Em semana mais curta devido ao feriado do dia 3 de junho, os senadores da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia irão ouvir Nise Yamaguchi, médica imunologista e defensora do uso de cloroquina para o tratamento da covid-19, nesta terça-feira (1º). Yamaguchi também é suspeita de integrar o chamado “gabinete paralelo”, composto por empresários, políticos e médicos, responsável por orientar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na condução da pandemia.
Na quarta-feira (2), irão depor Clóvis Arns da Cunha, professor do Departamento de Infectologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e Zeliete Zambom, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC).
Os depoimentos, por meio de relatos técnicos e científicos, devem reforçar a constatação acerca do comportamento de Bolsonaro diante da pandemia de reforçar tratamento ineficazes e ignorar a necessidade de vacinação em massa da população.
::CPI da Covid: Dimas Covas se junta à Pfizer e encurrala gestão de Jair Bolsonaro::
Um dos únicos depoimentos desta semana que deve destoar do restante é de Nise Yamaguchi, que provavelmente fará a defesa do governo e da cloroquina, como vêm fazendo desde o início da pandemia. Em seu testemunho, o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, disse aos senadores que Yamaguchi foi uma das vozes a favor da mudança da bula da cloroquina para incluí-la no tratamento contra o novo coronavírus, por meio de uma medida provisória.
"A doutora [Nise Yamaguchi], de fato, perguntou sobre essa possibilidade e pareceu estar, digamos, mobilizada com essa possibilidade”, afirmou Torres na ocasião.
::Presidente da Anvisa confirma que recebeu pedido para alterar bula da cloroquina::
Em uma de suas defesas públicas ao tratamento precoce, Yamaguchi comparou o medo que as pessoas têm do novo coronavírus ao temor dos judeus sob a Alemanha nazista. "Você acha que alguns poucos militares nazistas conseguiriam controlar aquela massa de rebanho de judeus famintos?", disse Yamaguchi em pergunta retórica, à TV Brasil, em julho de 2020. A declaração lhe rendeu uma suspensão por parte do Hospital Albert Einstein.
Na quinta-feira (27), o relator da CPI, Renan Calheiro (MDB-AL), afirmou que o objetivo é averiguar se houve institucionalmente a defesa de um tratamento precoce com medicamentos comprovadamente ineficazes contra a doença. “Não estamos apenas discutindo a eficácia da cloroquina ou do 'tratamento precoce'. Queremos investigar se essas coisas foram priorizadas em detrimento da vacinação dos brasileiros, que poderia ter salvado muitas vidas”, afirmou o senador.
Um dos senadores que solicitou a convocação de Yamaguchi foi Eduardo Girão (Podemos-CE), ferrenho defensor de Jair Bolsonaro. "Yamaguchi é conhecida por defender a hidroxicloroquina e a cloroquina no tratamento de pacientes infectados com o Sars-Cov-2 (vírus causador da pandemia). E foi convidada pelo presidente Jair Bolsonaro a integrar o comitê de crise ainda na gestão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta", citou Girão em seu requerimento.
::Na CPI, Pazuello dá declarações contrárias às de Mandetta e Teich e protege Bolsonaro::
Já no requerimento que solicita a convocação da médica Zeliete Zambom, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), o senador Humberto Costa (PT-PE) afirma que Zambom "conhece a situação brasileira e as políticas públicas que deveriam ter sido aplicadas. Por ser gestora e/ou médica, acadêmica e cientista de grande respeitabilidade nacional e internacional, certamente contribuirá para que os integrantes desta Comissão possam avaliar os fatos com a profundidade que merecem".
Apesar de ter recomendado o uso de cloroquina e hidroxicloroquina na metade do ano passado, Clóvis Arns da Cunha afirmou, posteriormente, que o “kit covid” é uma “ilusão” e que “não existe tratamento precoce para covid-19”, à BBC.
Em outra ocasião, no simpósio “A Saúde Pede Ajuda”, na Câmara Municipal de Curitiba, Cunha disse que “nenhuma sociedade científica médica, que representa médicos que atendem covid-19, recomenda essas drogas, esse trabalho. Por que não? Porque os trabalhos que a gente valoriza, chamados estudos randomizados, existem e não mostraram benefícios. Os pacientes não evitaram de evoluir para doença grave e alguns deles tiveram efeitos colaterais”.
Edição: Vinícius Segalla