O bairro de Brasília Teimosa, no Recife, tem uma história de luta e resistência popular, que começa com a “teimosia” dos moradores em não aceitar deixar aquela terra, cujo nome homenageia outra Brasília, que estava em construção na época em que o bairro ganhou nome. A marca da resistência está presente ainda hoje, na força das moradoras para superar esse período de crises sanitária e socioeconômica.
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Em meio à pandemia, um grupo de mães da ONG Turma do Flau percebeu que as integrantes tinham em comum, além da maternidade, a necessidade de ter renda própria.
A busca pela autonomia financeira começou em 2018, abriu portas para outras mulheres da comunidade e, este ano, colocou em prática uma ação que une reciclagem de garrafas pet e oportunidade de negócios. Confira a reportagem:
“O projeto seria só para as mães do Flau, mas vimos que muitas mulheres que não eram do Flau queriam participar desse projeto.Então abrimos para a comunidade, e hoje somos em torno de 20 mulheres que, mesmo na pandemia, todas vêm ao menos uma vez na semana aqui fazer vassoura”, conta Carolina Patrício dos Santos, coordenadora do grupo "Mulheres que Geram Renda", moradora de Brasília Teimosa e militante da Marcha Mundial das Mulheres.
Parte do lucro fica para as mulheres e outra é reinvestida na fábrica de vassouras. A iniciativa beneficia diversas mulheres que estão conseguindo alcançar independência financeira com o projeto.
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Entre elas está Maria Elisoneide Rodrigues, que é costureira, estava sem emprego, mas encontrou no grupo uma oportunidade.
“Cada vassoura dessas, algumas são R$10, outras R$15. Posso fazer eu mesma. Hoje enchi uma bandeja com 15 garrafas, que é o necessário para produzir uma vassoura. Se eu fizer duas, uma é minha e a outra é do grupo, para comprar material, matéria-prima, essas coisas que precisa”, disse Elisoneide.
A iniciativa, para além de gerar renda e autonomia para as mulheres da comunidade, contribui com a retirada do plástico do meio ambiente, que demora cerca de 100 anos para se decompor na natureza.
“A importância é que a gente está fazendo um mundo melhor lá na frente para os nossos netos, nossos filhos, a partir do momento que a gente arrecada esse material reciclável. E também porque, além de ser um lixo, que pra gente é um luxo; porque a gente consegue com uma coisa que tá ali, que ninguém dá valor, fazer uma obra de arte, que é a nossa vassoura de garrafa pet”, avalia Carolina.
As moradoras têm sentido dificuldade para recolher a matéria-prima da produção das vassouras. O grupo lançou uma campanha de arrecadação de garrafas pet através do Instagram do Núcleo Soledad Barret, da Marcha Mundial das Mulheres.
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“O mundo infelizmente não está dando trabalho a ninguém. E muitas pessoas pegam garrafa pet no bairro para sobreviver, e passam a madrugada, a noite toda recolhendo. Como tenho um grupo em que a maioria são idosas, não vou colocar elas de meia-noite para catar garrafa na rua. Então, nossa maior dificuldade hoje, é a matéria prima”, afirmou Carolina.
Mesmo com tantos desafios, as mulheres têm se superado ao aprender um novo ofício com a produção de vassouras. Teimosas como a Brasília em que moram, elas insistem naquilo que pode contribuir para um futuro melhor para as famílias e para o meio ambiente. Essa é a esperança de Elisoneide.
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“Se a pessoa se esforçar, tiver capacidade, interesse... tem que ter interesse para aprender. É errando que a gente acerta, né? Eu erro, eu me esforço, eu quero aprender, eu vou lutando e a gente consegue. Só consegue as coisas assim. São as formiguinhas”, concluiu a moradora.
Fonte: BdF Pernambuco
Edição: Monyse Ravena e Isa Chedid