Temos relatos de pessoas que passaram a fumar mais, a beber mais e a consumir ultraprocessados
Em um momento de mudanças drásticas nos hábitos da população devido à pandemia e às medidas de isolamento social, o Ministério da Saúde está atrasado na realização da pesquisa anual sobre fatores de risco para doenças crônicas, considerada um dos levantamentos mais importantes de saúde pública. Sem perspectiva para realização do levantamento em 2021, o país pode sofrer um apagão de dados, o que impede o planejamento de políticas públicas efetivas para combater esse tipo de doenças, responsáveis por 75% das mortes prematuras no Brasil.
“Estamos em um momento muito importante, com mudanças radicais no estilo de vida das pessoas. Precisamos saber o que aconteceu nesse período em relação ao comportamento da população. São dados muito valiosos, deveriam ser avaliados de forma emergencial para planejarmos o que fazer”, diz Paula Johns, diretora-geral da organização ACT Promoção em Saúde, que monitora tendências dos hábitos dos brasileiros. Ela foi entrevistada na edição de hoje (15) ao Programa Bem Viver.
A Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) monitora há 15 anos os hábitos da população do país. Essas informações são essenciais para traçar o perfil dos brasileiros que convivem com doenças cronicas e levantar fatores de risco, monitorando a frequência e a distribuição dos casos. Assim, é possível planejar políticas públicas de saúde e implantar, por exemplo, programas de combate ao tabagismo, ao consumo excessivo de álcool, a nutrição inadequada e a inatividade física.
:: No escuro: Brasil está sem dados atuais sobre fatores de risco para doenças crônicas ::
“A gente tem relatos de pessoas que passaram a fumar mais, a beber mais, a consumir mais os chamados alimentos ultraprocessados. Tem muita coisa diferente acontecendo. Estamos em um período particularmente muito crítico, que não foi analisado”, disse Paula. Pelo menos 50% dos brasileiros com 18 anos ou mais convivem com algum tipo de doença crônica.
O Ministério da Saúde afirmou que a pesquisa é uma prioridade do governo e que ela ainda não foi iniciada devido a um problema na contratação da empresa responsável pelo levantamento. Vale reforçar que mesmo a pesquisa realizada nos primeiros meses de 2020, última disponível, foi divulgada com atraso, após pressão popular e trouxe inconsistências e problemas na sistematização dos dados, o que dificulta análises.
Direitos indígenas
Povos indígenas de diversas etnias permanecem acampados em Brasília para acompanhar e pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional pela demarcação de terras e por mais vacinas para os territórios indígenas.
Segundo relatório publicado recentemente pela Comissão Pastoral da Terra, o número de famílias indígenas afetadas por invasões quadruplicou sob o governo do presidente Jair Bolsonaro. Nas últimas semanas, indígenas denunciaram diversos ataques de garimpeiros ilegais contra os povos Munduruku e Yanomamis, nestes últimos inclusive com casos de crianças mortas.
:: CPT estima quase 1 milhão de envolvidos em conflitos no campo, maior número desde 85 ::
Apenas em 2020, 71% das vítimas de invasões de terra e grilagem foram indígenas. “A invasão aumentou porque o governo Bolsonaro tem base política que visa grandes empreendimentos e estão atacando mesmo, inclusive aqui. Há madeireiros e desmatadores ilegais querendo exterminar os indígenas do território em plena pandemia”, diz o guardião da floresta Olímpio Guajajara, que coordena o grupo de Guardiões da Floresta da Terra Indígena Araribóia, no Maranhão.
Doação de sangue
Na saúde pública, o mês de junho é conhecido como Junho Vermelho, para incentivar a doação de sangue, um ato simples, rápido, que não dói nada e pode salvar muitas vidas. No entanto, com pandeia, os hemocentros registraram uma drástica redução nos estoques de sangue. Segundo Ministério da Saúde a baixa foi de 20% em todo país.
Podem doar sangue pessoas entre 16 e 69 anos que tenham mais 50 quilos. É preciso estar bem alimentado, ter dormido ao menos 6 horas nas últimas 24 horas e apresentar documento oficial com foto. Não podem doar sangue gestantes, lactantes, pessoas que tiveram hepatite, pessoas que já utilizaram drogas injetáveis e quem têm doenças transmissíveis pelo sangue. Ano passado caiu a restrição de doação por homens gays, considerada discriminatória e inconstitucional.
Se você puder, não deixe de visitar o hemocentro mais próximo e doar sangue, seguindo todos os protocolos de segurança da pandemia.
:: Para comemorar ano de inclusão, entidades LGBTI fazem campanha de doação de sangue ::
Cinema indígenas
Até o próximo dia 20 ocorre a MOÃ, a Mostra de Cinemas Negros e Indígenas. Ela é online e totalmente gratuita.
A curadoria é assinada pelos cineastas Thiago Costa, Graci Guarani e Ziel Karapotó. Ao todo serão exibidos 35 filmes seguidos de sessões de debate. O evento também vai ter oficinas com a crítica e pesquisadora Kênia Freitas, a documentarista Everlane Moraes; o artista e professor Stênio Soares e o líder indígena e escritor Ailton Krenak.
Do Tupi-Guarani, MOÃ é uma palavra que significa “mãos” em português. Isso porque, segundo os curadores, a mostra surgiu dessa necessidade de mostrar pro público as narrativas pela perspectiva de quem vive essas histórias.
Acompanhe a programação completa aqui.
Sintonize
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Edição: Sarah Fernandes