O alimento da época fica maduro naturalmente, recebe uma exposição solar diferente
A grumixama é da família da jabuticaba. O cambuci tem sabor levemente azedo. A cabeludinha, por sua vez, ganha esse nome por causa da textura da casca, que tem uma leve penugem.
Além de saborosas, sabe o que mais essas três frutas têm em comum? Todas elas são nativas Mata Atlântica e fazem parte da vida das pessoas que vivem na região do bioma, que se estende ao longo de 17 estados brasileiros. Outra coincidência é que elas gostam de clima quente. É nas estações mais quentes que elas estão prontas para serem saboreadas.
Mas a diversidade de espécies da Mata Atlântica também rende frutos nos meses mais frios do ano. É nessa época que a Juçara atinge o auge da produção. Se trata de uma palmeira, que dá frutos pequenininhos, de cor roxa.
Por causa da semelhança, ela é conhecida como “prima do açaí” e tem a polpa igualmente saborosa, como ressalta o agricultor e pesquisador Jorge Ferreira.
“Cada fruto deve ter 15% do seu volume total em polpa. Não é uma grande produção. Ela é prima do açaí, que todo mundo sempre quer consumir e vem do outro lado do país, do Pará.”
Ferreira, que tem um pé de Juçara bem pertinho, no seu quintal em Paraty, no Rio de Janeiro, reforça a importância da valorização dos alimentos regionais.
“Os alimentos, as frutas, os legumes são muitos marcados por estações. Agora, estamos entrando no inverno, que é uma estação com poucas frutas. Para nossa vitalidade, nossa saúde, precisamos nos alimentar de frutos mais próximos da gente”, destaca.
O nutricionista Matheus Silva corrobora a opinião do agricultor. Ele lembra que conhecer as frutas da estação de cada localidade e respeitar o tempo da natureza pode trazer muitos benefícios.
"Pensando em saúde, redução de agrotóxico, o fruto fica in natura, fica mais natural. O alimento da época fica maduro naturalmente, recebe uma exposição solar diferente, então o sabor dele fica diferente, mais ressaltado”, explica.
Alguns desses sabores, porém, correm risco de desaparecer. Isso porque a Mata Atlântica é um dos biomas que mais sofrem com o desmatamento no país. Hoje restam apenas 7% de sua cobertura original, distribuídos em estados das regiões Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil.
Sob ameaça constante, provocada principalmente pela exploração descontrolada, o bioma tem diversas árvores nativas em ameaça de extinção. Entre elas está a juçara. A extração ilegal do seu palmito a colocou no rol das espécies em risco de extinção, conforme a lista vermelha do Centro Nacional de Conservação da Flora. Ao contrário do seu parente açaizeiro, ela é uma planta de tronco único, portanto, precisa ser derrubada para a retirada do palmito.
Edição: Geisa Marques