O PSB escalou todo seu primeiro escalão para recepcionar, na manhã desta terça-feira (22), seus três mais novos filiados: o governador do Maranhão, Flávio Dino, o deputado federal Marcelo Freixo (RJ) e o ex-vice-governador do Espírito Santo e ex-deputado Givaldo Vieira. Com variações, os pronunciamentos miraram o processo eleitoral do próximo ano, a necessidade de alianças contra o atual governo, sem se limitar à esquerda, e os riscos à democracia.
O perigo tem nome, disse Dino, que deixou o PCdoB após 15 anos. “Essa eleição de 2022 não é uma a mais. (É uma) batalha fundamental em torno de tudo que nós conseguimos concretizar, plasmado sobretudo na Constituição de 1988. A eleição de 2022 é um plebiscito entre aqueles que querem a continuidade da democracia, com o povo, e um projeto de extermínio nacional e popular, com destruição da nação. Não podemos cometer erros.”
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Exemplo de 1964
Erros que teriam sido cometidos, segundo ele, antes do golpe de 1964, quando se “minimizou o mal”, algo que não pode acontecer novamente. “O perigo está no poder, e o perigo está matando. Por mais absurdo que seja, o Bolsonaro será candidato à reeleição, por sobre uma pilha de tragédias, nada de positivo a apresentar.”
Assim, emendou o governador, derrotar o atual presidente é tarefa conjunta: comunistas, socialistas, trabalhistas, lulistas, petistas, mas também de liberais progressistas. “E sobretudo aqueles que não têm opinião política. É a eles que temos que falar, acima de tudo. O que a conjuntura exige é que nós consigamos juntar, unir, quebrar arestas, quebrar resistências, preconceitos, para que a democracia possa prevalecer.”
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Conversas com Lula
Ele aproveitou para contestar quem imagina que sua mudança partidária seria uma espécie de ponte para se unir eleitoralmente ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Jamais teria essa pretensão de subordinar um partido com a tradição do PSB a interesses imediatistas. Faremos o bom debate”, afirmou.
Dino se emocionou ao homenagear o ex-governador pernambucano Eduardo Campos, que morreu em acidente aéreo durante a campanha presidencial de 2014. No ato de hoje, estava presente o atual governador, Paulo Câmara, além de Renato Casagrande, do Espírito Santo, e Márcio França, ex-governador de São Paulo e atual presidente da Fundação João Mangabeira, fundador do PSB, em 1947. Também participou o prefeito de Recife, João Campos, filho de Eduardo.
Civilização contra barbárie
Agora ex-PSOL, Freixo falou em seguida a Dino e também ressaltou a importância do processo eleitoral. “Sem dúvida nenhuma o ano de 2022 será o mais importante da nossa história. A eleição de 2022 será a mais importante da nossa história, até porque pode ser a última. Nossa democracia está em risco”, afirmou o deputado.
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Apontado como candidato a governador, ele disse que a luta no Rio “é civilização contra barbárie, contra o crime que se organizou naquela estado e vem arrancando a possibilidade de ser feliz. A gente não pode assistir isso (riscos à democracia) da varanda”, acrescentou, para finalizar citando o compositor Chico Buarque, em referências à música Vai Passar (1985) como a expressão “sanatório geral” na política. “Tudo isso que a gente está assistindo vai passar. A coragem é a forma de a gente lidar com o medo, e o medo se estabeleceu no país.”
Reafirmação do partido
Líder da oposição na Câmara, o deputado Alessandro Molon (RJ) também usou a palavra “coragem” para definir medidas adotadas pelo partido contra parlamentares que votaram, por exemplo, a favor da “reforma” trabalhista de 2017. “O partido teve a coragem de expulsar 13 deputados, quase a metade da banda. Era preciso ter coragem de reafirmar o que é o PSB. Por causa disso, vários outros vieram. A coragem de refazer o programa do partido.”
Possível candidato ao Senado em 2022, Molon elogiou os novos filiados e, ao se referir a Dino, ex-juiz federal, fez sutil referência a Sergio Moro: “Não fez política no Judiciário, saiu do Judiciário para fazer política”.
Para o presidente da legenda, Carlos Siqueira, com a filiação de Dino e Freixo o PSB ganha um “reforço extraordinário na luta contra esse governo terrível”. Segundo ele, é preciso “reconquistar” o Brasil, onde a democracia está “se esvaindo lentamente”. Para isso, será preciso um “projeto nacional de desenvolvimento que passe pela economia criativa, pela quarta revolução industrial”.
Assim, para afastar o risco de outra ditadura, será preciso reunir não só a esquerda, mas “todos aqueles que lutam pela liberdade e pela democracia”.