A fabricação do imunizante da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), desenvolvido em parceria com o laboratório AstraZeneca e a Universidade de Oxford, ambos do Reino Unido, será suspensa a partir da próxima sexta-feira (11), depois que a instituição finalizar a entrega de 5 milhões de doses ao Ministério da Saúde.
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Mais uma vez, a interrupção se deve à falta de Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), o insumo necessário para produzir a vacina, que vem da China, onde é produzido pelo laboratório Wuxi Biologics. Em maio, a sede produtiva da Fiocruz, a unidade de Bio-Manguinhos, já ficou por cinco dias parada por falta de insumos. Também foi o atraso no recebimento de IFA que levou à Fiocruz não cumprir a meta de entregar 100 milhões de doses no primeiro semestre deste ano.
A expectativa é que a atividade seja retomada por volta do dia 20 de junho, após receber IFA relativo a junho e julho, que será suficiente para produzir ainda 20 milhões de doses. Até agora, a instituição já entregou ao Programa de Imunização Nacional (PNI) 50 milhões de doses.
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Apesar de já ter recebido o material de transferência tecnológica para começar a produção de insumo em território nacional, a Fiocruz irá começar a distribuir as vacinas integralmente brasileiras a partir de outubro deste ano. A demora se deve aos processos de validação da matéria-primeira.
Saúde entregou menos doses que o previsto
O Ministério da Saúde entregou 60% a menos de doses do que o previsto pelo primeiro cronograma, divulgado em fevereiro deste ano, pelo ex-ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello. Das 171,5 milhões de doses previstas para serem entregues até junho, 103,5 milhões foram distribuídas, de acordo com um levantamento feito pelo GLOBO.
Das vacinas mais distribuídas neste momento e que são produzidas no Brasil, de 69,1 milhões de doses da AstraZeneca, 52,7 milhões foram entregues; da CoronaVac, de 58 milhões de doses anunciadas, 47,2 milhões de doses foram distribuídas. Esta última é produzida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês SInovac.
Os atrasos da entrega também se devem à falta de insumos. Os primeiros cronogramas de recebimento de imunizantes foram divulgados em janeiro, na gestão de Pazuello. Naquela época, os documentos já se mostravam defasados em comparação com a realidade dos atrasos dos imunizantes.
O presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, chegou a relacionar a escassez de insumos ao comportamento do presidente Jair Bolsonaro. No começo de maio, o Butantan suspendeu o envase do imunizante justamente por escassez de IFA pela segunda vez. Em coletiva de imprensa, no início de maio, Covas afirmou que o atraso não está relacionado à produção de insumo por parte do laboratório chinês Sinovac, mas à demora na autorização de exportação pelo governo chinês, o que pode envolver, portanto, fatores geopolíticos. Um dia antes, Bolsonaro relacionou o novo coronavírus, que surgiu primeiramente em Wuhan, na China, a uma possível “guerra bacteriológica”.
Covaxin e Sputnik V
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, na última sexta-feira (4), o pedido de importação excepcional dos imunizantes russo Sputnik V e indiano Covaxin contra o novo coronavírus. Isso significa que apenas os lotes inspecionados e autorizados pela agência poderão ser importados e aplicados pelo Ministério da Saúde, no caso da Covaxin, e pelos estados, no caso da Sputnik V.
Esta última terá 928 mil doses distribuídas apenas em seis estados brasileiros, uma vez que o pedido de importação foi feito diretamente por esses estados. São eles: Bahia (300 mil), Maranhão (141 mil), Sergipe (46 mil), Ceará (183 mil), Pernambuco (192 mil) e Piauí (66 mil). As quantidades foram determinadas a partir do equivalente a 1% da população de cada estado.
Já do imunizante Covaxin, serão 4 milhões de doses. Inicialmente, o Ministério da Saúde havia solicitado a importação de 20 milhões de doses.
Em ambos os casos, a Anvisa não autorizou o uso emergencial das vacinas, mas somente o uso dos quantitativos e sob condições controladas, determinadas pela própria agência. Anteriormente, o órgão regulador já havia negado os pedidos de uso emergencial e importação tanto para a vacina russa quanto para a indiana.
Paralelamente, o pedido de uso emergencial da Sputnik V é analisado pela Anvisa, cuja avaliação encontra-se suspensa neste momento, na espera de documentação adicional da farmacêutica União Química, que deve produzir a vacina no Brasil. Caso o pedido seja negado, a agência pode suspender a importação e a aplicação do imunizante.
Na votação, os diretores seguiram o voto do relator, o diretor Alex Campos. Para ele, “o contexto sanitário que nosso país atravessa nos põe diante da necessidade de viabilizar o maior número de vacinas e medicamentos. Todo esforço se volta ao propósito de amenizar o sofrimento da população, abrandar angústias dos gestores públicos e combater o esgotamento de nossos profissionais de saúde”, afirmou Campos durante o seu voto.
Vacinação e pandemia no Brasil
Neste domingo (6), o Brasil registrou 39.637 novos infectados pelo novo coronavírus nas últimas 24 horas, totalizando 16.947.062 desde o início da pandemia, em março de 2020, segundo o Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass).
Com o número de casos, o Brasil fecha mais uma semana epidemiológica com um acumulado de registros superior a 400 mil. O país tem superado a marca semanal desde o final do mês de fevereiro. Nos últimos sete dias contemplados pela semana 22, 435.825 pessoas foram infectadas pelo coronavírus.
O número, no entanto, deve ser ainda maior, uma vez que aos fins de semana os laboratórios que registram os casos trabalham em regime de plantão, ou seja, com menos capacidade operacional.
Nas últimas 24 horas, 873 brasileiros morreram em decorrência da contaminação por coronavírus, chegando ao total de 473.404 vidas perdidas para a doença. A média móvel de casos dos últimos sete dias se manteve estável, com 1.639 registros diários.
Mesmo neste cenário, o ritmo de vacinação continua aquém do desejado. Somente 10,83% da população brasileira completou o esquema vacinal com duas doses, cerca de 22.930.114 pessoas, até às 20h deste domingo. De sábado para domingo, apenas 34.006 pessoas receberam a segunda dose.
No mesmo período, a primeira dose foi aplicada em 242.351 pessoas, totalizando 48.977.254 brasileiros que já receberam a primeira dose, o equivalente a 23,13% da população brasileira. Os dados são do consórcio de veículos de imprensa.
Edição: Vivian Virissimo