O general da reserva Floriano Peixoto Vieira Neto, presidente dos Correios, escalado pelo presidente Jair Bolsonaro para comandar a privatização da estatal, tem relação de mais de 40 anos com o chefe do Executivo. O militar começou sua trajetória militar em 1973, na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), onde se formou na Arma de Infantaria, em 1976. Um ano depois, Bolsonaro concluiu a graduação na mesma escola militar.
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O presidente nomeou Peixoto em junho de 2019, para o lugar do general Juarez Cunha, após afirmar que ele agiu como “sindicalista”. No mês anterior, o então presidente da empresa criticou a entrega da estatal à iniciativa privada em audiência na Câmara.
O novo chefe dos Correios ainda integra o grupo de generais bolsonaristas que ocuparam posições de liderança das tropas brasileiras no Haiti, de 2004 a 2017. Pelo menos 8 desses oficiais de alta patente tiveram cargo de alto escalção no governo Bolsonaro. Floriano Peixoto chegou a ser o comandante da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti, de abril de 2009 até abril de 2010. Ele entrou para a reserva do Exército em março de 2014.
Em sua cerimônia de posse nos Correios, afirmou: “Não estamos ainda falando nada de privatização. A minha intenção é trabalhar para fortalecer, fazer a empresa crescer, ficar mais gigante ainda do que ela é”. A guinada anunciada nesta semana, com o anúncio de que o governo pretende aprovar a venda de 100% dos ativos dos Correios em um único leilão, é apontada por trabalhadores da empresa como forma de conter a crise política com uma sinalização tida como positiva por agentes do mercado.
"Toda vez que o governo é atacado, ele sempre joga na mídia uma situação de privatizar. Agora o alvo é os Correios. Foi assim com a situação da Eletrobras, que é um absurdo, e a gente tá vendo o quanto que significa aí o aumento da conta de luz. Quem paga a conta são os brasileiros. Quem vai pagar a conta da privatização dos Correios? Também somos nós, os brasileiros", afirma José Rivaldo da Silva, secretário-geral da Fentect (Federação Nacional dos Trabalhdores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares).
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Antes de assumir.o cargo, Peixoto foi ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República. No dia de sua posse na estatal, em cerimônia no Palácio do Planalto, Bolsonaro afirmou que Peixoto é seu “coringa”. “Conversei com ele, que é nosso coringa aqui no Planalto, e aceitou a missão de ficar à frente dos nossos Correios. Tem desafios, sabemos da importância e da história dos Correios e temos certeza de que ele fará o melhor para ajudar na recuperação desta instituição”, disse o presidente.
Privatização na ordem do dia
Em abril de 2019, o presidente Jair Bolsonaro autorizou a realização de estudos para privatização da empresa. Ao anunciar a medida, citou casos e as suspeitas de irregularidades que envolveram a estatal. Durante a campanha eleitoral, o presidente sinalizou que a empresa poderia ser privatizada devido aos prejuízos.
Em 31 de maio deste ano, no entanto, o governo federal propagandeou a aprovação do Conselho de Administração dos Correios às Demonstrações Contábeis de 2020 da estatal. O relatório aponta que a empresa apresentou lucro líquido de R$ 1,53 bilhão – maior resultado nos últimos 10 anos.
Em nota, o Executivo destacou ainda “outros indicadores financeiros importantes”, como o crescimento de 84% em relação ao ano de 2019 no patrimônio líquido dos Correios, totalizando, aproximadamente, R$ 950 milhões.
Entre os destaques feitos pela gestão Bolsonaro, foi ressaltado o recorde histórico de 2,2 milhões de encomendas postadas em um único dia, alcançado em 30 de novembro, e as receitas internacionais – obtidas por meio de serviços prestados a Correios de outros países –, que ultrapassaram o marco de R$ 1,2 bilhão, outro recorde para a empresa.
Em maio, a Câmara dos Deputados aprovou, sob intensos protestos, a tramitação de urgência do PL 591/2021, que abre caminho para a privatização dos Correios. De autoria do governo Bolsonaro, o pedido foi avaliado pelos parlamentares e recebeu 280 votos favoráveis e 165 contrários à medida.
Com a decisão, a proposta pode ser votada diretamente no plenário, sem necessidade de apreciação pelas comissões legislativas. Do ponto de vista do conteúdo, o PL liberava o Poder Executivo para converter a estatal, que hoje está 100% nas mãos do poder público, em uma sociedade de economia mista. A nova estratégia, contudo, prevê a venda integral dos Correios.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), já estipulou a votação do projeto para os próximos dias, entre 12 e 15 de julho. A intenção do governo é publicar o edital dos Correios neste ano.
Reações
No Twitter, a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) reagiu à inclusão do texto por Lira na pauta da Câmara: “A privatização dessa empresa pública lucrativa provocará aumento no preço, fechamento de agências e desemprego. A força da nossa mobilização é decisiva para barrar esse absurdo, vamos à luta!”.
O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) citou o papel que a estatal tem desempenhado neste período de pandemia para população e pequenos empresários: “O correio tornou-se uma empresa lucrativa de logística, em tempos de compras on-line".
Edição: Vivian Virissimo