Acredito que o estilo reggae é o nosso grito de liberdade
Na fala, nas roupas, na dança. Em cada detalhe, o reggae está presente na vida dos maranhenses, sendo parte inseparável da identidade local. Por lá, o ritmo tem grande impacto em diferentes setores da sociedade. É o que explica Ademar Danilo, jornalista e diretor do museu do reggae no Maranhão.
“O reggae chegou se aliando às manifestações culturais genuinamente maranhenses como o bumba meu boi, o tambor de crioula. O segundo impacto é o turístico: há pesquisas que indicam que a primeira coisa mais conhecida do Maranhão fora do Maranhão são os lençóis maranhenses. E, em segundo lugar, é o reggae do Maranhão. E o terceiro impacto é econômico. São milhares e milhares de famílias que sobrevivem através da cadeia produtiva do reggae”, afirma.
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O ritmo nasceu na Jamaica no final da década de 60, e chegou ao maranhão por volta de 1971. Depois, ele foi apropriado pelos maranhenses e evoluiu de maneira diferente do país de origem. Ademar conta que, hoje, o que se ouve no Maranhão é o reggae roots, ou reggae de raiz.
O diretor do museu do Reggae também destaca a forma divertida com que os maranhenses se integraram ao ritmo, superando até mesmo as barreiras da linguagem.
"Aqui existe uma expressão chamada 'melô'. Por ser em outra língua, como é que o maranhense iria pedir a sua música favorita? Então o povo começou a apelidar as músicas. Por exemplo, existe uma música chamada white witch, um dos maiores sucessos de reggae aqui do Maranhão, de todos os tempos. E aí, no refrão, a cantora diz assim 'white witch is gonna get you', ou, a bruxa branca vai te pegar. Ela soa assim: ‘white witch gonna get ya’, ‘white witch gonna get ya’(sic). Aí o maranhense canta 'olha o caranguejo, olha o caranguejo'. Virou o melô do caranguejo, conta Ademar, aos risos.
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Agarradinho
O reggae do Maranhão tem um elemento próprio, que não se vê em nenhum outro lugar do mundo. É a dança a dois, ou agarradinho, com eles gostam de dizer.
A tracista Alessandra Vieira aprendeu a dançar ainda criança, com sua família. Hoje, ela é ativista pela valorização e divulgação da cultura ‘regueira’ no Estado.
“O reggae ainda é considerado algo marginalizado, igual ao funk no Brasil. Mas a gente foi muito resistente. Teve amigos meus - eu sou uma mulher de 34 anos mas eu tenho uma relação com pessoas mais velhas - que chegaram a apanhar da polícia militar”.
Alessandra destaca que, apesar de ainda existir preconceito, o cenário atual é mais positivo, com o aumento de políticas públicas para reconhecimento do reggae como manifestação cultural legítima do Maranhão. O ritmo segue vivo e cada vez mais fortalecido por novas gerações de maranhenses.
“Você vai pra um local onde vai relaxar, sentir positividade, olhar pessoas que passaram o dia exaustas mas querem dançar, querem se libertar, querem pular, querem gritar. porque eu acredito que a música reggae é o nosso grito de liberdade. de todas as espécies. de todas as cores, de todas as raças”, diz.
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Turistas e maranhenses podem mergulhar nessa história no Museu do Reggae no Maranhão, o único dedicado ao ritmo fora da Jamaica. Desde a abertura, em 2018, o museu já recebeu mais de 120 mil visitantes.
Além disso, a dança reggae ao estilo maranhense, “agarradinho”, poderá ser tombada como patrimônio cultural imaterial.
A proposta foi registrada na Secretaria de Cultura do estado no último dia 11 de maio, Dia Nacional do Reggae, e será encaminhada ao governador Flávio Dino (PCdoB).
Edição: Douglas Matos