Indígenas Yanomami repudiaram a intenção de Jair Bolsonaro de viajar nesta quinta-feira (27) à comunidade Maturacá, no município de São Gabriel da Cachoeira (AM). A região fica próxima à fronteira com a Venezuela.
O anúncio foi feito pelo próprio presidente da República, em uma live transmitida no dia 29 de abril, e não foi confirmado oficialmente pelo Palácio do Planalto, que não havia divulgado a agenda presidencial da próxima quinta até a publicação desta reportagem.
Na live, Bolsonaro - defensor da regularização da atividade garimpeira em território indígena - disse que planeja visitar um pelotão de fronteira do Exército (PEF) que fica no limite da terra Indígena Yanomami, “para conversar com indígenas” e “aterrissar” em um garimpo ilegal (que fica dentro do território indígena). Jair Bolsonaro nunca visitou uma Terra Indígena.
Na mesma live em que Bolsonaro prometeu a visita ao Território Indígena, o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Xavier, defendeu legalizar o garimpo em área indígena.
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Em carta divulgada no último dia 15 de maio, os Yanomami dizem que a decisão de repudiar a visita presidencial é coletiva e legítima.
O documento, assinado pelo presidente da Ayrca (Associação Yanomami do Rio Cauaburis e Afluentes), José Mario Góes, pela presidente da Kumirayoma (associação de mulheres), Erica Figueiredo, e por outros quatro líderes locais, explica o posicionamento da comunidade.
“Nós, caciques, líderes e povos, habitantes originários milenar do território, comunidades Ariabú, Maturaca, Nazaré, Inambu, Cachoeirinha, Ayar, e Maiá novamente reiteramos nossa posição legítima em repudiar visita do presidente senhor Jair Messias Bolsonaro no nosso território Yanomami.” diz o documento.
Para os indígenas, a intenção da visita é "tratar e tentar acordar conosco a legalização de mineração no território Yanomami, portanto, essa não é a nossa ansiedade”.
“Ao contrário disso, exigimos que o governo deve implementar ações de fiscalização de forma contínua nos entornos, limites dos territórios indígenas já demarcados, registrados e homologados, para proteger os povos indígenas”, continuam.
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Para os Yanomami, o governo deveria retirar os invasores do território em caráter de urgência e garantir a saúde dos povos e da "Terra Mãe".
“Não aceitamos legalização de atividades mineradoras em nossas terras. Essa ação mineradora, entendemos, não trará benefício para nenhum de nós indígenas Yanomami, a fim de suprir necessidade essencial, ou seja, prioritária, tanto presente quanto futuro”, explicam, na carta escrita por eles em português. Veja a íntegra do documento abaixo.
O documento também exige que seja dada condições e recursos necessários para os Distritos Sanitários Especiais Indígenas (unidades de atendimento e saúde) que existem no Estado Brasileiro e atendem e prestam serviços às comunidades indígenas.
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Segundo os indígenas, por falta de assistência adequada, moradores de comunidades de difícil acesso não são assistidos pelo sistema de saúde instalado.
Na cultura Yanomami, não há decisão individual e, sim, coletiva. Dessa forma, os indígenas se manifestam coletivamente contra o anúncio de visita de Bolsonaro.
“Essa diferença de organização social e governança do território deve ser respeitada pelo governo. [...] Nós Yanomami, por estarmos insatisfeito da visita de locais de garimpo ilegal, novamente ratificamos posição de repudio. É legítima a posição Yanomami”, finaliza a carta.
Edição: Vinícius Segalla