Sem sinal de operadora de telefonia celular, sem asfalto e sem pressa, a comunidade do povoado Ludovico, onde vivem cerca de 120 famílias no interior do Maranhão, não tem agência dos Correios, mas escolhe um dos municípios mais próximos para receber correspondências, resolver pendências e até receber os livros escolares.
A professora Áurea Alves ministra as disciplinas de Filosofia e Língua Portuguesa na escola da comunidade, que atende cerca de 300 pessoas. É dos Correios que chegam os livros escolares e as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de Ludovico.
Um dos municípios mais próximos com agência dos Correios é Lago do Junco, município com pouco mais de 10 mil habitantes, a 28km do povoado. É de lá que chega o recado para a escola quando o material é recebido, para que um caminhão vá fazer a coleta dos livros.
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Áurea conta que outro importante papel desempenhado pelos Correios é a possibilidade de resolver pendências relacionadas à garantia de acesso aos programas sociais, como a comprovação de vida daqueles que recebem benefícios previdenciários.
“A nossa comunidade é isolada, fica na zona rural, mas a gente tem pelo menos um mínimo de acesso. Solicitações de prova de vida de aposentados, por exemplo, essas cartas chegam no Correio e identifica todas as comunidades. Às vezes uma pessoa daqui vai lá e pega o de todos da comunidade. Eu já fiz muito isso”, conta.
Com renda baseada no extrativismo do coco babaçu e na agricultura familiar, a região tem movimentos, associações e cooperativas que constantemente utilizam os serviços dos Correios para receber materiais de estudo, enviar seus produtos e garantir o desenvolvimento de projetos com financiamento nacional e internacional.
A família da professora Áurea faz parte desse grupo. Filha de Maria Alaídes, coordenadora do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB) e do senhor Ildo Lopes, ex-presidente da Cooperativa dos Pequenos Produtores Agroextrativistas de Lago do Junco (COPPALJ), ela explica que é pelos Correios que são enviadas todas as documentações das associações e assim mantido o desenvolvimento dos projetos.
“Toda documentação é assinada pela coordenadora, independentemente de onde ela esteja. Ela vem impressa e essa documentação tem que chegar original lá", explica"E não só para os escritórios que fazem parte da associação, mas também para quem financia nossos projetos, em Minas, na Alemanha, toda a documentação é enviada pelo Correio”.
Única empresa pública federal presente em todos os municípios brasileiros, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos do Brasil, conhecida popularmente como Correios, teve origem em 1663 e além da distribuição de correspondência, oferece mais de cem produtos e serviços de apoio ao governo.
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Entre os serviços essenciais à garantia de direitos oferecidos pelos Correios estão a inscrição e regularização do Cadastro de Pessoa Física (CPF), fundamental nos municípios da Amazônia e do Nordeste, a exemplo de Lago do Junco, com dificuldades de acesso à internet.
Durante a pandemia, o acesso ao auxílio emergencial do governo federal só tem sido possível graças ao papel desempenhado pelos Correios, presente mesmo nas comunidades mais vulneráveis como Lago do Junco.
Em 2020, o Ministério da Cidadania firmou parceria com a empresa estatal, e qualquer pessoa sem acesso à internet ou mesmo ao aplicativo da Caixa, tem o serviço efetuado gratuitamente pelos funcionários dos Correios, que também oferecem os serviços bancários de saque e transferências nas regiões que não dispõem de agência bancária.
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Antônio Ivanildo Pereira, diretor do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios do Maranhão (SINTECT-MA) e secretário para Assuntos do Interior reforça a importância do papel social desenvolvido pela empresa nos pequenos municípios do país.
“O Correio não trabalha somente na questão financeira, mas principalmente para a questão social. As correspondências representam um valor simbólico, pois fazemos um trabalho de cunho social. Levamos medicamentos, levamos provas do Enem, carregamos livros das escolas de todos os cantos do Brasil e isso não tem preço”, argumenta.
Além dos serviços, há mais de 30 anos os Correios também desenvolvem campanhas de solidariedade, como o Papai Noel dos Correios, sem qualquer fim lucrativo.
Na campanha, crianças de até 10 anos de idade em situação de vulnerabilidade são estimuladas a treinar a escrita e colocar seus sonhos no papel. Os padrinhos e madrinhas adotam as cartas, doam os presentes e os Correios fazem todo o trabalho de entrega, gratuitamente.
Pereira destaca que, apesar de desenvolver um importante papel social, os Correios dão altos lucros ao governo federal, o que falta é gestão e compromisso em melhorar os seus serviços. “O Correio não tem prejuízo, o Correio dá lucro. No último ano o Correio teve lucro de mais de um bilhão de reais, não pegamos um centavo do governo", enfatiza.
Em 2020 os Correios registraram lucro de R$ 1,53 bilhão, segundo balanço divulgado no Diário Oficial da União, sendo o quarto ano seguido com resultados positivos, apesar da crise em diversos setores da economia. Já o patrimônio líquido da companhia subiu em 2020 para R$ 949,7 milhões, ante R$ 146,8 milhões em 2019.
"O governo retira recursos dos Correios para desenvolver as suas atividades, mas mesmo assim o que tem acontecido são ataques do governo, que com suas políticas voltadas para a questão empresarial, tem gradativamente destruído as atividades dos Correios, até levar à privatização”, conclui Pereira.
Edição: Leandro Melito