A ascensão do novo primeiro-ministro, Naftali Bennett, pôs fim ao governo conservador de Benjamin Netanyahu, o mais longo da história israelense, intensamente desgastado por denúncias de corrupção.
Fora do governo, o ex-premiê -- que contribuiu para a escalada da tensão com os palestinos -- corre o risco de ser preso.
O perfil de seu sucessor, no entanto, não aponta para a democratização do estado de Israel, muito menos dos territórios palestinos controlados pelo estado sionista.
Bennett exibe posições liberais relacionadas aos direitos LGBT, mas carrega a promessa de fortalecer a presença militar e anexar grandes partes da Cisjordânia, opondo-se publicamente à solução de dois estados.
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A improvável coalizão vencedora é formada por uma “colcha de retalhos” política, com partidos que vão da extrema-esquerda até a extrema-direita, passando pelo centro e pelo pequeno partido árabe israelense Raam.
Em comum, o projeto de destituir Netanyahu e o desejo de pôr fim à crise política. O Partido Comunista de Israel, contrário à anexação de territórios árabes, ficou de fora da “frente ampla”.
Fortuna com startups
Adversários políticos, Netanyahu e Bennett têm um passado em comum. Foram integrantes da força antiterrorista Sayeret Matkal, unidade de elite das Forças Armadas de Israel.
Então comandante da tropa, o novo premiê determinou em 1996 o bombardeio de Qana, aldeia no sul do Líbano onde viviam refugiados em uma base da Organização das Nações Unidas (ONU), ação que resultou na morte de 102 civis e gerou forte pressão internacional.
Filho de judeus norte-americanos que emigraram para Israel, Bennett deixou a carreira militar e foi estudar nos Estados Unidos. Em 1999, participou da fundação da Cyota, uma empresa de software especializada em combater fraudes.
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Dentro de seis anos, ele se tornaria milionário com a venda da companhia por US$ 145 milhões. Em 2013, quando já era Ministro da Economia de Netanyahu, incrementou a fortuna com a venda por mais de US$ 100 milhões da startup Soluto, da qual era CEO.
Escalada direitista
Em 2006, na esteira da comoção causada pela sangrenta Guerra do Líbano, Bennett deu o salto para a política. O conflito durou 34 dias e resultou na morte de 1.200 libaneses, a maioria civis, além de 157 israelenses, a maior parte soldados.
Seu padrinho político foi o então líder da oposição Netanyahu, de quem ganhou confiança, ocupando posição de destaque no partido Likud, a maior agremiação conservadora do país.
Chegou a ser chefe de gabinete de Netanyahu, mas deixou o partido e se tornou a voz dos colonos judeus na Cisjordânia ao liderar o Conselho de Yesha, fundado com base em um projeto de retorno dos judeus à sua pátria bíblica.
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Na presidência da pequena agremiação de extrema-direita Lar Judaico, contribuiu para o aumento da base parlamentar religiosa, “endireitando” ainda mais o governo Netanyahu, antes de chefiar a Yamina, bloco conservador que apoiou o governo em 2019, mas trabalhou para sua derrubada nas últimas eleições.
Natanyahu promete ser um opositor ferrenho de Bennett, que tem na direita sionista radicalizada seu lastro político. Enquanto isso, Joe Biden sinalizou a continuidade das relações próximas com o país: "Israel não tem melhor amigo do que os Estados Unidos”, postou o presidente americano, ao parabenizar o novo primeiro-ministro.
Edição: Leandro Melito