A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) suspendeu a produção da vacina desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford, do Reino Unido, e o laboratório britânico AstraZeneca, nesta quinta-feira (20), devido à falta de Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA). Com isso, neste momento, não há imunizante contra a covid-19 em produção no país, uma vez que o Instituto Butantan já havia paralisado suas atividades, no dia 14 de maio, pelo mesmo motivo. A vacina da Pfizer é importada dos Estados Unidos.
A expectativa é de receber mais insumos da China, onde é produzido pelo laboratório Wuxi Biologics, neste sábado (22) e no próximo (29), com a possibilidade de retomar a produção a partir da próxima terça-feira (25). A quantidade será suficiente para produzir 12 milhões de doses da AstraZeneca, garantindo entregas ao Sistema Único de Saúde (SUS) até a terceira semana de junho.
::Quais são as diferenças entre as vacinas? E por que não se deve misturar as doses?::
De acordo com a fundação, ainda não é certo que o atraso irá impactar as entregas futuras. "Não há ainda previsão de que a interrupção temporária possa impactar entregas futuras. Caso haja impacto, isso será avaliado e comunicado mais à frente", informou a fundação em comunicado publicado na Agência Fiocruz de Notícias.
Nesta sexta-feira (21), a Fiocruz deve entregar um último lote com 5,3 milhões de doses, totalizando pouco mais de 40 milhões de doses entregues ao Programa Nacional de Imunização (PNI), do Ministério da Saúde: 36,2 milhões de doses produzidas em Bio-Manguinhos e 4 milhões importadas da Índia, onde foram produzidas pelo Instituto Serum.
IFA da CoronaVac liberado
Suspensa desde o dia 14 de maio, a produção da CoronaVac, do Instituto Butantan em parceria com o laboratório Sinovac, deve ser retomada em breve. Nas redes sociais, o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, confirmou que o governo chinês liberou um novo lote de IFA ao Butantan.
“Informei a liberação dos novos lotes de IFA para produzir no total 16,6 milhões de doses da CoronaVac e vacina AstraZeneca, que chegarão no Brasil nos próximos dias. A China, fraterna com o povo brasileiro, está comprometida em parceria de vacinas”, escreveu Wanming no Twitter.
Anteriormente, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o diretor do Butantan, Dimas Covas, relacionaram o atraso do recebimento de IFA à falta de alinhamento do governo de Jair Bolsonaro, e não à produção do insumo. No início do mês, Bolsonaro relacionou o novo coronavírus, que surgiu primeiramente em Wuhan, na China, a uma possível “guerra bacteriológica”.
"É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou nasceu por algum ser humano ingerir um animal inadequado. Mas está aí. Os militares sabem o que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra? Qual o país que mais cresceu o seu PIB? Não vou dizer para vocês", declarou o presidente.
E a Sputnik V?
A União Química Farmacêutica, responsável pela produção da Sputnik V, solicitou a desistência do processo de desenvolvimento clínico do imunizante no Brasil. O pedido ocorreu após o vencimento do prazo de 120 dias dado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que a empresa atendesse às solicitações exigidas.
“O laboratório não respondeu o pedido de exigência feito pela Anvisa para a apresentação do protocolo clínico de pesquisa da vacina Sputnik V no Brasil e optou pelo pedido de desistência”, diz a nota. O pedido de desistência foi publicado na edição do Diário Oficial da União (DOU) da última quarta-feira (19).
A desistência, no entanto, se refere apenas ao desenvolvimento de testes clínicos no Brasil e não impacta, em nada, as solicitações de uso emergencial.
Nesta quinta, a União Química, que fica em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, terminou a fabricação do primeiro lote da vacina Sputnik V em território brasileiro, com insumos e tecnologia fornecidos pela Rússia. As doses, no entanto, serão exportadas para países vizinhos na América do Sul, como Paraguai, Argentina e Uruguai, uma vez que a Anvisa ainda não aprovou o uso emergencial do imunizante.
Segundo Fernando Marques, executivo-chefe da empresa, afirmou à Reuters a empresa tem condições de entregar 8 milhões de doses por mês aos brasileiros, assim que o pedido de uso emergencial for aceito.
Vacinação e pandemia no Brasil
Até às 20h desta quinta-feira (19), 41.097.928 de pessoas receberam a primeira dose de imunizante, segundo o consórcio de veículos de imprensa. O número representa 19,41%, um aumento de 0,35% em relação à quarta-feira. Já a segunda dose foi aplicada em 20.208.975 pessoas: 9,54% da população, um crescimento de 0,14%. No total, foram aplicadas 60.274.649 doses.
Entre os 26 países que já vacinaram mais de 5 milhões de pessoas com duas doses de imunizante contra o novo coronavírus e que mais aplicam por dia doses de vacina a cada 100 pessoas, o Brasil está em 20º lugar, de acordo com a plataforma Our World In Data. Porém, dentre os mesmos 26 países, aqueles que mais registram mortes por covid-19 diariamente, a cada um milhão de pessoas, o Brasil sobe para 5º lugar.
Segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), o Brasil chegou a 444.094 vítimas fatais da infecção causada pelo novo coronavírus desde o início da pandemia, após registrar, até às 18h desta quinta, 2.403 óbitos em 24 horas. No mesmo período, foram 72.039 novos casos de covid-19, totalizando 15.894.094 desde março do ano passado.
Edição: Rebeca Cavalcante