Impulsionados pelas recentes revelações na CPI da Covid de corrupção na compra de vacinas pelo governo federal e pelo sucesso das manifestações anteriores, milhares de brasileiros e brasileiras voltaram às ruas neste sábado (3) para gritar “Fora Bolsonaro”. Como aconteceu nos atos de 29M e 19J, as manifestações no Rio Grande do Sul começaram já nas primeiras horas da manhã.
Pelo menos 26 cidades gaúchas registraram atos durante o dia. As manifestações foram acompanhadas e comentadas ao vivo nas páginas do Brasil de Fato RS e da Rede Soberania, numa transmissão coletiva reunindo o Jornal O Coletivo, a Radiocom Pelotas, o Pão com Ovo, a Rede Estação Democracia, a CUT/RS, além de diversas rádios comunitárias e organizações sociais do estado.
Os manifestantes justificaram o fato de estarem nas ruas em meio a uma pandemia afirmando que o governo é mais perigoso que o vírus. Como nos atos anteriores, o uso de máscara entre os participantes foi a regra.
Mais de 50 mil pessoas em Porto Alegre
O terceiro ato na capital gaúcha pedindo o impeachment de Bolsonaro, vacina para todos e auxílio emergencial justo superou o número de participantes dos anteriores. As mais de 50 mil pessoas, segundo estimativa dos organizadores, se concentraram em frente à prefeitura e, por volta das 15h, saíram em caminhada pelas ruas centrais da cidade.
Além dos cartazes, faixas e gritos contra a negligência e os ataques do governo Bolsonaro, também foram realizadas manifestações artísticas em homenagem aos mais de 520 mil brasileiros e brasileiras que morreram nesta pandemia. O ato tomou as ruas Júlio de Castilhos e Mauá, recebendo apoio da população. Passou pela Usina do Gasômetro e encerrou no Largo Zumbi dos Palmares.
“Estamos indo para a rua, pois precisamos trazer pro centro da pauta a derrubada do governo Bolsonaro, um governo genocida e corrupto”, afirma a professora Vitalina Gonçalves, representante da CUT/RS na Frente Brasil Popular do estado. Ela destacou a importância dos atos para o fortalecimento do superpedido de impeachment protocolado no dia 30 de junho.
Vitalina lembra que as denúncias de corrupção na compra de vacinas fizeram as organizações, em convergência na campanha nacional “Fora Bolsonaro”, anteciparem os atos que estavam previstos inicialmente para o final do mês de julho. Além disso, afirma ser um desafio proposto pela Frente Brasil Popular fazer o diálogo com a população brasileira, que se encontra oprimida na busca pela sobrevivência, tendo em vista os sucessivos aumentos do custo de alimentos, gás, combustíveis e energia.
Eduardo Osório, do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), aponta que os movimentos sociais organizados e organizações da Frente Povo Sem Medo vêm, ao longo da pandemia, incentivando as medidas de distanciamento social e de isolamento e lutando pelo auxílio emergencial. “Inclusive, nós viemos construindo cozinhas solidárias, fazendo distribuições de refeições e cestas básicas em alguns momentos, para que as pessoas possam de fato se manterem em casa.”
Porém, destaca, em 2021, com a demora da vacinação e os escândalos de corrupção do governo Bolsonaro, além do aprofundamento da crise econômica e a confirmação de um auxílio muito baixo, se fez urgente ir para as ruas, com todos os cuidados possíveis.
“Estes elementos foram nos mostrando que o genocídio, além de ser sanitário, tem ocorrido por parte do governo ao deixar a população com fome. Nesse sentido que se coloca a urgência de ir para as ruas, assumindo que é mais arriscado sair para trabalhar do que fazer um ato de rua, enquanto este governo estiver no poder”, critica Eduardo.
Novo Hamburgo
Em Novo Hamburgo, cerca de cem manifestantes fizeram uma caminhada, durante a manhã, pelo centro da cidade. Além do Fora Bolsonaro, também pediam o "Fora Lira", em alusão ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que até o momento não deu indícios de abrir o processo de impeachment do presidente.
O escritor e advogado de movimentos sociais e sindicais, Henrique Schneider, destaca que apesar de ser identificado com a luta nas pautas sindicais e cultural, este movimento é muito maior. “É um movimento da cidadania, necessário para a sobrevivência da democracia brasileira”, afirmou.
Ele ressalta que o país já teve uma enormidade de escândalos ao longo de 500 anos de história, mas nenhum se assemelha ao que acontece sob Bolsonaro. “Exigir propina para a compra de vacinas, no momento em que o Brasil vive o pior momento, a pior crise sanitária da sua história, nunca vivemos nada parecido. Isto é inadmissível, é de uma desumanidade, faltam palavras, não há nada que se assemelhe.”
A professora Tatiane Hack estava em uma loja e saiu de dentro do estabelecimento enquanto passava a caminhada. Emocionada, ela filmou a manifestação, levantando os braços em forma de apoio. “Estamos abandonados, é um desgoverno. Teve atraso na compra da vacina, corrupção, e essa falta de informação, criando dúvida no povo”, disse.
Com uma camiseta preta escrita “Pelo SUS eu luto, tu lutas, ele não, nós lutamos”, a musicoterapeuta, cantora e ativista negra Grasiela Pires destacou a importância da luta nas ruas pelo SUS, pela saúde pública e por vacina para todos e lembrou que a população negra é a que mais sofre na pandemia. “Não tem mais como a gente ficar olhando passivamente para toda essa destruição que estão fazendo com a saúde do nosso povo. É muito importante estarmos na rua, dizendo que a gente não tolera mais isso, e se tudo der certo derrubar esse presidente que aí está.”
Pelotas
Em Pelotas, centenas de manifestantes marcharam pelas ruas. Fabrício Sanches, do movimento Juntos do município, assinalou que a indignação contra o governo genocida e seus cúmplices é crescente na sociedade. “A CPI da pandemia tá desvelando o que a gente já sabia, que com certeza o Bolsonaro e seus ministros trabalharam para que a população não tivesse vacina, apostando naquela imunidade de rebanho que a gente sabe que é uma mentira, é uma vergonha na verdade”, critica.
Santa Cruz do Sul
Em Santa Cruz do Sul, a caminhada partiu da Praça da Bandeira em direção ao centro da cidade. Destaque para a presença em peso da juventude e estudantes. Ruander Alves, do PSOL, um dos partidos de esquerda que organizaram a manifestação, ressalta que a situação agora não é só de negacionismo do presidente, mas também propina e corrupção. "Todo mundo aqui marchando em Santa Cruz do Sul pra derrubar esse presidente genocida", afirma.
Caxias do Sul
Centenas de manifestantes protestaram em Caxias do Sul, na Serra gaúcha. “Estou aqui para me somar na luta que é a derrubada do presidente Bolsonaro e do vice Mourão, pela retomada econômica do país, pela volta do emprego, das políticas públicas de saúde adequadas para todos e todas, pelo fortalecimento do SUS, da educação, do Prouni, do Instituto Federal, dos programas habitacionais como o Minha Casa Minha Vida, para que o povo volte a ser feliz”, disse o diretor de formação do Sindicato dos Servidores Municipal, Cristiano Cardoso.
Santa Maria
Na região central do estado, Santa Maria também teve protesto neste sábado. “Estamos aqui na luta contra esse governo que vai contra todas as instituições públicas, e estamos nas ruas, gritando todo mundo junto Fora Bolsonaro”, disse o médico Leonardo de Souza Mauro, do Instituto Federal Farroupilha.
Confira mais fotos de manifestações pelo RS
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Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Marcelo Ferreira e Katia Marko