E explicou a ele o caminho mais longo possível para se chegar à casa do Vicentão
Numa pequena cidade de Minas Gerais, Pedro Uriel estava tranquilamente deitado na grama do jardim, descansando na hora do almoço, quando foi abordado por um desconhecido, atraído pelo seu macacão de mecânico:
— Sou de São Paulo, cheguei aqui agora mesmo e quebrou o cardan do meu carro, um Chevrolet 52. O senhor não sabe quem tem um pra vender aqui?
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Respondeu:
— O Vicentão tinha um Chevrolet 52, que bateu. Ele desmanchou o que sobrou do carro e estava vendendo as peças. Tinha um cardan, acho que ainda não vendeu. Olha, a casa dele é logo ali adiante. O senhor vai por aqui até o obelisco, vira à esquerda, depois à direita... — e explicou a ele o caminho mais longo possível para se chegar à casa do Vicentão.
O paulistano agradeceu e disse que ia falar com ele.
— Ah, tem uma coisa. É preciso gritar bem alto com ele, que é surdo de tudo, não escuta quase nada — completou.
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Logo que o sujeito se afastou, o Pedro foi correndo até a casa do Vicentão, pelo caminho mais curto. E falou:
— Ô, Vicente, tinha um homem de São Paulo aí querendo comprar um cardan de Chevrolet 52 e eu falei pra ele vir aqui, que eu sei que o senhor tem um pra vender. Tô passando pra te avisar porque o homem é surdo de tudo. Precisa gritar com ele, senão não escuta nada!
O Vicentão entrou em casa e o Pedro Uriel se escondeu no meio de uns pés de mamona do outro lado da rua, já acompanhado de uma turma de gozadores.
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Chegou o comprador, deu uns murros na porta e ficou esperando. O Vicentão foi atender, pensando que só podia ser o surdo, pra bater na porta com tanta força. Já atendeu gritando.
— O que o senhor quer?
— O senhor tem um cardan de Chevrolet 52 pra vender? — berrou o outro.
— Tenho sim — rugiu o Vicentão.
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E assim fizeram todo o negócio, um gritando com o outro, enquanto o Pedro e sua turma se contorciam para rir baixinho do outro lado. Feita a transação, já meio rouco, o dono do Chevrolet exclamou baixinho:
— Caramba, ô surdo desgraçado!
O Vicentão ouviu, claro, e xingou.
Só aí descobriram que nenhum dos dois era surdo. Mas quase ficaram com as gargalhadas do bando de gozadores que saiu detrás da moita.
Edição: Daniel Lamir