Notícias e opiniões se amontoavam quando fui dormir. Pazuello transgredira o regulamento. Atendera ao Presidente, desonrara a farda e irritara o Comando, reunido extraordinariamente.
Quatro integrantes da cúpula pretenderiam sua prisão. O general Paulo Sérgio teria dito que o mandaria para a reserva. Até comunistas, preocupados com a imagem da Corporação clamavam tal providência reparadora. A CPI o chamaria novamente para desmascarar suas mentiras... Noite animada.
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Acordei pensando ser útil alinhar pontos eventualmente obscurecidos no fragor do noticiário caudaloso. Vai que ajudem a refletir sobre os fatos...
1. O Presidente da República é produto castrense. Sem apoio das fileiras não chegaria onde chegou. Segundo a maior autoridade militar do país na ocasião, Villas-Bôas, Bolsonaro, ao lado de Moro e Braga Netto, tiraram o Brasil do mau caminho e abriram perspectiva alvissareira para a pátria.
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2. Alguns oficiais podem não gostar das atitudes de Bolsonaro, mas de longa data conheciam seu naipe moral, intelectual e comportamental. Bem poderia ter mais modos, mas isso seria querer demais.
3. O governo do Capitão é assegurado pelas fileiras; oficiais ocupam postos-chave do governo e endossam suas proposições, inclusive a política sanitária. Se oficiais abandonassem seus cargos, o governo poderia se acabar por déficit de responsabilidade.
4. Integrantes das fileiras foram beneficiados pelo Capitão, mas a lista de benefícios pretendidos não se esgota nunca. Fileiras são sempre assim: sempre querem mais!
5. Bolsonaro pode ser “renunciado” quando os comandantes quiserem. Ninguém sabe mais que Braga Netto das proezas do Capitão nas quebradas do Rio de Janeiro.
Registrados estes pontos de domínio público, mesmo que não consensuais, caberia considerar outros não tão perceptíveis aos paisanos.
Pazuello não é bobalhão impulsivo. Gente assim não ganha estrelas. Pazuello foi ao palanque de caso pensado e combinado. Ao longo da semana, recebera aplausos efusivos do ativismo político castrense por seu comportamento na CPI. Os de cima ficaram aliviados; os de baixo o aclamaram como herói.
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Pazuello não blindou Bolsonaro, isso seria uma quimera. Blindou, de fato, sua corporação. Mesmo envolvido no desmonte do Estado e no fiasco da política sanitária, o Exército ficou bem na fotografia da CPI. Senadoras e senadores foram pródigos com a farda.
Indo ou não para a reserva, Pazuello será protegido. Fileiras que se respeitam não abandonam os seus, quaisquer que sejam as circunstâncias. Seria fácil exemplificar a prática deste princípio básico do espírito corporativo, mas isso pode ficar para depois.
Na promoção hierárquica, Pazuello chegou onde podia chegar. Pelo regulamento, intendente não ganha quatro estrelas. Se for para a reserva, conforme o zum-zum-zum, sairá no lucro.
Punição não representa necessariamente uma derrota, como muitos pensam. Pode até impulsionar o trajeto do político castrense.
Vide Bolsonaro e Mourão. O primeiro não foi expulso do Exército (como dizem jornalistas desinformados) e receberia votos da família militar a vida toda. O segundo, destituído de um comando militar depois de uma manifestação fascista, projetou-se para vice-presidência. Hoje, o “punido” fica espreitando os píncaros da glória, diria o velho e maravilhoso Vicente Celestino.
Parece que o Comandante não sabia onde colocar Pazuello depois de seu afastamento do Ministério. Entretanto, jamais o deixaria na mão.
Ontem, as coisas ficaram mais fáceis para Paulo Sérgio. Pazuello iniciou sua campanha eleitoral, numa manifestação inspirada por Mussolini. Buzinas de motocicletas se misturavam ao choro de famílias enlutadas.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato
Edição: Rebeca Cavalcante