O governo de Jair Bolsonaro (sem partido) poderia ter evitado pelo menos 80.300 mil mortes se tivesse fechado o contrato oferecido pelo Instituto Butantan em outubro de 2020 para a compra de 100 milhões de doses, que seriam distribuídas aos brasileiros até maio deste ano, de acordo com um estudo realizado pelo coordenador do Epicovid-19 e professor da Universidade Federal de Pelotas, Pedro Hallal, publicado pelo jornal Folha de S. Paulo.
O cálculo, que tem uma margem de erro entre 80.300 e 82.700 óbitos, também estima que 174.642 internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) poderiam ter sido evitadas. A Coronavac começou a ser aplicada no dia 17 de janeiro.
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Soma-se a isso a negativa dada pelo governo federal a uma oferta do laboratório estadunidense Pfizer, em agosto de 2020, que teria disponibilizado ao país mais 4,5 milhões de doses entre dezembro do ano passado e março deste ano. Se aceita a oferta, cerca de 14 mil óbitos teriam sido evitados. Juntas, Pfizer e CoronaVac, se distribuídas anteriormente aos brasileiros, poderiam ter evitado 95.500 mortes.
A metodologia utilizada pelo professor se baseou em algumas premissas, como um terço da população com anticorpos, letalidade do coronavírus de 1% e eficácia da CoronaVac de 50% e da Pfizer de 94%.
Segundo o depoimento do diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, nesta quinta-feira (27), da mesma maneira que o governo federal recusou sete ofertas de imunizantes da farmacêutica estadunidense Pfizer, o governo paralisou as negociações estabelecidas pelo Ministério da Saúde com o Instituto Butantan.
No dia 7 de outubro, o Butantan ofertou 100 milhões de doses, sendo 45 produzidas até dezembro de 2020, 15 milhões até fevereiro de 2021 e 40 milhões até maio. “De fato, tiveram intensas tratativas. Aparentemente tudo estava indo muito bem”, afirmou Covas à CPI, tanto que, no dia 20 de outubro, ocorreu um anúncio do protocolo de intenções da contratação de 46 milhões de doses, como estabelecido pelo contrato.
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No entanto, já “a partir do dia 20 de outubro, essas tratativas não progrediram”. Segundo Covas, “houve uma inflexão diante de uma manifestação do presidente da República dizendo que a vacina não seria de fato incorporada. Isso causou uma frustração da nossa parte”, afirmou Covas.
O curso das negociações mudou devido a uma fala do presidente Jair Bolsonaro feita no dia 21 de outubro durante uma visita a um centro militar da Marinha em Iperó (SP). "Houve uma distorção por parte do João Doria no tocante ao que ele falou. Ele tem um protocolo de intenções, já mandei cancelar se ele [Pazuello] assinou. Já mandei cancelar. O presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade. Até porque estaria comprando uma vacina que ninguém está interessado por ela, a não ser nós", afirmou Bolsonaro.
Em seguida, o então ministro Eduardo Pazuello afirmou que “quando um manda, o outro obedece”.
Bebês nascem com anticorpos
A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) identificou no estado anticorpos para a covid-19 em 71 recém-nascidos de mães que foram imunizadas ou contraíram a doença. Em outros estados, também foram registrados o mesmo caso, como Bahia, Acre e Santa Catarina.
Segundo Cláudia Lindgren, do Departamento de Pediatria da instituição, a existência de anticorpos não garante a imunidade contra o novo coronavírus, mas há a esperança de que possa “proteger um pouco esses bebês, pelo menos por alguns meses”, afirmou em entrevista ao G1. “A presença dos anticorpos confirma que eles foram expostos à infecção durante a gestação. Por outro lado, a gente não sabe que tipo de repercussão em longo prazo isso pode ter no desenvolvimento deles."
O trabalho, desenvolvido em parceria com o Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico (Nupad), a Secretaria Estadual de Saúde (SES-MG) e a Universidade Federal de Uberlândia, continuará acompanhando a taxa de anticorpos nos bebês e o desenvolvimento deles.
"Não há muitos estudos em crianças e recém-nascidos com anticorpos transmitidos pela placenta que fale para nós se houve algum dano. O estudo quer responder se há necessidade de um acompanhamento maior ou não quando a mãe é contaminada pelo coronavírus na gravidez", afirmou Lindgren.
Vacinas contra a forma grave da doença
Um estudo realizado por pesquisadores do King's College London, na Inglaterra, confirmou que as vacinas da Pfizer e da AstraZeneca evitam a forma grave da doença causada pela covid-19.
De 1 milhão de pessoas vacinadas, cujos dados foram analisados entre 8 de dezembro de 2020 e 14 de maio deste ano, e que desenvolveram a doença 14 dias após a primeira dose, o sintoma mais comum entre aquelas que contraíram a doença foi o espirro. No entanto, entre os idosos com comorbidades, há um maior risco de adoecimento.
"É ótimo ver a evidência de que pessoas vacinadas apresentam menos sintomas, são menos propensas a serem hospitalizadas e que pessoas mais velhas têm menos risco de desenvolver covid grave. Mas nosso trabalho mostra que ainda há grupos a serem protegidos, principalmente idosos frágeis e pessoas que vivem em áreas desfavorecidas. As pessoas nesses grupos devem ser priorizadas com urgência para a segunda dose e uma vacinação de reforço", afirmou a pesquisadora Claire Steves, da King's College London, por meio de nota enviada ao Portal R7.
Vacinação e pandemia no Brasil
Em cinco meses, apenas cerca de 10% da população brasileira completou o esquema vacinal de duas doses contra a covid-19. Até às 20h desta quinta-feira (27), 21.634.953 pessoas (10,22%) receberam a segunda dose de imunizante, de acordo com o consórcio de veículos de imprensa. Já a primeira dose foi aplicada em 43.936.007 pessoas, ou seja, 20,75% da população.
Paralelamente, o Brasil registrou até às 18h desta quinta, 2.245 mortes por covid-19 nas últimas 24 horas, totalizando 456.674 mortes desde o início da pandemia.
Quanto ao número de casos, foram registradas no mesmo período 67.467 novas infecções. Desde março de 2020, o Brasil soma 16.342.162 casos de covid-19 confirmados, segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).
Edição: Rebeca Cavalcante