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Amazonas, da conivência à violência

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Ação de criminosos do Comando Vermelho incendiou veículos e prédios públicos em Manaus - Michael Dantas / AFP
Paralisia do poder público só fazem com que os desmandos imperem no Amazonas

No último domingo (6), Manaus e também alguns municípios do interior do Amazonas se transformaram, mais uma vez, em palco de ataques violentos. Ônibus, agências bancárias, logradouros públicos e até ambulância foram depredados e queimados.

As razões da violência, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado, teria sido uma reação à morte de um traficante, conselheiro do Comando Vermelho, o CV.

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Há tempos o Amazonas vive uma profunda insegurança pública, sem que o estado seja capaz de reverter o quadro e garantir uma maior tranquilidade ao conjunto de sua população.

Rebelião

Em 2017, o Amazonas foi destaque no noticiário internacional. Iniciou o ano computando 56 mortes, fruto de uma rebelião de 17 horas, ocorrida no dia 1º de janeiro, no Complexo Penitenciário Anisio Jobim (Compaj), em Manaus.

Essa foi a maior rebelião em um presídio do Brasil. À época, o registro das autoridades foi de que tudo ocorreu devido a uma disputa entre facções criminosas, mais um capítulo da guerra do narcotráfico.

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Em dezembro do mesmo ano o Ministério Público do Amazonas concluiu a investigação sobre o ocorrido e pontuou, como razões da rebelião, no mínimo cinco questões ligadas à, superlotação, equívocos da administração penitenciária privatizada, acúmulo de  trabalho da magistratura e do ministério publico, entre outros.

O relatório no entanto não abordou ou apontou as reais e mais profundas razões de tanta barbárie, tampouco apontou caminhos futuros de transformação de uma realidade não apenas violenta, mas que subtrai o presente e futuro de tantos jovens amazonenses.

Ainda em dezembro de 2017, 6 homens foram mortos a tiros de fuzil durante uma partida de futebol no bairro da Compensa em Manaus.

Em 2019, dois anos após a maior rebelião histórica em presídios do Amazonas, no mínimo dois outros grandes eventos violentos e novas ondas de ataques se repetem no estado. 

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Instalava-se uma nova rebelião em Manaus e em seis municípios do interior, que veio a ser o segundo maior massacre do estado. Em 48 horas, 55 detentos foram mortos.

No mesmo ano, no bairro do Crespo em Manaus, no mês de outubro, a Polícia Militar, durante “incursão contra o narcotráfico”, matou 17 pessoas.

Muitas foram as denúncias de que mais uma vez Manaus assistia a um massacre, um extermínio de jovens pobres e inocentes, que foram assassinados, brutalmente executados.

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Em agosto de 2020, em plena pandemia, na região do rio Abacaxis, município de Nova Olinda do Norte, após um conflito e desentendimentos entre moradores da região e o Secretário de Governo do Estado do Amazonas, devido o mesmo estar pescando em área não permitida, assistiu-se a mais uma cena de terror e violência. 

No conflito o Secretário foi baleado e prometeu vingança. Forças policiais então foram deslocados para a região, e, a partir de conflitos, dois policiais foram mortos, após o que pelo menos oito pessoas, indígenas e ribeirinhos, foram brutalmente assassinadas, alguns com fortes indícios de execução.

Mais de 50 organizações da sociedade civil denunciaram as torturas, as prisões ilegais e os assassinatos e pediram o imediato afastamento da cúpula da Segurança Pública do Amazonas.

Posteriormente o próprio Ministério Público Federal confirmou as denúncias feitas por ribeirinhos e indígenas. Mas nenhuma providência foi tomada pelo governo do Amazonas. Mais uma vez imperou o silêncio conivente do poder público.

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Motivações

Esses são alguns fatos ocorridos recentemente no estado do Amazonas, sem que se questionem de forma mais incisiva e resolutiva as reais motivações para tanta violência.

As denúncias que pairam, por exemplo, sobre o Secretário de Segurança do Estado do Amazonas, Coronel Lousimar Bonates, são gravíssimas, assim como é gravíssima a paralisia do governo do Amazonas diante de tantas denúncias e tantos fatos graves.

A omissão ou silêncio e paralisia conivente do poder público só fazem com que os desmandos imperem no estado do Amazonas, levando não apenas a perda de dezenas de vidas mas ao comprometimento do futuro de tantas vidas, vidas de jovens, pobres e de periferia.

O Amazonas está desgovernado e pedindo socorro!

 

**Vanessa Grazziotin é ex-senadora da República e membro do Comitê Central do PCdoB. Leia outros textos.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Vivian Virissimo