O ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo trabalhou para que fosse garantido ao país o fornecimento de cloroquina para tratamento da covid-19. Isso mesmo depois de a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter interrompido os testes com o medicamento, quando ficou claro que ele não era eficaz para o enfrentamento da doença.
Reportagem da jornalista Patrícia Campos Mello publicada na Folha de S. Paulo neste domingo (9) obteve telegramas diplomáticos que mostram o empenho de Ernesto Araújo com o medicamento ineficaz. Araújo prestará depoimento na quinta-feira (13) na CPI da Covid, cujos trabalhos da primeira semana mostraram que o governo de Jair Bolsonaro tem insistido na adoção da cloroquina e outros remédios sem eficácia, como a ivermectina, para o tratamento da doença.
“A corrida do Itamaraty atrás da cloroquina começou pouco depois de o presidente Jair Bolsonaro falar em ‘possível cura para a doença’ em suas redes sociais, em 21 de março do ano passado”, afirma a reportagem da Folha.
“Hospital Albert Einstein e a possível cura dos pacientes com covid-19. Agora há pouco os profissionais do hospital Albert Einstein me informaram que iniciaram um protocolo de pesquisa para avaliar a eficácia da cloroquina nos pacientes com covid-19”, escreveu Bolsonaro.
"Testes bem-sucedidos"
Segundo o conteúdo dos telegramas obtidos pelo jornal, “um dia antes, a Prevent Senior e o hospital Albert Einstein haviam anunciado que tinham iniciado estudos com o medicamento. Em declaração durante reunião do G-20, em 26 de março, relatada em telegrama, Bolsonaro apontou para ‘testes bem-sucedidos, em hospitais brasileiros, com a utilização de hidroxicloroquina no tratamento de pacientes infectados pela Covid-19, com a possibilidade de cooperação sobre a experiência brasileira’”.
No mesmo dia, mesmo não existindo nenhum “teste bem-sucedido” em hospitais brasileiros, o ministério das Relações Exteriores pediu, em telegrama, que os diplomatas tentassem “sensibilizar o governo indiano para a urgência da liberação da exportação dos bens encomendados pelas empresas antes referidas [EMS, Eurofarma, Biolab e Apsen] e outras que se encontrem em igual condição, cujo desabastecimento no Brasil teria impactos muito negativos no sistema nacional de saúde”. Na época, o governo indiano havia restringido a exportação da cloroquina.