Estudantes da UniRitter Zona Sul, em Porto Alegre (RS), estão denunciando uma estudante que fez uma fala racista durante uma aula online. A estudante é do curso de Enfermagem e, durante a exposição de um colega, ela escreveu no chat da turma que "africano fede até com banho, é triste gente".
O episódio de racismo aconteceu no último dia 21, durante uma reunião de "Estágio Supervisionado 1", uma das matérias do curso.
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Segundo um estudante contatado pelo Brasil de Fato, essa matéria funciona como uma reunião geral entre várias turmas, onde os estudantes relatam suas experiências nos seus estágios, nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) onde atuam.
O estudante que nos deu o relato estava na reunião virtual, e preferiu manter sua identidade em sigilo. Ele relata que, durante a reunião, uma colega estava trazendo o caso de uma UBS em que atua, na cidade de Canoas, na qual atende uma comunidade de haitianos. Esta colega relatava vários casos de pacientes que ela atende, momento em que outra colega comentou no chat da sala virtual:
Segundo informou o estudante contatado pelo Brasil de Fato, no mesmo momento, vários colegas repreenderam a autora do comentário, criticando.
Outros porém, em minoria, disseram que havia sido apenas um comentário infeliz, mas que não era racismo, tentando amenizar a situação. "A professora se pronunciou, repreendeu a aluna no mesmo momento. Inclusive, gostaria de elogiar a postura dela e dos outros professores", afirmou o estudante.
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A fala, além de racista, é incorreta, pois o caso que estava sendo mostrado era de uma comunidade de haitianos, que não são africanos, pois o Haiti fica no continente americano, na região do Caribe.
A estudante que fez a fala racista se pronunciou, alguns dias após o ocorrido. Em uma mensagem assinada, ela tenta se justificar dando uma resposta bastante comum em situações onde falas racistas são expostas: "não quis ofender ninguém" e "me expressei erroneamente":
Questionada sobre o ocorrido, através de sua assessoria de imprensa, a Universidade encaminhou uma nota oficial, afirmando que a Uniritter "repudia qualquer atitude discriminatória, seja ela no ambiente acadêmico ou fora dele".
Além disso, declarou que encaminhou o tema "sob o ponto de vista pedagógico e, também, as medidas cabíveis seguindo seu Regimento Geral". Também disse que "permanece à disposição para contribuir com a autoridade policial". A íntegra da nota está reproduzida ao final da matéria.
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Após a resposta com a nota oficial, perguntamos à assessoria de imprensa sobre o que seriam as "medidas cabíveis seguindo seu Regimento Geral", e se a universidade encaminharia o caso à "autoridade policial", visto que a nota fala em apuração de fatos relacionados à lei penal.
Sobre essas questões, o assessor responsável afirmou que a nota era clara, e que a "manifestação da instituição é a nota". Além disso, disse que "cabe às vitimas levar o caso à polícia".
Repercussões do caso
Ao tomar conhecimento do caso, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Uniritter Zona Sul lançou uma nota exigindo atitudes em relação ao ocorrido.
Afirma que "é preciso muito mais do que uma nota de posicionamento dizendo que sente muito e que a discriminação não é incentivada". O DCE também cobra: "O que a Uniritter tem feito para colaborar na luta antirracista? Quais as medidas que vão ser tomadas a partir desse episódio, que não é isolado, mas que ganhou maior exposição?".
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Na tarde de quinta-feira (24), ocorreu uma reunião entre a coordenação do Campus Zona Sul da UniRitter, a Associação Atlética, o grupo de ações afirmativas Lélia Gonzalez e a gestão do DCE Uniritter Zona Sul.
O objetivo da reunião foi saber que tipo de medidas seriam tomadas. Foi informado que ações já estão sendo encaminhadas, para além da nota que foi publicada. Foi afirmado na reunião que a aluna será responsabilizada, segundo o regimento interno do Ecossistema Ânima (empresa investidora da universidade).
O relato na página do DCE afirma também que, até o momento, as medidas estão sendo mantidas em sigilo e que serão divulgadas em breve. Os estudantes que estiveram presentes na reunião aproveitaram o espaço para propor medidas permanentes dentro da universidade, "para que o debate e as práticas antirracistas sejam incorporadas ao currículo e diretrizes da instituição".
Estudantes negros da Uniritter se mobilizam
A estudante de Direito da Uniritter Pamela Campos Bandeira, uma mulher negra, foi uma das que criaram o Grupo de Ações Afirmativas Lélia Gonzales. "Quando eu tive conhecimento do fato racista, eu me senti muito triste, pois aquele fato, a fala dela e a nota que ela lançou depois, se estenderam até mim. Aquilo teve um impacto, fiquei pensando, se ela fala isso, outras pessoas devem pensar assim também. Depois veio o sentimento de revolta, preciso fazer alguma coisa, temos que mobilizar."
A partir do episódio, em conjunto com outros colegas decidiram reativar o Grupo de Ações Afirmativas Lélia Gonzalez, que havia sido fundado ano passado por ela, junto com o colega Carlos Alberto Machado Alves, também do curso de Direito e uma professora do curso, que atualmente já não dá mais aula na universidade.
Ela relata que o grupo já havia realizado uma série de debates, entre eles, sobre violência policial e branquitude, racismo na mídia, racismo no ambiente de trabalho, o homem negro e a mulher negra.
Após a saída da professora, o grupo diminuiu as atividades, mas, após o fato da fala racista, os estudantes se reorganizaram e reativaram o grupo nas redes e estão planejando debates. Além disso, estudantes negros da instituição, mas também de fora, estão mobilizando uma campanha nas redes sociais, divulgando fotos com os dizeres "Sou estudante e não aceito racismo".
Pamela afirma que o objetivo agora é manter vivo o debate sobre as práticas antirracistas, fazendo do Grupo de Ações Afirmativas Lélia Gonzalez uma plataforma para essa mobilização. É possível acompanhar sua agenda de atividades através da página no Instagram.
Nota oficial da UniRitter sobre o caso
"A UniRitter, como instituição de ensino, atua na promoção da formação crítica, cidadã e consciente da comunidade acadêmica, reforçando preceitos a respeito da diversidade, da cultura da paz e dos direitos humanos, sem discriminação de raça, gênero, orientação sexual, crença religiosa e origem social. Sendo assim, repudia qualquer atitude discriminatória, seja ela no ambiente acadêmico ou fora dele.
Tão logo tomou conhecimento dos fatos ocorridos, a instituição endereçou o tema sob o ponto de vista pedagógico e, também, as medidas cabíveis seguindo seu Regimento Geral.
A UniRitter esclarece que permanece à disposição para contribuir com a autoridade policial, a quem compete apurar de fatos relacionados à lei penal. Por fim, reafirma que lamenta o ocorrido e expressa solidariedade às pessoas que foram atingidas."
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Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Katia Marko