O presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou que há a possibilidade de atraso na entrega de insumo farmacêutico ativo (IFA) da China, para a produção do imunizante CoronaVac, e responsabilizou o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) pelo possível cenário.
Em coletiva de imprensa nesta quinta-feira-feira (6), Covas afirmou que o atraso não está relacionado à produção de insumo por parte do laboratório chinês Sinovac, mas à demora na autorização de exportação pelo governo chinês, o que pode envolver, portanto, fatores geopolíticos.
Na última quarta-feira (5), Bolsonaro relacionou o novo coronavírus, que surgiu primeiramente em Wuhan, na China, a uma possível “guerra bacteriológica”. "É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou nasceu por algum ser humano ingerir um animal inadequado. Mas está aí. Os militares sabem o que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra? Qual o país que mais cresceu o seu PIB? Não vou dizer para vocês", declarou o presidente. Na mesma linha, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a covid-19 foi criada no país asiático.
Nesta quinta, o Butantan suspendeu o envase do imunizante justamente por escassez de IFA pela segunda vez. Dimas Covas atribuiu o atraso no recebimento do insumo à “falta de alinhamento” do governo federal. "Espero que o ministro das relações exteriores cumpra seu papel e atue o mais breve possível e com êxito para que tenhamos a liberação desses insumos em Pequim para que o Instituto Butantan possa retomar a produção da vacina aqui em São Paulo", afirmou Covas.
No dia 6 de maio, o Butantan solicitou ao laboratório Sinovac 6 mil litros de IFA para produzir 10 milhões de doses. Mas cerca de 3 mil litros desse montante estava previsto para ser entregue ainda em abril. Nos próximos dias, apenas 2 mil litros devem chegar a São Paulo. Segundo Covas, as rusgas surgiram "por sucessivas declarações desastrosas do ministro da economia, Paulo Guedes, e agora do presidente da república, Jair Bolsonaro".
Diante do quadro, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que "isso causa profundo mal-estar na chancelaria chinesa”. Também fez questão de registrar como governador de São Paulo seu protesto: "essas manifestações agressivas e desnecessárias ao governo da China, à produção das vacinas e a colocações não contribuem à normalidade da entrega de IFA para vacinas. Tenho certeza que isso tem influência nos insumos da AstraZeneca".
Em Porto Alegre (RS), parte da população que precisa tomar a segunda dose da CoronaVac perdeu a viagem ao se dirigir aos postos de saúde, na nesta-feira (6), uma vez que faltam vacinas.
O mesmo problema foi registrado em Belo Horizonte (MG). Em outras capitais do país, falta vacina até mesmo para a primeira dose, como Aracaju (SE), Campo Grande (MS), Maceió (AL), Natal (RN), Porto Velho (RO), Salvador (BA), Recife (PE) e Teresina (PI).
Vacinação em massa em Botucatu
O município de Botucatu (SP) quer identificar como o novo coronavírus se comporta a partir do momento em que toda a população adulta é vacinada. O objetivo é descobrir se as variantes brasileiras são passíveis de proteção pelo imunizante produzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com o laboratório britânico AstraZeneca e a Universidade de Oxford.
Para isso, o município vai realizar um estudo de sequenciamento genético do novo coronavírus nos moradores infectados, depois de fazer a vacinação em massa. Isso porque o sequenciamento genético possui toda a informação genética do vírus e, por isso, possibilita a identificação de variantes. Assim, depois que toda a população adulta for vacinada, as amostras de testes positivos que surgirem passarão pela leitura do material genético.
Segundo o coordenador da pesquisa, Carlos Magno Fortaleza, “o sequenciamento do material genético é o que vai permitir saber quais as variantes do vírus que estão circulando e, após a vacinação, vamos poder comparar como essas variantes continuarão a circular em Botucatu em relação às áreas não vacinadas".
“É verdade que novas variantes podem surgir e se surgirem ao longo do estudo, poderemos saber por meio do sequenciamento genético se as vacinas são eficazes também contra essas novas variantes”, afirmou Fortaleza ao G1.
Pfizer 20% mais cara
O governo de Jair Bolsonaro está estudando realizar uma compra de 100 milhões de doses do imunizante da Pfizer a US$ 12 a unidade, ou R$ 63. O preço é 20% mais caro do que o negociado no primeiro contrato, quando também foram compradas 100 milhões de doses. No total, a compra da nova oferta equivale a R$ 6,6 bilhões, cerca de R$ 1 bilhão a mais.
As informações são de uma nota técnica assinada por Laurício Cruz, diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis da pasta, e obtida pelo Estadão. No documento, Cruz recomenda a compra das doses, mas também a negociação do preço, uma vez que está acima do anterior.
Uma reportagem do The New York Times mostra que a venda de imunizantes contra a covid-19 rendeu US$ 3,5 bilhões à Pfizer no 1º trimestre deste ano.
Nesta quinta-feira (6), o presidente da Pfizer, Albert Bourla, afirmou em entrevista à AP que a empresa “não é nada” a favor da quebra de patentes, depois que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que apoiaria a quebra.
Sputnik Light
A Rússia anunciou o registro de um novo imunizante contra a covid-19, desta vez de dose única: a Sputnik Light, desenvolvida pelo Centro Nacional de Pesquisa de Epidemiologia e Microbiologia Gamaleya e pelo Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF).
Segundo as autoridades russas, a vacina tem uma eficácia de 79,4% na prevenção da doença. O estudo mostrou que a incidência da doença entre os infectados foi de apenas 0,277%. Também demonstrou que o imunizante é eficaz contra novas cepas.
Assim como a Sputnik V, a Sputnik Light utiliza a tecnologia de vetor viral: um outro vírus, denominado cientificamente como adenovírus, carrega o material genético do Sars-CoV-2 para dentro do corpo humano, o que estimula a infecção de células humanas, e consequentemente de anticorpos, mas sem a reprodução do vírus. Por isso, não causa doença.
Pandemia e vacinação do Brasil
Dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), mostram que o Brasil registrou até às 18h desta quinta-feira (6) 2.550 mortes por covid-19 em 24 horas, totalizando 416.949 óbitos desde o início da pandemia. Em relação ao número de novos casos no mesmo período, foram 73.380 ocorrências. Com isso, o país ultrapassou a marca de 15 milhões de casos, com 15.003.563 pessoas contaminadas.
Do outro lado, até às 20h desta quinta, 34.220.432 pessoas receberam a primeira dose de vacina contra a covid-19, o que representa 16,16% da população brasileira. Já a segunda dose foi aplicada em 17.335.070 pessoas (8,19% da população). No total, foram aplicadas 51.555.502 doses, segundo o último balanço do consórcio de veículos de imprensa.
Edição: Vivian Virissimo