As manifestações do 19 de Junho seguirão na agenda da esquerda brasileira e cada vez maiores, como foi em relação ao 29 de Maio, e dando continuidade ao desafio de nos colocarmos nas ruas de forma massiva e responsável: com uso de máscaras, álcool em gel e seguindo as demais medidas de segurança.
Há a avaliação coletiva da necessidade de retomar a dinâmica de lutas políticas nas ruas, em que o seu conteúdo é carregado de indignação e cobrança pela vacinação em massa, por medidas contra o problema da fome como retomada do auxílio emergencial de 600 reais, por "Fora Bolsonaro".
Partimos do reconhecimento de que o 19J foi mais amplo e protagonizado por diferentes setores populares da sociedade, por mais partidos, sindicatos e demais organizações da esquerda.
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Fomos às ruas como torcidas organizadas, como juventude periférica denunciando as brutalidades da violência estatal, como trabalhadoras e trabalhadores do campo e da cidade, como agentes e voluntários das campanhas de solidariedade por todo o país.
Fomos às ruas tanto em maior quantidade, quanto com maior qualidade em relação aos cuidados com o distanciamento, através das fileiras e blocos, parte da segurança com a saúde, sempre com uso contínuo de máscaras e álcool, trazendo nossas bandeiras, batucadas e símbolos.
A partir de relatos e análises de militantes que atuam na linha de frente com as ações de solidariedade no interior da Campanha Periferia Viva, o artigo tem a intenção de observar um sentido geral a ser explorado na participação desses atos, a partir de uma reeducação da sensibilidade, conexão e reorganização da classe trabalhadora.
Dessa sensibilidade mais ampla, produzida na prática cotidiana, se destacam o aspecto da alegria experimentada pelas pessoas ao participar das lutas, desde que preparadas previamente e com os desdobramentos das condições de participação das pessoas.
O segundo aspecto é o agravamento das condições de vida compondo parte dos porquês dos limites de participação ativa nas lutas. Certamente em meio a estes dois aspectos, há muitos outros, os quais precisamos refletir.
A organização dessa reflexão pode se orientar de onde conseguimos, por militantes ligados à Campanha Periferia Viva, participar dos atos do 19J e quais os motivos das dificuldades impostas?
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A contra motivação geral está ligada ao agravamento da precarização das condições de vida pela conjuntura política. Entre os muitos problemas agravados, a síntese é a questão do tempo para se manter. Pela falta de trabalho e renda manter os custos da moradia, aluguel, alimentação, de sobrevivência se torna insustentável.
As reações de quem tem passado por estes processos prévios de preparação, relação e organização são muito interessantes e importantes no campo das condições subjetivas, onde se destacam as reações de alegria em participar, em sair de seus locais, de “seus mundos” e entrar em um tipo contato público, nas ruas com outros, seus semelhantes, em um contexto em que se torna possível ver outros em luta.
Há nesse percurso um sentimento de legitimação e um se sentir contemplados em falas que destacam problemas comuns aos seus.
Esse percurso de preparação ativa proporciona a organização de tarefas, sejam direcionadas às manifestações como na agitação, na comunicação e na contribuição por agentes populares de saúde nos atos, atuando na tarefa dos cuidados, como nas tarefas de distribuição de máscaras e álcool em gel aos participantes ou de arrecadação de doações em pontos de concentração.
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Esse conjunto pedagógico de trabalho, iniciado muito antes dos atos, faz parte dos esforços de aprofundarmos a vinculação, através da criação e invenção de espaços coletivos agregadores de aprendizados via ações concretas, refletidas, decididas e compartilhadas.
A divisão de tarefas, é também divisão de responsabilidades, oportunidades de aprendizagem de novas habilidades, de integração social, reconhecimentos, legitimação de novos membros nos grupos, da necessidade da organização perene.
São desdobramentos da concepção de solidariedade ativa, orgânica e popular, com a capacidade de gerar um campo de fortalecimento das relações de confiança entre militantes, voluntários e comunidades que estão envolvidas diretamente ou não nas campanhas.
Essa dinâmica respeitosa se liga às percepções do segundo aspecto, dos porquês da não participação da maioria das pessoas, acessadas pelo trabalho de solidariedade.
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Os retornos do quanto pesa para grande parte das trabalhadoras e trabalhadores que vivem nas periferias, o trabalhar aos sábados, o mal ter uma folga aos domingos. Uma grande indicação de alerta acerca de como envolver e encaixar nas dinâmicas quem tem disposição de se somar, mas a disponibilidade muito reduzida.
Não se trata de um elemento novo, o fato de que nos últimos anos a jornada de trabalho, perdeu formas, controles, limites e proteções sociais, deixando a maior parte da classe trabalhadora exposta às condições e relações cada vez mais despóticas de trabalho, sem tempos e sem espaços para sequer descansar e se recompor.
Contexto de precarização e superexploração que produz um agravamento das condições de saúde muito mais vulnerável em milhares de pessoas, contribuindo com as comorbidades tão indesejadas para evitar riscos com a covid-19.
Desse modo, muitas pessoas gostariam de participar mas tiveram de trabalhar, ou temem a contaminação do vírus em suas saúdes já debilitadas, temem levar o vírus para suas famílias com pessoas de risco e onde a vacinação não chegou.
Somos desafiados a costurar pela prática, no cotidiano e a partir das análises coletivas, os diferentes e novos formatos de ação na realidade com os métodos clássicos bem experimentados de interferir nela, precisamos criar uma ponte entre todo esse acúmulo de rebeldia, de indignação e de revolta com a situação política imposta com um processo esperançoso, com uma proposta de mudança e um projeto de Nação.
Esse desafio apresentado se torna um caldo a ser preenchido por esses momentos de manifestações, momentos que dão uma ideia concreta às reivindicações tão questionadas nestes momentos recheados de angústia e desesperança.
Pois além de desmontar o bolsonarismo, precisamos construir um país onde cabe o seu próprio povo, não como escravo, serviçal, superexplorado, mas como gente capaz de criar um outro modo de vida, anticapitalista, antipatriarcal, antirracista, anticolonial. Um país e um povo, com soberania, dignidade, igualdade nas diversidades, livres de oprimidos e opressores.
Continuaremos a ocupar as ruas, nos somando nas fileiras, reafirmando a necessidade de seguir as orientações do uso de máscaras e álcool e de respeitar um distanciamento nas fileiras, continuaremos reivindicando a vacinação em massa e a recuperação das medidas econômicas de sobrevivência da população, como o auxílio emergencial, sempre reafirmando o "Fora Bolsonaro".
*Eliane Martins é Militante do MTD, compõe a Coordenação da Escola Nacional Florestan Fernandes e a Coordenação Nacional da Campanha de Solidariedade Periferia Viva
**Gabriel Remus é Militante do Levante Popular da Juventude e Coordenação Nacional da Campanha de Solidariedade Periferia Viva
***Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Leandro Melito