O flocão nasce na terra. São muitas mãos, muitas famílias
Você conhece o Cuscuz da Paixão? Antes da primeira colherada, vale o passeio por uma história cheia de sentimentos de luta e organização camponesa.
O Flocão da Paixão foi lançado em maio de 2021 e cada saco de meio quilo compartilha um pouco das muitas sabedorias de quem convive com o semiárido paraibano.
Por que "da Paixão"?
O batismo da Paixão simbolizada em cada embalagem é do ano de 1998, quando o agricultor Cassimiro Caetano Soares, conhecido como Seu Dodô, participou do Encontro Estadual para a convivência com o Semiárido.
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Eusébio Cavalcante, camponês e presidente do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do município de Remígio (PB), lembra o episódio.
Na época, as famílias agricultoras exigiam sementes crioulas aos poderes públicos, que insistiam na distribuição de sementes produzidas em laboratórios. Ou seja, sementes transgênicas.
“Quando a gente foi fazer o primeiro encontro estadual da semente crioula, seu Dodô, lá do Sertão [da Paríba] disse: ‘o governo pode distribuir a semente que ele quiser, mas eu tenho paixão pela minha semente’. A partir daquela declaração de amor do Seu Dodô, todas as pessoas começaram a fazer declaração de amor de sua semente. E aqui na Paraíba a gente diz que a nossa semente é a nossa paixão. Por isso que é a Semente da Paixão. Ela nasceu no meio da luta, no meio da paixão que a gente sente quando as políticas públicas querem negar a existência e a gente prova que ela é boa e garantida”, lembra.
Paixão e luta
A defesa das Sementes Paixão está enraizada no sentimento de autonomia e maior adaptação das espécies crioulas ao clima semiárido, sem a necessidade de utilização de insumos químicos, como os agrotóxicos, por exemplo.
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A luta pelas Sementes da Paixão se estende por todo o estado da Paraíba, alinhado a diversos processos e desenvolvimentos de experiências agroecológicas, como a criação de feiras, quitandas, organizações e redes formadas pelo povo do campo.
São mais de vinte anos de lutas populares antes do surgimento do Flocão da Paixão, como lembra Eusébio.
“O lançamento do Flocão da Paixão pra gente é uma grande vitória porque estamos desde 1993 construindo a identidade de agroecologia aqui na nossa região. Sabemos que muitos camponeses já trabalhavam de forma agroecológica. Porém, o conhecimento diretamente só começou quando identificamos muitos problemas da invasão do agronegócio na nossa região, da indústria”, destaca.
Perseverança
São várias formas de resistência registradas no Flocão da Paixão. Além das disputas por políticas públicas adequadas, as famílias camponesas utilizam a coletividade para proteger seus patrimônios genéticos. Um exemplo é a testagem contra contaminação transgênica nas plantações.
Para se ter uma ideia, o próprio vento poderia causar danos irreversíveis ao misturar os pólens nas plantações entre comunidades vizinhas.
Enquanto redes e coletivos, a exemplo da Articulação Semiárido Paraibano (ASA Paraíba), as Sementes da Paixão - incluindo o milho do Flocão - são testadas para a certificação. Além disso, são geralmente compartilhadas, favorecendo a solidariedade e preservação das espécies crioulas.
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Então, cada colherada do Cuscuz da Paixão deve ser saboreada e nutrida por um contexto muito amplo que apenas saciar a fome, como lembra Eusébio.
“O flocão nasce na terra. São muitas mãos, muitas famílias. Comprar o flocão significa apoiar a nossa luta contra os transgênicos e agrotóxicos, fortalecendo a identidade de camponeses e camponesas e das pessoas que buscam um alimento saudável”, defende.
Locais de venda
De acordo com a AS-PTA, a primeira remessa do Flocão da Paixão está sendo produzida com 7,2 toneladas de milho colhidos dos roçados da Borborema paraibana em 2020. Cerca de 5,4 toneladas vão ser transformadas em farelo de milho e quantidade igual vai virar fubá e xerém.
Confira onde vai ser vendido o Flocão da Paixão:
Território da Borborema e Campina Grande (PB)
Feira Agroecológica do Museu do Algodão – Campina Grande
Todas as quartas | a partir das 4h
No Museu do Algodão, na Estação Velha
Feira Agroecológica do Catolé – Campina Grande
Todas as sextas | a partir das 6h
Em frente ao Du Bu, Catolé
Feira Agroecológica de Esperança
Todas as sextas | a partir das 6h
Avenida Manuel Cabral (próximo à Padaria Cabral)
Feira Agroecológica de Lagoa Seca
Todos os sábados | a partir das 6h
Ao lado do Mercado Municipal
Feira Agroecológica de Alagoa Nova
Todos os sábados | a partir das 6h
Ao lado da Câmara Municipal
Feira Agroecológica de Remígio
Todas as sextas | a partir das 6h
Rua da Prefeitura
Feira Agroecológica de Casserengue
Todas as quintas | a partir das 6h
Praça 29 de abril
Feira Agroecológica de Areial
Todas as sextas | a partir das 6h
Praça Central
Feira Agroecológica Massaranduba
Todas as sextas | a partir das 6h
Em frente ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais
Feira Agroecológica de Arara
Todas as sextas | a partir das 6h
Ao lado da Igreja Matriz
Feira Agroecológica de Solânea
Todas as sextas | a partir das 6h
Em frente ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais
Quitanda da Borborema de Remígio
Rua Bento Vitório, 11 – Centro
De segunda à sábado, de 8h às 12h
Contato: 83 81802637
Quitanda da Borborema de Arara
Rua Padre Ibiapina s/n – Centro
De segunda à sexta, de 8h às 11h e aos Sábados de 8h as 9:30h
Contato: 83 986751771
Quitanda da Borborema de Solânea
Rua Josefa Crispim, 50 – Centro
De segunda à sábado, de 7h às 11h
Contato: 83 93698804
Quitanda da Borborema de Esperança
Praça da Igreja Matriz (Dentro do Sindicato Rural) – Centro
De segunda à sexta, de 7h às 11h
Contato: 83 33612298
Quitanda da Borborema de Queimadas
Rua Otaviano Araújo do Rêgo, 20 (Dentro do Sindicato Rural) – Conjunto Mariz
De segunda à sexta, de 7h às 12h
Contato: 83 93675387
João Pessoa (PB)
Rede de feiras ligadas à CPT (Comissão Pastoral da Terra) e na Ecovaza, cooperativa ligada também à CPT
Empórios
Recife (PE)
Agroecoloja
Armazém do Campo (MST)
Paulista (PE)
Quitanda Agroecológica
Edição: Morillo Carvalho