiro, não há qual contrapartida de pagamentos de royalties.
“A tecnologia da vacina Butanvac, que será fabricada com custos baixos no Brasil, sem dependência de insumo importado, usa o vírus da doença de NewCastle desenvolvido por cientistas nos Estados Unidos na Icahn School of Medicine no Mount Sinai em Nova York. A proteína S estabilizada do vírus SARS-Cov-2 utilizada na vacina com tecnologia HexaPro foi desenvolvida na Universidade do Texas em Austin”, afirmou o Butantan em nota.
O órgão também informou que “todos os processos produtivos, desde a qualificação dos ovos embrionados, inoculação, crescimento viral, processamento e purificação viral, inativação, formulação, qualificação, controle de qualidade, produção em escala, envase, rotulagem, registro sanitário, serão realizados pelo Butantan".
"O que significa dizer que a vacina em desenvolvimento e que entrará em estudos clínicos é uma vacina que será produzida integralmente pelo Butantan no Brasil”.
Ministério da Saúde “encontra” doses da CoronaVac
O Ministério da Saúde anunciou, nesta quarta-feira (28), que irá distribuir aos estados 104,8 mil doses da vacina CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac, a partir desta quinta-feira (29). No mesmo dia, cerca de 18 estados suspenderam a aplicação da segunda dose do imunizante devido a sua escassez.
Na nota que anunciou a entrega das doses, a pasta não especificou a origem dessas doses. No entanto, à Rádio Gaúcha, a pasta informou que algumas doses permanecem no estoque para controle de qualidade. A última remessa do Instituto Butantan ao Ministério da Saúde foi realizada há nove dias.
Antes do anúncio desta quarta, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que "não [houve atraso] por responsabilidade do Instituto Butantan, mas em função dos trâmites".
"Alguns pacientes fizeram a [aplicação da] primeira dose e, quando chegou o tempo, a segunda dose não estava disponível. Assim que chegar, pode fazer. Esperamos que semana que vem sejam distribuídas doses para que haja regularização nacional dessa 2ª dose", afirmou Queiroga.
Além das doses da CoronaVac, a pasta irá distribuir 5,2 milhões de doses do imunizante da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), produzido em parceria com o laboratório britânico AstraZeneca e a Universidade de Oxford.
Um milhão de doses da Pfizer
O primeiro lote com 1 milhão de doses do imunizante da empresa farmacêutica estadunidense Pfizer produzido em parceria com a alemã BioNTech chega ao Brasil nesta quinta-feira (20), da fábrica da Pfizer em Puurs, na Bélgica, para o Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (SP).
O recebimento faz parte de um contrato de compra feito pelo governo no dia 19 de março e que totaliza 100 milhões de doses até o final do terceiro trimestre de 2021.
Devido às demandas de logística e armazenamento do imunizante aos estados, em caixas com temperaturas entre -25°C e -15°C por 14 dias no máximo, o Ministério da Saúde anunciou que a distribuição ocorrerá já entre sexta-feira (30) e sábado (1º).
Ao chegarem às salas de vacinação, as doses devem ser mantidas a uma temperatura entre 2°C e 8°C e aplicadas em um período máximo de cinco dias.
Por essas demandas, o Ministério da Saúde está orientando a aplicação das doses somente nas capitais brasileiras e, se possível, em unidades de saúde com câmaras refrigeradas cadastradas na Anvisa.
O imunizante da Pfizer, que foi o primeiro a obter registro sanitário definitivo pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ainda em fevereiro deste ano, será aplicado em duas doses, com um intervalo de 21 dias entre elas.
Em junho, o Brasil também espera receber 842.800 doses da vacina da Pfizer por meio do consórcio global de acesso a vacinas Covax Facility, consórcio da Organização Mundial da Saúde (OMS) que aglutina mais de 170 países e permite o acesso a uma cartela de imunizantes.
A quantidade representa nem 1% das 42,5 milhões de doses contratadas por meio da iniciativa. Vale lembrar que quase 2 milhões de doses da Pfizer, tanto da Covax Facility quanto da compra direta com a empresa estadunidense, são suficientes para vacinar apenas cerca de 1% da população.
Terceira dose da Pfizer?
Um dos fundadores do laboratório alemão BioNTech, Ugur Sahin, informou nesta quarta-feira (28), que a proteção estimulada pela vacina da Pfizer pode ser reduzida ao longo do tempo e, por isso, sugeriu a aplicação de uma terceira dose. À Associated Press, o cofundador afirmou que após seis meses da segunda dose, a proteção diminui de 95% para 91% aproximadamente.
Por isso, “precisamos de uma terceira injeção, para fazer com que a proteção da vacina seja novamente quase 100%”, depois de nove a 12 meses da primeira aplicação. E completou dizendo que “provavelmente será necessário obter outro reforço a cada ano ou talvez a cada 18 meses”.
Conexão Cuba-São Paulo
A secretária de Relações Internacionais do governo do prefeito Bruno Covas (PSDB), Marta Suplicy, informou, nesta quarta-feira (28), que a Prefeitura de São Paulo iniciou um diálogo com Cuba para negociar a compra do imunizante Soberana 2, a aposta do país contra o novo coronavírus.
"Estamos conversando, não está muito publicizado ainda, com Cuba. Vimos que Cuba, segundo a Opas [Organização Pan-Americana da Saúde] nos informou, a vacina deles sempre foi de excelência. Foram os primeiros que fizeram a vacina de hepatite, que foi apoiada pela OMS", afirmou a secretária, durante audiência da Comissão Extraordinária de Relações Internacionais da Câmara de São Paulo.
"Eles têm uma vacina que se chama Soberana 2 que está na fase três, e parece que é uma vacina de excelência. Mas não está finalizada ainda".
Suplicy ainda afirmou que, por ter alguns países já interessados na compra da vacina, como Venezuela, México e Jamaica, aprefeitura já se colocou na fila. “Já tem países interessados. Se você não entra na fila depois não tem mais. Então entramos na fila."
::Cuba começa a desenvolver quinta vacina contra a covid-19::
Também está nos planos da prefeitura paulistana a construção de uma fábrica da vacina Soberana 2 no município de São Paulo.
"Estamos conversando também, está nos primórdios mas recebi carta branca do prefeito, que é a gente trazer, e eles topam, uma fábrica dessa vacina para a cidade de São Paulo. Porque a gente então fabrica o insumo aqui e não fica mais na dependência. Não tem nenhuma ilusão de que essa história de vírus vai acabar."
O imunizante, no entanto, ainda precisa passar por testes e aprovação em Cuba e, depois, ser aprovado pela Anvisa, processo que pode demorar alguns meses.
"Vai depender ainda de um caminho. A Soberana 2 tem que ser testada lá ainda, tem que ter aprovação lá de fora, depois tem que ser testada pela Anvisa. Mas a gente já vai começando as conversas porque tudo isso demora muito", afirmou.
"Mas se a gente conseguir trazer a fábrica, ainda que demore, até chegar o final do mandato do Bruno é um legado legal que ele vai deixar para a cidade.”
A vacina cubana utiliza uma toxina do tétano somada à proteína humana pela qual o vírus invade as células. Assim, quando o Sars-CoV-2 tenta entrar na célula, a toxina conjugada cria uma reação no sistema de defesa do corpo que impede a infecção.
Pandemia e vacinação no Brasil
O Brasil registrou até às 18h desta quarta-feira (28) 3.163 mortes por covid-19 em um período de 24 horas, totalizando 398.185 vítimas fatais do vírus no país, de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).
Nas duas últimas semanas, o país alcançou certa estabilidade, mas em torno de números expressivamente elevados, acima de 3 mil mortes diárias.
Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), se os patamares se mantiverem nesses níveis, o Brasil pode alcançar mais 200 mil mortes até o fim do primeiro semestre deste ano.
Em boletim extraordinário divulgado nesta quarta-feira (28), a Fiocruz afirmou que “o quadro atual pode representar uma desaceleração da pandemia, com a formação de um novo patamar, como o ocorrido em meados de 2020, porém com números muito mais elevados de casos graves e óbitos, que revelam a intensa circulação do vírus no país”.
Em relação à quantidade de novos casos, no mesmo período, foram registrados 79.728 contaminações, totalizando 14.521.289 desde o início da pandemia. O número representa uma elevação na média móvel, a média dos últimos sete dias, que até então estava em 56.928.
O Brasil, segundo balanço do Our World In Data, está atrás apenas dos Estados Unidos (574.340 mortes), em números absolutos de óbitos. No entanto, o país da América do Norte avança mais rapidamente na imunização da população do que o Brasil, com 27% da população totalmente imunizada e 41% com a primeira dose aplicada.
De acordo com o último balanço do consórcio de veículos de imprensa, até às 20h desta quarta-feira, 30.740.811 pessoas receberam a primeira dose de vacina, o que representa 14,52% da população brasileira. Já a segunda dose foi aplicada em 14.621.694 pessoas (6,90% da população do país). No total, 45.362.505 doses foram aplicadas.
Edição: Leandro Melito