AGROECOLOGIA

Em Florianópolis, iniciativa produz cogumelos orgânicos em todas as estações do ano

Na Chácara Clara Noite de Sol, seis variedades do popular Shimeji são produzidas, reforçando laços comunitários

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Produção orgânica em Ratones garante colheita em todas as etapas do ano - Chácara Clara Noite de Sol/Divulgação
A gente vê eles brotando, crescendo com a beleza deles, e compartilhando com a nossa comunidade

Um bairro pacato e afastado do mar, onde o desenvolvimento é pequeno e não há grandes empreendimentos imobiliários. Em Ratones, zona rural da Ilha de Florianópolis, o que chama atenção não são as praias e nem o turismo, mas a agroecologia e os laços comunitários.

É lá que fica a Chácara Clara Noite de Sol, que é precursora na produção e certificação de cogumelos orgânicos.

"A fungicultura está crescendo muito no Brasil. E a gente fica muito assombrado de como tem poucos produtores. Nós aqui no Sul do Brasil somos muito poucas. E eu incentivo, acho que tem que ter mais cogumelo na mesa. É uma comida super variada, as crianças adoram. E cogumelo orgânico por favor, porque faz bem para a saúde, física e mental, espiritual. É um desenvolvimento pessoal", conta a fungicultora Leilen Monte.

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Ela e Juliana Justo Conceição vivem há 6 anos na Chácara Clara Noite Sol, dois deles produzindo os cogumelos - que têm selo de certificação da Rede Ecovida de Agroecologia. O nome do local tem relação com a busca das duas pelo equilíbrio com a natureza. Elas não preferem nem o dia nem a noite, mas sim todas as polaridades que existem no nosso cotidiano.

Cogumelos em todas as estações

A filosofia se integra também ao modo de cultivo dos cogumelos, que se adapta a todas as estações do ano.  

Por lá, são produzidas variedades do gênero Pleurotus, o popular Shimeji, que são ou mais adaptados ao clima da região Sul do País.  Na primavera e no verão, é tempo do shimeji branco, do rosa, e do amarelo. No outono e inverno, a variedade é a cinza, e a fênix, também conhecido como shimeji marrom. O cogumelo pardo, uma espécie mais rara dos Pleurotus, fecha a lista da Chácara.

"A gente escolheu as seis variedades justamente para trabalhar com a sazonalidade. Então, a gente não faz climatização do nosso espaço de cultivo, e aí a gente opta por produzir as variedades que se adaptam com as temperaturas ao longo do ano", explica Juliana.


Leilen e Juliana trabalham com a variedade do gênero Pleurotus, o popular Shimeji / Chácara Clara Noite de Sol/Divulgação

As etapas da produção

Hoje, por conta de passarem por todas as etapas da produção dos cogumelos, as duas recebem visitas e dão cursos sobre a produção agroecológica.

A produção do substrato, o meio nutritivo onde o fungo vai se desenvolver, é a primeira das etapas, e também a mais trabalhosa. O substrato imita um tronco de madeira, que é a forma como os fungos crescem na natureza.

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Para a preparação,  é utilizado farelo de cereais orgânicos e serragem de eucalipto bruto. A madeira é proveniente de extração legal e sem nenhum processo químico.

"O cogumelo é só uma parte da vida de um ser vivo que é o fungo. Do mesmo jeito que uma laranjeira ela produz laranjas em um momento da vida, o cogumelo é um momento da vida do fungo, então a gente tem que cultivar primeiro o fungo, para depois poder brotar e colher cogumelo", completa a fungicultora.


Atualmente, poucos fungicultores produzem cogumelos passando por todas as etapas do cultivo, desde o substrato até a frutificação / Chácara Clara Noite de Sol/Divulgação

Laços comunitários

Antes da pandemia, toda a produção de Juliana e Leilen era comercializada por pedidos ou na feira comunitária do bairro. A proposta escolhida hoje é de assinatura mensal, como é o caso de Elza Maria Meinert.

Vegetariana há 8 anos, ela vive há 25 em Ratones e recebe uma cesta semanal com 400 gramas de cogumelos. As receitas são variadas.

"Eu gosto de pratos indianos com leite de coco, eles ficam muito gostosos. Fritos e colocados em um ensopado com leite de coco. Já misturei com feijão para fazer salada fria com outros vegetais. Tem uma técnica que frita ele prensado em panela de ferro, que ele fica tostado, uma delícia", conta Meinert.

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A nutricionista admira a opção de Juliana e Leilen por não venderem os cogumelos em grandes mercados,  valorizando o consumo local e a relação afetiva entre as famílias do bairro.

Historicamente, a comunidade tem um papel fundamental na agricultura da Ilha, com a produção da  farinha de mandioca, açúcar, café e frutas em geral.

"Consumindo os produtos que elas produzem ajuda não só a nossa saúde, como o pequeno produtor a ir para frente, então acho que é um cuidado que a gente tem que ter, procurar consumir no local, procurar consumir orgânicos", finaliza Elza.

 

Edição: Douglas Matos