Em mais um dia de greve geral na Colômbia, esta terça-feira (4) inicia com novos protestos pelo país. Camponeses da região de Catatumbo, departamento de Norte de Santander, realizam bloqueios em rodovias contra o governo de Iván Duque. Na noite de segunda-feira (3), também ocorreram manifestações em diversas localidades, com forte repressão policial, como nas cidades de Cali, no Vale do Cauca, e em Bucaramanga, departamento de Santander.
#ParoNacional4M 🔥| Población campesina del Catatumbo inicia bloqueos en las vías (Cúcuta - Ocaña) y (Cúcuta- Tibú). En rechazo a las políticas de @IvanDuque como el decreto 380 del 2021, sobre el reinicio de aspersión aérea con glifosato #ElParoSigue pic.twitter.com/RahHSEb6Rm
— Colombia Informa (@Col_Informa) May 4, 2021
A greve iniciada no último 28 de abril, ainda que sob forte ataque das forças de segurança estatais, já conquista vitórias. O ministro da Fazenda colombiano, Alberto Carrasquilla, renunciou na segunda-feira (3), depois que Duque desistiu de seu projeto de reforma tributária e pediu ao Congresso que retirasse a proposta.
A derrubada da reforma tributária – que pretendia aumentar em 19% impostos sobre serviços públicos, como gás e energia – é uma das pautas da jornada de protestos. A lista de reivindicações ainda inclui a retirada do “pacotaço” – que prevê mudanças e reformas nas leis do trabalho, na área da saúde e da previdência social –, o fim da violência policial contra líderes sociais e defensores de direitos humanos, além de uma série de exigências em diversas áreas sociais.
Violência desmedida
A cifra de mortos e feridos ao longo dos sete dias de jornada de protestos ainda é imprecisa. Organizações de direitos humanos relatam que foram ao menos 21 pessoas assassinadas por violência policial, já a Defensoria do Povo (órgão estatal) indica 19 vítimas fatais, sendo 18 civis e um policial. Os dados foram divulgados no domingo (2).
Contudo, novas denúncias de mortos e feridos não param de surgir. Segundo a Human Rights International, um massacre perpetrado pela polícia ocorreu na noite de segunda (3) no bairro popular de Siloé, em Cali. A ONG vem investigando as mortes de 6 pessoas, entre elas um menino de 11 anos, além de 18 feridos, incluindo uma criança de 7 anos.
#Colombia 🇨🇴#AEstaHora Estamos Verificando las informaciones que nos llegan desde el sector de Siloé en CALI, la cifra de: 6 muertos (un niño de 11 años con armas de fuego) - 18 heridos ( entre ellos un niño de 7 años que se encuentra grave).#CaliResiste #ParoNacional
— Human Rights Internacional 🕊 (@HRI_ONG) May 4, 2021
Organizações de direitos humanos também denunciam a ação policial contra as missões independentes de verificação de casos de violência em Cali. De acordo com as entidades, um grupo de direitos humanos foi agredido física e verbalmente, além de serem alvos de disparos por parte de policiais de Cali, na noite dessa segunda (3).
#URGENTE 🆘🇨🇴 Anoche en Cali la @PoliciaColombia disparó sus armas y agredió a Misión de Verificación integrada por @Reddhfic, @CSPP, @DefenderLiberta, @cutvalledelcau, @DefensoriaCol que se encontraban en Misión de verificación con @ONUHumanRights y @PGN_COL #ParoNacional 🧵⬇️ pic.twitter.com/u4xwyvH60O
— Campaña Defender la libertad (@DefenderLiberta) May 4, 2021
"Nenhuma pessoa está a salvo de ser agredida pelas autoridades", diz Alejandro Lanz, co-diretor da ONG Temblores, em entrevista ao jornal El Espectador. Ele ainda adverte que o registro das entidades independentes não cobre a extensão da gravidade das violações dos direitos humanos no país.
Segundo levantamento da ONG Temblores, entre 28 de abril e 1 de maio, foram registrados 940 casos de violência policial, 92 vítimas de violência física, 21 mortos e 672 detenções arbitrárias.
Novo protesto massivo convocado
O Comitê Nacional de Greve na Colômbia convocou uma grande mobilização para a próxima quarta-feira (5). Em nota, as organizações sindicais e populares comemoram a conquista da pauta de retirada da reforma tributária e o apoio da sociedade à jornada de manifestações, mas também lamentam as ações de cerceamento de liberdade e repressão promovidas pelo Estado colombiano.
“Isto acontece após seis dias de greve nacional em que autoridades civis, militares e policiais têm diariamente cerceado as liberdades e garantias democráticas para o exercício de protestos sociais, deixando dezenas de pessoas mortas, centenas feridas e detidas”, assinalam no texto.
#APararParaAvanzar
— Central Unitaria de Trabajadores #ParoNacional5M (@cutcolombia) May 3, 2021
Gran jornada nacional en el marco del #ParoNacional 🚶♀️🚶🚶♂️
Por paz, vida, democracia y contra el nuevo paquetazo de Duque.
📆 Miércoles 5 de Mayo 2021
📌 En todos los municipios y ciudades del país. Con todas las medidas de bioseguridad. pic.twitter.com/GVk9w8aDk1
Entre as pautas apresentadas para a jornada de quarta, estão “garantias e liberdades democráticas, garantias constitucionais para mobilização e protesto”, junto à “desmilitarização das cidades, fim dos massacres e punição para os responsáveis” e fim do Esquadrão Móvel Antidistúrbios da Polícia (Esmad), principal força de segurança pública utilizada contra protestos populares e que faz uso de extrema violência.
Na lista de pautas, está que o governo monte um grupo de negociação com o comando de greve para debater propostas e implementar medidas de saúde - como a vacinação massiva da população contra a covid-19; renda básica de pelo menos um salário mínimo mensal; defesa da produção nacional (agrícola, industrial, artesanal, camponesa); subsídios às pequenas empresas e garantias de emprego com direitos; entre outras.
Também estão na agenda pautas dos movimentos camponeses, como a proibição da pulverização aérea com o agrotóxico glifosato.
Edição: Vivian Fernandes