Um relatório organizado por pesquisadores de Berlim, Minas Gerais e Brasília evidencia os impactos da pandemia nos índices de fome no Brasil. Segundo o estudo, a insegurança alimentar ficou acima de 59% no país. As áreas rurais foram mais impactadas, com três a cada quatro domicílios em situação de insegurança alimentar no período.
O estudo é coordenado por um grupo de pesquisa da Universidade Livre de Berlim, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade de Brasília (UnB).
Os dados, coletados entre novembro e dezembro de 2020, revelam que os efeitos foram piores nas áreas rurais, com 75,2% dos domicílios em situação de insegurança alimentar, principalmente no Norte e Nordeste do Brasil.
Aristides Santos, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura (Contag), explica que esse índice "é resultado da falta de políticas públicas para garantir segurança financeira às famílias do campo".
Segundo o estudo, a pandemia levou 27,3% dos domicílios das zonas rurais a uma situação de insegurança alimentar grave. Segundo José Raimundo, doutor em Geografia Humana e professor visitante do Instituto de Saúde e Sociedade da Universidade Federal de São Paulo, a contradição entre esses dados e o fato de o Brasil ser um dos principais produtores de alimentos do mundo, se deve à forma como o agronegócio brasileiro está organizado. "O setor agroexportador se apoia, por um lado no latifúndio, nas grandes propriedades, ou seja, o sucesso desse modelo agroexportador produz a concentração de terra, de renda e de capital, e ao mesmo tempo ele se apoia na monocultura, na produção em grandes quantidades de um mesmo produto que não visam o mercado interno. Esse modelo de negócio voltado pra venda pro mercado externo, que gera divisas para o país, mas esse dinheiro chega ao país e fica extremamente concentrado nos grandes proprietários de terra", diz José Raimundo.
A insegurança alimentar já era um problema presente nos domicílios rurais do país antes mesmo da pandemia. O cenário exige uma mudança estrutural, que deve ser iniciada pela Reforma Agrária, defende Kelli Mafort, da Coordenação Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST): "Nunca foi tão necessário a gente lutar e defender uma ampla e estrutural Reforma Agrária no nosso país. Hoje para resolver o problema da insegurança alimentar, seja no campo, seja na zona urbana, é fundamental a gente recolocar a bandeira da Reforma Agrária. O nosso país é recordista na concentração de terra, é muita terra em poucas mãos. Isso atinge diretamente a população que vive no campo", explica Mafort.
*Com informações de Júlia Pereira.
------
O Jornal Brasil Atual Edição da Tarde é uma produção conjunta das rádios Brasil de Fato e Brasil Atual. O programa vai ao ar de segunda a sexta das 17h às 18h30, na frequência da Rádio Brasil Atual na Grande São Paulo (98.9 MHz) e pela Rádio Brasil de Fato (online). Também é possível ouvir pelos aplicativos das emissoras: Brasil de Fato e Rádio Brasil Atual.
Edição: Mauro Ramos