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Não pode haver dúvida: o impeachment é pra já

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Não podemos mais continuar assistindo de forma passiva tantas ameaças à democracia, mais vidas perdidas e um país sendo destruído - Paulo Pinto / AFP
Vem à público a corrupção no seio do governo, denúncias confirmadas desde a semana passada

Já tem algumas semanas que o tema do impeachment me move nesta coluna. Entretanto, em nenhum momento esse tema chega com tanta força como agora. Em nenhum momento essa possibilidade foi tão factível como é agora. 

Não há como tratar de outro assunto que não seja o impedimento, a abreviação do mandato de Jair Messias Bolsonaro e da luta que vem crescendo em todo o Brasil, devido, principalmente, às novas, fortes e gravíssimas denúncias de corrupção contra seu governo.

E é exatamente por isso que cresce o debate se Bolsonaro deve ou não sofrer um impeachment. Se ele deve sair agora ou sangrar até 2022.

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São duas faces de uma mesma moeda. Creio que a adesão e o crescente empenho de grandes parcelas da mídia brasileira, pelo desgaste e até pelo impeachment de Bolsonaro, tem como objetivo principal evitar uma polarização eleitoral em 2022, entre Lula x Bolsonaro, e assim, abrir caminho para uma candidatura de centro ou centro direita, que sustente as teses neoliberais. 

As pesquisas mostram claramente que com Lula e Bolsonaro na disputa, dificilmente haverá espaço viável para qualquer outra candidatura, tanto que assistimos a várias desistências, como a de Luciano Huck, por exemplo.

Já do lado de Lula também muitas são as dúvidas e questionamentos. Alguns pensam se não seria o caso de deixar Bolsonaro corroer e enfrentá-lo em 2022, um candidato enfraquecido e desgastado. Mas não é bem assim que a banda toca. 

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Bolsonaro dispõe de meios para trabalhar sua recuperação, pois o Estado brasileiro, mesmo em crise, é muito forte, e tem uma grande capacidade de investimentos. De forma oportunista e politiqueira ele pode manipular em seu favor recursos, programas e ações.

De nossa parte, desde já reafirmamos que o Brasil, nossa gente e nossa economia não suportam mais Bolsonaro. Não podemos mais continuar assistindo de forma passiva tantas ameaças à democracia, mais vidas perdidas e um país sendo destruído, completamente dilapidado.

A CPI da Covid-19 do Senado Federal, na busca da verdade, vem prestando um serviço significativo à nação brasileira, no sentido não só de mostrar a participação direta, e portanto a culpa, do próprio Bolsonaro em no mínimo três ações:

(a) no atraso da vacinação no Brasil, (b) na insistência do uso de medicamentos ineficazes, sem qualquer comprovação científica - o  tal “tratamento precoce” contra a covid-19 e, (c) na persistente desobediência legal em relação às medidas protetivas, como o uso de máscaras e o distanciamento social.

Esses fatos por si só já são muito graves, ao ponto de justificar e dar força jurídica às mais de 120 denúncias e pedidos de abertura de impeachment.

Ocorre que novos fatos e novas denúncias surgem com muito mais força. Vem à público a corrupção no seio do governo, denúncias confirmadas desde a semana passada, com o depoimento dos irmãos Miranda, na CPI.

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Notícias dão conta de um possível acerto de propina, na compra de vacinas, numa verdadeira ação criminosa coordenada pelo líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP- PR). E o que é pior, tudo com o conhecimento do presidente. 

São denúncias gravíssimas que Bolsonaro jamais veio à público desmentir. Nada disse, nada fez. Bolsonaro se calou!

Apenas uma nota tentando “justificar” que o presidente de fato soube das denúncias, e que teria pedido ao então ministro da Saúde, Eduardo Pazzuello, que as investigasse. Já o ministro, por sua vez, disse ter encaminhado a denúncia ao então Secretário Executivo do Ministério, que hoje é assessor especial da Casa Civil da Presidência, Elcio Franco. Entretanto, nada de concreto foi feito.

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Claro e provado está, portanto, que Bolsonaro sabia da corrupção e prevaricou. Prevaricação é crime de responsabilidade, que, como sabemos, pode gerar impeachment. 

Diante de intimidações de setores bolsonaristas, o deputado federal Luiz Miranda (DEM-DF) - aliado do presidente, que foi eleito quando ainda residia nos EUA e cuja vida profissional e política é marcada por inúmeras denúncias e processos judiciais - contra-ataca e ameaça fazer novas revelações capazes de “explodir a República”.  

O fato é que as novas denúncias que pesam sob Bolsonaro são gravíssimas. Possíveis crimes de corrupção que se somam a tantos outros crimes e que tornam realidade, tornam factível a possibilidade de seu impedimento. 

Ontem, juristas, partidos políticos e entidades populares de amplo espectro protocolaram um superpedido de Impeachment.

Na mesma linha de luta crescente, a manifestação popular marcada para o dia 24 de julho foi antecipada para o próximo dia três.

Essas são ações que revelam a disposição de lideranças políticas de nosso país levarem adiante a luta pelo impeachment de Bolsonaro já, o que demonstra a inequívoca responsabilidade perante o país e o povo brasileiro, pois absolutamente nada pode justificar a defesa da permanência de Bolsonaro até 2022. Nada pode justificar uma luta do “faz de conta”. 

A continuidade de Bolsonaro no poder não significa apenas a destruição do Brasil e de nosso patrimônio, ou da retirada de direitos e da destruição dos programas sociais. Significa a perda de mais vidas. E o Brasil não suporta mais tanto sofrimento e tanta desgraça. 

 

*Vanessa Grazziotin é ex-senadora da República e membro do Comitê Central do PCdoB. Leia outros textos.

*Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Leandro Melito