relações musicais

Rap e heavy metal feito por indígenas ecoam pluralidade sonora no território nacional

As experiências musicais destacam o direito ao território para indígenas e a valorização de ancestralidades

Ouça o áudio:

O Rap Nativo do Kunumi MC aborda temas como a valorização do conhecimento milenar da diversidade de povos indígenas - Divulgação
a música transcende as barreiras e os tipos de idiomas que qualquer pessoa do mundo pode se conectar

Na cerimônia de abertura da Copa de 2014,  no Brasil, um garoto indígena de 13 anos conseguiu burlar o esquema de segurança e exibir uma faixa de protesto, pedindo “Demarcação já”. Era Werá Jeguaka Mirim, da aldeia de Krukutu, em Parelheiros (SP). 

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A vontade de falar para o mundo sobre a luta dos povos indígenas fez o jovem virar o rapper Kunumi MC. 

"A gente fala que a luta do povo indígena é uma luta só, a luta de todos. É uma causa que vai valer pra todo tipo de gente. A luta é mais pela questão de terra, demarcação. Os brasileiros não querem, a mídia não quer dar voz ao povo indígena. Então, com isso, a gente decidiu uma arte dentro da música, que é o rap pra poder falar", afirma Kunumi.

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O "Rap nativo" é a forma que Kunumi chama seu estilo, uma criação musical a partir da visão sobre a própria cultura, que vem da etnia Mbyá-guarani. Além do rap, suas produções mais recentes trazem cânticos sagrados.

"O rap é um estilo do povo negro. Então o índio, o indígena descobriu o rap porque ele gostou muito do ritmo, mas não pegou o rap à toa, não só a batida, mas o estilo também transformou num rap nativo. É um rap diferenciado, a gente fala de uma realidade que ninguém sabe ainda, uma história, chamando todos os ancestrais, falando da natureza", explica.  


Além da música, Kunumi MC é também escritor e já tem dois livros publicados: Kunumi Guarani (Panda Books) e Conto dos Curumins Guarani (FDT), que lançou com o irmão Tupã Mirin / Divulgação

A natureza, a ancestralidade e o sagrado também são temas centrais nas músicas da banda brasiliense Arandu Arankuaa, nome que em tupi antigo  significa “saber do cosmos”. Há mais de dez anos na ativa, eles são a primeira banda de heavy metal a cantar nos idiomas tupi antigo, xerente e xavante. 

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"A gente defende os povos originários, a gente defende a natureza, e quando você ouvir a nossa música, por mais que você não entenda, que a maioria das pessoas não vão entender os idiomas indígenas, ela vai sentir e perceber. Fica aquela história de que a música transcende as barreiras e os tipos de idiomas que qualquer pessoa do mundo pode se conectar e sentir sem necessariamente saber o que a letra tá falando", ressalta Zândhio Huku, guitarrista e vocalista da Arandu Arankuaa.


Banda Arandu Arakuaa propõe agregar sentimentos através da sonoridade pesada / Leandra Sartor

Além da guitarra, contrabaixo e bateria, instrumentos tradicionais no metal, a banda utiliza viola caipira, além de instrumentos indígenas como apitos, flautas e chocalhos. Zândhio Huku afirma uma sonoridade experimental da banda.   

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"O objetivo da banda sempre foi esse [experimentar], enquanto compositor, músico, educador também. Na verdade esse espaço de fala que é totalmente diferente por exemplo das lideranças indígenas que tão na linha de frente, que tão na aldeia, ou que tão procurando seu espaço. Eu sou artista, então a nossa forma de contribuir é outra. E o legal é que a gente também vai ocupar espaços, a gente ocupa espaços que outras pessoas não ocupariam. Então, a arte é muito legal por isso", salienta o guitarrista.

Edição: Daniel Lamir