Por Jaldes Meneses*
FHC tem 90 anos e exibe aparência de excelente forma física e intelectual. Acabou de lançar no mercado um livro de memórias, que encomendei e ainda não recebi. Conheço razoavelmente bem sua trajetória e já estudei seus livros. Foi discípulo de Florestan Fernandes, seguindo caminhos políticos muito distintos do mestre.
No Chile, em 1965, um ano após o golpe militar, contribuiu criticamente na elucidação das limitações políticas do projeto da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), focado no otimismo da frente ampla, consignado no binômio virtuoso “reforma agrária e industrialização” - de que a Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) de Celso Furtado é o exemplo maior e ainda pouco compreendido (por incrível que pareça).
É verdade que, pouco depois, virou o Papai Noel do desenvolvimento-associado. Apesar de tudo e de todas as críticas que lhe foram feitas - inclusive por mim - havia no diagnóstico de FHC a clareza de que a nossa revolução burguesa foi finalizada pela ditadura militar, um encaminhamento político originalíssimo.
::Encontro de Lula e FHC: para além da simbologia::
Pouco antes de receber a faixa presidencial, FHC pronunciou o célebre discurso no Senado, em dezembro de 1993, em que proclamou o fim da “Era Vargas” - ou seja, a definitiva vitória do desenvolvimento associado em um “Estado de direito” liberal-democrático.
Estávamos no auge do “fim da história” de Fukuyama, e Clinton, de quem FHC se tornou amigo, era o presidente neoliberal dos Estados Unidos. Esse diagnóstico estratégico, de fundo, somado a um indiscutível pragmatismo tático, fez de FHC, mais que presidente, por anos a fio o conselheiro-mor da (decadente) burguesia paulista.
Tudo isso se desfez, a via vitoriosa da revolução burguesa no Brasil (nem clássica, nem prussiana) gerou, parafraseando o velho Chico de Oliveira, um ornitorrinco, um bicho esquisito que parou a evolução. O que fazer do que foi feito - fênix ou extinção? - são outros quinhentos e aí reside o fulcro da discórdia.
Com certeza tudo isso passa pela cabeça de FHC depois da repercussão do almoço com Lula. Estranho é que ninguém aborde o tema por essa embocadura.
*Professor Titular do Departamento de História da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
*Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Fonte: BdF Paraíba
Edição: Heloisa de Sousa