Em depoimento na sexta-feira (25) à CPI da Covid, o deputado Luis Miranda (DEM-DF) afirmou que o nome citado pelo presidente Bolsonaro (sem partido), como responsável pelo esquema pela compra da vacina indiana Covaxin, com preço superfaturado, é o do deputado Ricardo Barros (PP-PR).
Luis Miranda e o irmão, Luis Ricardo, que é chefe do setor de importação do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, foram chamados para depor após afirmarem que o presidente Bolsonaro havia sido notificado, com antecedência, sobre as irregularidades no processo de compra das vacinas.
Segundo afirmação dos depoentes, feita com apresentação de prints de conversas e trocas de mensagens por voz em aplicativos, um dossiê com as suspeitas foi entregue ao mandatário que, na época, afirmou que iria encaminhar a investigação. Porém, nada foi feito nesse sentido.
O nome de Ricardo Barros foi citado por Luis Miranda após questionamento feito pela senadora Simone Tebet (MDB-MS), que indagado respondeu:
“A senhora também sabe que foi Ricardo Barros que o presidente falou. Eu não me sinto pressionado para falar, eu queria falar desde o primeiro momento, mas é porque vocês não sabem o que vou passar”, afirmou Miranda.
Ricardo Barros na política
Natural de Maringá, Ricardo Barros é deputado federal do Partido Progressistas pelo estado do Paraná. É a sexta vez que o deputado ocupa o cargo, sendo a primeira em 1995.
Líder do governo na Câmara dos Deputados, Barros ganhou o posto após indicação de Arthur Lira, atual presidente da Câmara, com a promessa que poderia ajudar na articulação política do presidente no Congresso.
Em 2011, esteve envolvido em escândalo de corrupção em licitação de publicidade da prefeitura de Maringá. Segundo denúncia movida pelo Ministério Público do Paraná, em 2015, Barros teria orientado o secretário municipal de saneamento de Maringá, Leopoldo Fiewski a fazer um “acordo” entre duas agências de comunicação que disputavam licitação, um negócio de R$ 7,5 milhões. O prefeito na época era Silvio Barros (PP), irmão de Ricardo.
Quatro dias após a divulgação das gravações que trouxeram o caso à tona, ele anunciou que deixaria o cargo para trabalhar na campanha de Roberto Pupin, também do PP, à Prefeitura de Maringá.
Em 2016, após o processo de impeachment da presidente Dilma, com voto favorável de Barros, o deputado foi o relator do Orçamento. Na ocasião, anunciou corte de R$ 10 bilhões no Bolsa Família como medida para cumprir a meta do governo de superávit daquele ano, de 0,7% do PIB.
Durante o governo de Michel Temer, foi Ministro da Saúde, e avançou com medidas de enfraquecimento do Sistema Único de Saúde (SUS).
A tentativa de corte de mais de 11 bilhões de reais da pasta da Saúde, a defesa de planos de saúde privados e cortes de servidores públicos de forma arbitrária, fizeram com que o deputado ganhasse o nome “Ministro da Doença”.
No período, numa sequência de ataques ao SUS, afirmou que muitos pacientes recorrem ao médico por “imaginar doenças” e que as mulheres acessam mais a rede pública de saúde porque trabalham menos.
Recentemente, Ricardo Barros defendeu a contratação de parentes no serviço público. Feita em abril deste ano, a proposta dele previa que a liberação do nepotismo, prática proibida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por violar o princípio constitucional da impessoalidade na administração, fosse discutida no contexto da reforma da lei de improbidade administrativa.
Em entrevista ao Estadão, o deputado defendeu a mudança do artigo 11 da Constituição Federal, para que fosse permitido esse tipo de contratação.
“O poder público poderia estar mais bem servido, eventualmente, com um parente qualificado do que com um não parente desqualificado. Só porque a pessoa é parente, então, é pior do que outro?”, afirmou.
Barros é também conhecido defensor da tese de imunidade de rebanho como estratégia de combate à pandemia.
Em outubro de 2020, o deputado participou de evento na Câmara dos Deputados dedicado ao tema com presença de Paolo Zanotto, Anthony Wong e Nise Yamaguchi, médicos conhecidos por integrar o chamado Gabinete Paralelo, que assessorou informalmente o presidente durante a pandemia.
Edição: Isa Chedid