Nesta semana, os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid devem se concentrar no suposto “gabinete paralelo” do governo de Jair Bolsonaro, na realização da Copa América no Brasil e na crise de oxigênio em Manaus, em janeiro deste ano, que levou pelo menos 30 amazonenses a óbito.
De acordo com o cronograma divulgado pelo presidente da CPI, o senador Omar Aziz (PSD-AM), nas redes sociais, os parlamentares escutam novamente o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, nesta terça-feira (8); o ex-secretário executivo do ministério da Saúde, Élcio Franco, na quarta-feira (9); o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), na quinta (10); e Cláudio Maierovitch, médico sanitarista e ex-presidente Anvisa e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e Natália Pasternak, doutora em microbiologia e presidenta do Instituto Questão da Ciência, na sexta-feira (11).
Copa América
O ministro Marcelo Queiroga afirmou à imprensa, nesta segunda-feira (7), que não compete ao Ministério da Saúde decidir sobre a realização da Copa América em território brasileiro, uma vez que o evento é privado. Queiroga disse apenas que é função da pasta "verificar os protocolos de segurança e reforçá-los”.
O assunto vem sendo discutido na CPI desde a semana passada e deve continuar em pauta, principalmente após a declaração de Queiroga. O relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), chegou a cobrar um posicionamento do jogador de futebol Neymar contra a realização do evento.
"É o campeonato da vacinação, Neymar, que nós precisamos disputar, ganhar, e você precisa marcar gols para que esse placar seja alterado. No campeonato da vacinação, o Brasil ocupa um dos últimos lugares", disse o senador.
A Copa América começa no próximo domingo (13) no Brasil, após Argentina e Colômbia desistirem de sediar o evento devido ao agravamento da pandemia de covid-19.
Gabinete paralelo
Depois de Marcelo Queiroga, é a vez do ex-secretário executivo do ministério da Saúde e atual assessor especial da Casa Civil, Élcio Franco, prestar depoimento aos senadores da CPI.
Ele é considerado o braço direito do ex-ministro Eduardo Pazuello e participava frequentemente de reuniões com farmacêuticas no Ministério da Saúde. Inclusive, foi citado pelo ex-presidente da Pfizer no Brasil, Carlos Murillo, como um dos negociadores na compra de vacinas.
:: Pazuello não recebeu gerente da Pfizer em sua única visita ao Ministério da Saúde ::
Além da aquisição e distribuição de imunizantes, os senadores também devem questioná-lo sobre a existência de um “gabinete paralelo”, composto por empresários e médicos que aconselhariam o presidente acerca do uso de medicamento comprovadamente ineficazes pela ciência contra a covid-19, como hidroxicloroquina e cloroquina.
Crise de oxigênio em Manaus
No terceiro dia de CPI, ocorre um dos depoimentos mais aguardados da semana: será a vez do governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC). O foco recairá sobre o colapso do sistema de saúde em Manaus, devido à escassez de oxigênio em janeiro deste ano.
O Ministério da Saúde mudou três vezes a data em que teria recebido das autoridades locais a informação sobre a crise de oxigênio em Manaus. Na CPI da Covid, o ex-ministro Eduardo Pazuello disse que foi informado sobre a crise no dia 10 de janeiro, quatro dias antes de o sistema de saúde do município colapsar.
::Antes da CPI, Pazuello mudou três vezes a data de notificação da crise de Manaus::
No dia 18 de janeiro, durante entrevista coletiva, no entanto, Pazuello disse que foi informado no dia 8 de janeiro. Em 28 de janeiro, a data mudou para o dia 17 de janeiro. Então, no dia 4 de fevereiro, a data mudou para o dia 10 de janeiro, em depoimento à Polícia Federal em Brasília.
Segundo um inquérito do Ministério Público que trata do caso de Manaus, que está sob sigilo, o Ministério da Saúde foi informado no dia 8 de janeiro sobre a iminente escassez de oxigênio na capital do Amazonas. A informação se baseia em um documento oficial entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela Advocacia-Geral da União (AGU), assinado pelo Advogado-Geral, José Levi.
Pazuello também afirmou à comissão que se antecipou à crise de oxigênio e que montou uma das maiores operações logísticas emergenciais já realizadas pelo Ministério da Saúde. A realidade mostra, no entanto, que cerca de pelo menos 30 pessoas morreram em dois dias justamente pela falta de oxigênio nos hospitais, nos dias 14 e 15 de janeiro.
Edição: Leandro Melito