O retorno do Lula para o jogo eleitoral também teve influência, diz médica
A movimentação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 somada às eleições presidenciais de 2022 e às manifestações da população contra o governo federal têm pressionado o presidente Jair Bolsonaro a tomar medidas para ampliar a vacinação. Estas ações, no entanto, chegam com grande atraso e são responsáveis pelo elevado número de mortes pelo novo coronavírus no país, segundo a médica Lucy Rivka, entrevistada na edição de hoje (7) do Programa Bem Viver.
Na última quarta-feira (2), o presidente fez um pronunciamento oficial no qual afirmou que “neste ano, todos os brasileiros que assim o desejarem, serão vacinados. Vacinas essas que foram aprovadas pela Anvisa”. Ele relembrou ainda que na mesma semana o governo federal havia assinado um acordo de transferência de tecnologia para produção de vacinas entre a farmacêutica Astrazeneca e a Fundação Osvaldo Cruz (FioCruz).
O pronunciamento foi feito poucas horas depois de o governador de São Paulo, João Doria, declarar que vacinará toda a população de São Paulo até 31 de outubro. Os dois se tornaram oponentes políticos durante a pandemia.
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“São promessas que vem no esteio da questão da eleição, mas também com a pressão da CPI, que está colocando em evidência a responsabilidade do governo federal”, diz a médica. “O governo está fazendo as coisas pela pressão, de um lado da CPI e de outro das ruas. A população resolveu se expor porque sabemos que o vírus só se espalha dessa forma pela ação do governo em algumas áreas e pela inação em outras.”
Para a médica, as eleições presidenciais de 2022 também têm pressionado o governo federal e incentivado o presidente a fazer promessas quanto a vacinação. “O retorno do (ex-presidente) Lula para o jogo eleitoral também teve influência”, diz.
Pela capilaridade e organização do Sistema Nacional de Saúde (SUS), a médica acredita que o país possa vacinar toda a população até o final do ano, a julgar pelo que já ocorre com outras campanhas de vacinação. No entanto, é preciso ter acesso garantido aos imunizantes e e uma maior organização do calendário de vacinação.
:: Mesmo se for finalizada este ano, vacinação da covid será marcada por inconsistências ::
“A desorganização na vacinação não foi só em uma fase inicial. Já passamos do início”, afirma Rivka. “Agora estamos chegando nas fases em que uma parte maior da população vai ser vacinada e estamos vendo uma distribuição desigual de vacinas, que não chegam aos povos tradicionais, por exemplo. É uma continuidade da necropolítica do governo. É como se não houvesse vacina para quem eles consideram indesejáveis.”
Doenças crônicas
Por conta de um atraso na divulgação da Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), um dos estudos anuais mais importantes para a saúde pública brasileira, o SUS trabalha com dados desatualizados sobre os fatores de risco para as doenças crônicas não transmissíveis.
Os dados da pesquisa referentes ao ano passado ainda não foram divulgados pelo Ministério da Saúde e não há informações sobre a data de realização da pesquisa nesse ano. No site no Ministério ainda estão no ar anúncios da edição de 2020.
As informações, que são divulgadas há 15 anos pelo governo federal, são essenciais para traçar o perfil dos brasileiros que convivem com doenças cronicas e levantar fatores de risco, monitorando a frequência e a distribuição dos casos. Esses dados são essenciais para planejar políticas públicas de saúde e implantar, por exemplo, programas de combate ao tabagismo, ao consumo excessivo de álcool, a nutrição inadequada e a inatividade física.
:: No escuro: Brasil está sem dados atuais sobre fatores de risco para doenças crônicas ::
No Brasil, 52% das pessoas com 18 anos ou mais informaram que receberam diagnóstico de pelo menos uma doença crônica em 2019, de acordo com IBGE. As doenças crônicas configuram um dos maiores problemas de saúde pública da atualidade e podem levar a mortes prematuras e perda de qualidade de vida.
Obesidade infantil
A pandemia do novo coronavírus teve impacto importante na alimentação das crianças e adolescentes e no aumento do sedentarismo o que contribuiu para uma piora nos casos de obesidade infantil, de acordo com o Ministério da Saúde. Este problema, que já é um dos principais para a saúde pública, pode levar ao desenvolvimento de doenças crônicas que acompanharão o paciente também na vida adulta.
Ao menos 6 milhões de crianças brasileiras estão com excesso de peso.
:: Obesidade é maior em crianças que vivem em locais inseguros e sem acesso a lazer ::
Edição: Sarah Fernandes