A médica Anja W., de 35 anos, está na 25ª semana de gravidez e gostaria de ser vacinada contra a covid-19, mas para isso depende de que as autoridades sanitárias alemãs emitam uma recomendação clara de vacinação para gestantes. "Acompanho de perto o que já é recomendado em outros países. Nos EUA, as grávidas são vacinadas há meses", ressalta.
Além dos EUA, governos de vários outros países, como Reino Unido, Israel e Bélgica já se manifestaram a favor da vacinação para gestantes e até de forma prioritária.
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Esse também é o caso do Brasil, onde Ministério da Saúde emitiu no final de abril uma nota técnica orientando que todas as grávidas e puérperas (mulheres no período pós-parto) sejam colocadas no grupo prioritário para receber a vacina contra a covid-19. Em 15 de março, o governo já tinha incluído as gestantes com comorbidades.
Na Alemanha, entretanto, a Comissão Permanente de Vacinação (Stiko, na sigla em alemão) ainda não emitiu uma recomendação sobre vacinação para grávidas e puérperas.
Pressão de obstetras
É por isso que médicos intensivistas e as sociedades de ginecologia alemã começam a fazer pressão, argumentando que gestantes têm um risco significativamente maior de desenvolver um quadro grave de infecção por coronavírus e que agora existem dados confiáveis o suficiente sobre a segurança das vacinas de mRNA (como é o caso dos imunizantes da Pfizer-Biontech e da Moderna).
Stefan Kluge, diretor da Clínica Universitária Hamburg-Eppendorf (UKE), concorda, lembrando que cada vez mais grávidas com covid-19 precisam ser tratadas em unidades de terapia intensiva. Segundo o especialista, só nas últimas duas semanas, houve cinco casos desse tipo na UKE. "Esses casos são particularmente dramáticos. Definitivamente, deveríamos vacinar gestantes na Alemanha", diz.
Hesitação por falta de dados
A Stiko, vinculada ao Instituto Robert Koch (RKI), agência governamental alemã para o controle e prevenção de doenças, só emitiu no mês passado uma recomendação para vacinação de grávidas com comorbidades e, mesmo assim, "em casos individuais, após avaliação de risco-benefício e após amplo esclarecimento médico".
A Stiko avalia que faltam dados técnicos para uma recomendação de vacinação de grávidas, já que elas geralmente são excluídas da participação em estudos clínicos. A Stiko não se diz contra a vacinação de grávidas ou puérperas em geral, mas simplesmente não a recomenda.
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Sabe-se desde setembro passado que as grávidas realmente pertencem ao "grupo de alto risco", devido a um estudo publicado na revista médica British Medical Journal, compilando dados de mais de 190 estudos sobre o assunto, realizados com quase 68 mil mulheres.
Risco em dobro
O estudo indicou que a infecção em grávidas tem cinco vezes mais probabilidade de ser livre de sintomas, mas que há um risco mais de duas vezes maior em gestantes de que elas tenham que receber tratamento médico intensivo e ventilação artificial após uma infecção. O risco de morrer de covid-19 também é muito alto entre grávidas, com 2 em 10 mil casos de infecção.
Doenças preexistentes, como diabetes ou obesidade, e uma idade acima de 35 anos aumentam ainda mais o risco. Em média, grávidas correm tanto risco quanto o grupo de 70 a 84 anos.
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Anja W. diz que, como médica e mãe, está exposta a grandes riscos. "Estou passando por esta gravidez com mais preocupação do que minha primeira gravidez. Eu continuo a trabalhar no hospital, fazendo o melhor que posso para me proteger de uma infecção", afirma.
Em vista da experiência positiva de outros países com a vacinação para gestantes e o alto risco conhecido de um curso grave após uma infecção pelo coronavírus, as sociedades ginecológicas especializadas defendem a vacinação de grávidas o mais rápido possível.
Elas citam as autoridades sanitárias dos EUA. Segundo o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês), não há indícios de complicações na vacinação de grávidas. Também não há preocupações com relação à formação de anticorpos e à tolerabilidade.
Até agora, no entanto, as gestantes não pertencem aos grupos prioritários para a vacina na Alemanha, e muitas gestantes que desejam ser vacinadas não o são porque os médicos evitam assumir quaisquer riscos.