O título deste artigo remete à obra de Roberto Schwarz publicada em 1987. Com a pergunta, este que é um dos maiores pensadores brasileiros remetia ao problema fundamental de uma formação social que permanentemente repõe o atraso em seu processo de modernização.
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Por isso, a definição do atual está no centro de uma produção cultural ao mesmo tempo cosmopolita e derivada de nosso passado colonial. Os mais variados âmbitos do nosso cotidiano brasileiro repõem este problema fundamental de nossa estrutura social, e neste 19J não foi diferente.
Enquanto milhares de pessoas denunciavam um genocídio em curso, este se impôs de forma arredondada, explícita: 500 mil é o tamanho do passado que se sobrepõe sobre nossas vidas.
Parte significativa de quem se afirma como Brasil moderno vira as costas para tamanha atrocidade e segue a vida como se o tempo fosse de normalidade.
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Apenas aparentemente o dito “mercado” está alheio à realidade do cotidiano vivido. As privatizações seguem o mesmo ritmo. As chamadas “reformas” seguem o mesmo ritmo.
A bolsa de valores também, com quebra de recordes, na escala dos milhares de pontos. Todos em busca do futuro. Dia após dia, o atraso se revela presente, em números de mercado e de mortes, que avançam em mesma velocidade.
É justamente essa a hora atual, o tempo Guedes-Bolsonaro. Aquilo que o mesmo Schwarz denominou como neoatraso.
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Para fazer avançar o programa econômico que orienta o mercado em esfera transnacional, repõe-se o que há de mais atrasado no âmbito local. As pontas que ligam futuro e passado possuem um denominador comum, o privilégio de alguns acima de tudo, o sofrimento acima de todos.
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Mas também se reencontra no tempo presente a busca por uma transformação profunda de nossa estrutura social, em favor da vida. O 19J, por formas variadas, foi uma nova demonstração de que existe uma maioria no país disposta a enfrentar este passado que busca se impor. Os ouvidos de quem manda devem seguir moucos.
Porém, as milhares de pessoas que saíram às ruas nos dias 29 de maio e 19 de junho parecem estar com ânimo de não esperar por um futuro idílico, ou por calendários estanques, próprios de quem é apegado a eventos, como as eleições.
Os atos foram simbólicos, fortes e pacíficos. O desafio é ampliar para todos os setores da sociedade civil que não concordam com a política genocida do governo Bolsonaro.
O neoatraso segue diariamente atualizando seus números: 510.000, 520.000, 530.000. O parlamento não pode esperar a morte de outras 500 mil pessoas para dar início ao processo de impeachment. A hora de impedir passou. É ontem. É agora. Amanhã já foi.
Fora Bolsonaro, já.
*Raimundo Bonfim é advogado, coordenador nacional da Central de Movimentos Populares (CMP), da coordenação da Frente Brasil Popular e integrante da Campanha Fora Bolsonaro.
**Hugo Fanton é pós-doutorando em Ciência Política na USP.
***Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Vivian Virissimo