Não haveria Amazônia sem os povos da Amazônia
A diversidade ecológica e cultural da Amazônia, tão fundamental para a vida no planeta, é o resultado de milênios de integração entre a floresta e os povos tradicionais que nela vivem. Assim, um dos caminhos para garantir a preservação da floresta é dar autonomia para que esses povos protejam seus territórios e mantenham seus modos de vida. Esses são temas discutidos no Livro “Horizontes Amazônicos - Para Repensar o Brasil e o Mundo”, escrito por Bruno Malheiro.
“A Amazônia surge enquanto configuração geomorfológica há 13 mil anos e a gente tem presença de população na região há 19 mil anos. Essa constatação dá a noção de que a Amazônia é um patrimônio biocultural dos povos. Não haveria Amazônia sem os povos da Amazônia”, diz Malheiro, que é professor de educação do campo da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, em entrevista ao Programa Bem Viver de hoje (2).
Só em abril a área sob alerta de desmatamento na Amazônia Legal foi a maior desde 2016: 581 quilômetros quadrados, ou uma região maior que a cidade de Manaus, que abriga dois milhões de habitantes, segundo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inep). Este é o segundo mês consecutivo em que os índices de desmatamento bateram recordes históricos.
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Ambientalistas defendem que as comunidades tradicionais, como as indígenas e quilombolas, deveriam estar totalmente inseridas na elaboração das políticas públicas de preservação da floresta, já que elas são essenciais para a manutenção do bioma. Essas áreas protegidas destinadas às populações acabam sendo barreiras contra o desmatamento.
“A implicação que a Amazônia tem para o funcionamento do planeta inteiro tem relação direta com saberes amazônicos. Ou a gente escuta esses saberes dos povos que conformaram a floresta na sua pluralidade ou a gente tem a possibilidade de ter um fim no mundo que conhecemos”, diz o professor.
Gestão Salles
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, editou 307 atos oficiais que colocam política ambiental do país em risco, segundo pesquisa do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), que avaliou medidas adotadas desde que Salles assumiu a pasta, em janeiro de 2019, até dezembro do último ano.
Os atos oficiais incluem portarias, instruções normativas, deliberações e despachos publicados nestes dois anos de gestão de Ricardo Salles.
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“É um processo de desmonte muito grave, que consolida a visão que Salles está lá para isso. O Ministério do Meio Ambiente passou a ter um papel muito relevante nesse governo, que é desmontar o que existia de política ambiental”, diz a assessora política do Inesc, Alessandra Cardoso, que coordenou estudo.
Na última segunda-feira (31), a Procuradoria Geral da República pediu abertura de inquérito para investigar o ministro Ricardo Salles. Ele foi acusado de atrapalhar a maior apreensão de madeira ilegal da história e defender o interesse de criminosos do setor madeireiro.
Quem é mais afetado pela pandemia?
Uma pesquisa feita pelo Instituto Pólis com dados da Secretaria Municipal de Saúde da cidade de São Paulo mostrou que os mais afetados pela Covid-19 são trabalhadores de serviços essenciais. Pedreiros, empregadas domésticas e motoristas de táxi e de aplicativos são os que mais morrem pela doença na capital paulista.
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Aqueles que tem menor renda e escolaridade mais baixa também figuram entre as principais vítimas da doença em São Paulo, segundo a pesquisa. Pelo menos 75% das 30 mil mortes por Covid-19 na capital paulista são de pessoas que não terminaram o ciclo de educação básica, indicando que a mortalidade é maior entre trabalhadores mais pobres que não tem acesso ao trabalho remoto.
Eles são, em geral, os grupos que mais se expõe ao contágio, em especial durante o trabalho e nos deslocamentos.
Dos 20 países que integram o G-20, grupo das maiores economias do mundo, o Brasil lidera o ranking de mortes por milhão de habitantes. No entanto, quando a régua muda para o total de vacinas aplicadas para cada 100 habitantes o Brasil cai para a 11ª colocação, atrás da Turquia, Arábia Saudita e China. Os dados foram tabulados pela Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Edição: Sarah Fernandes