Soberania de dados

Conheça o “Agroecologia em Rede”: uma plataforma interativa de saberes locais

A iniciativa cibernética teve origem na sistematização de experiências agroecológicas no agreste paraibano

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Plataforma conta realização e gestão da ANA (Articulação Nacional de Agroecologia) e ABA (Associação Brasileira de Agroecologia), além de cooperação da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). - Arte: AeR
Essa sensação de não estar só é uma grande potência do próprio Agroecologia em Rede

No início da década de 2000, a organização AS-PTA desenvolveu uma espécie de carrossel de troca de conhecimentos da agricultura familiar entre 14 municípios paraibanos. Os giros de saberes no território, conhecido como Polo da Borborema, passou a ser feito com intercâmbios e sistematização de experiências. 

A assessoria da organização passou a identificar desafios comuns na região, ao mesmo tempo de experiências exitosas que poderiam ajudar na elaboração de outros saberes entre as famílias do Polo da Borborema. Ou seja, não eram “receitas prontas” sobre agricultura, mas a elaboração de princípios e ideias coletivas que favorecem a convivência sustentável nos territórios.

Conheça o quadro: Momento Agroecológico

É assim, por exemplo, que foram elaborados boletins de sistematização de experiências sobre diversos temas como uso racional da água, criação sustentável de animais, preservação de sementes crioulas e produção de alimentos saudáveis, entre outros. 

Expansão

Ao mesmo tempo, Adriana Galvão, assessora técnica da AS-PTA, lembra que o processo cresceu e precisou dar passos para além da rede constituída pelo Polo da Borborema. 

“A gente passou a ter um conjunto grande de boletins sistematizados que tinha um significado profundo para dentro da rede. E a gente passou, diante daquela coleção de boletins, a questionar como que se poderia fazer esse processo crescer para espaços mais amplos”, afirma.

Ou seja, como esse acúmulo de saberes agroecológicos poderia ajudar outras localidades do país e do mundo? É assim que nasceu o Agroecologia em Rede (AeR), uma plataforma interativa que em abril de 2021 já registrava mais de 3 mil experiências agroecológicas no Brasil e na América Latina.

Ao longo de duas décadas de existência, o Agroecologia em Rede manteve sua essência na perspectiva de uma ecologia de saberes, ou seja, na perspectiva de uma horizontalidade na área do conhecimento.

Além do acervo de experiências do campo e da cidade, o AeR registra políticas públicas conquistadas pelo movimento agroecológico nos municípios. 


Plataforma também registra os dados provenientes de encontros e congressos nacionais de agroecologia / Arquivo AeR

O embrião da plataforma que surgiu de histórias que são contadas a partir dos territórios está sendo resguardado em seus princípios. Por isso, o Agroecologia em Rede pretende manter os “pés no chão” mesmo em uma dimensão do mundo dos bytes. 

André Biazotti, da secretaria executiva do Agroecologia em Rede, ressalta que a plataforma é uma construção coletiva e colaborativa, voltada ao automapeamento feito pelas próprias redes e grupos que atuam com agroecologia nos territórios.

“Não é um olhar a parte de cima que muitas vezes as plataformas têm; de um pesquisador, de um grupo que olha para baixo no território, mas na verdade é uma plataforma que hora de baixo para cima olha a partir das experiências e de como que essa experiência se articulam em rede junto a outras experiências que estão no Brasil e na América Latina”, explica.

Segurança

A plataforma interativa também acompanha novas dimensões na disputa por um projeto agroecológico. Um exemplo são as medidas de segurança diante da crescente tecnificação no campo, que pode agregar grupos corporativos tanto do setor informacional quanto do agronegócio. 

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Desde 2018, há uma curadoria acompanhando o processo de cadastro das experiências. Além disso, são utilizados softwares livres e servidores internacionais, construídos especificamente para evitar o acesso de dados das grandes corporações do setor, como afirma André Biazotti.   

“Então dessa forma a gente consegue resguardar informações mais sensíveis de movimentos sociais, informações pessoais dentro do sistema de banco de dados e a gente deixa público somente informações que a própria curadoria acha que podem estar ali para serem visualizadas e visitadas pelas pessoas”, destaca. 

Referência

Ao longo do tempo, o Agroecologia em Rede se consolidou como referência para as práticas no campo, a conquista de políticas públicas e a produção científica. Por outro lado, a plataforma encara desafios do ciberespaço, como a customização dos filtros algorítmicos, ou seja, de “efeitos bolhas” na internet que impedem uma ampla popularização. 

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Apesar dos controles e das disputas por espaço, para Adriana Galvão, a plataforma já se constitui em uma conquista que reflete um conjunto diverso e plural das agroecologias em cada território.     

“Essa sensação de não estar só é uma grande potência do próprio Agroecologia em Rede. Isso eu estou falando a partir do local, das agricultoras e dos agricultores. Esse  sentimento de pertencimento é importante para a construção de um projeto político. E esse projeto político é local, mas ganha força em espaços cada vez mais amplos”, salienta.

Edição: Douglas Matos