Um grupo de deputados bolsonaristas conseguiu impedir que a Comissão Especial da Câmara que analisa a proposta de voto impresso não finalizasse os trabalhos na tarde desta sexta-feira (16). A oposição tinha maioria para derrubar o avanço da proposta.
Na noite de quinta-feira (15), 18 deputados titulares fizeram um acordo para não aprovar o andamento da proposta, apoiada de forma enfática pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) desde a sua eleição para o Executivo federal, em 2018.
Contudo, durante a reunião que vetaria o projeto, o presidente Paulo Eduardo Martins (PSC-SP) encerrou a sessão antes do previsto e conseguiu evitar a votação do parecer do relator, o deputado Filipe Barros (PSL-PR), favorável ao voto impresso.
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Antes disso, Barros (PSL-PR) falou por quase 30 minutos, sem interrupção. Durante a fala, a oposição dentro do colegiado pedia a suspensão do discurso e votação do relatório. O presidente ignorou e deu os trabalhos por concluídos.
Segundo Martins, como o relator disse que queria fazer mudanças no texto, ele concedeu o prazo para o relator fazer os ajustes. Acusado de manobra contrária ao regimento para evitar a votação do parecer, o presidente da comissão foi substituído pelo deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). O petista deu sequência aos trabalhos da comissão depois de alguns minutos de paralisação.
A transmissão da sessão no canal de YouTube da Câmara dos Deputados, no entanto, foi interrompida e a validade da continuidade dos trabalhos não foi reconhecida até mesmo por deputados da oposição.
Com o encerramento de sessão, o tema só voltará à pauta depois do recesso legislativo, que vai perdurar pelas próximas duas semanas. Veja a reação de deputados da oposição:
Os deputados bolsonaristas rasgaram o regimento da Câmara e encerraram no grito a votação sobre o voto impresso na Comissão Especial. Bandalheira ilegal dos aliados do presidente. O parlamento não pode aceitar esse tipo de violência. #votoimpressoNAO
— Marcelo Freixo (@MarceloFreixo) July 16, 2021
🚨A base bolsonarista na Câmara ENCERROU a reunião da comissão do #votoimpressoNAO no tapetão! Os governistas são chegados num golpe até em comissão. Absurdo!
— Talíria Petrone (@taliriapetrone) July 16, 2021
A extrema-direita fez uma molecagem sem tamanho. De forma ilegal, o presidente da comissão encerrou a sessão e desligou os sons. Medo da derrota iminente! Não ganham no voto e estão tentando no tapete. Não vamos deixar assim. #votoimpressoNAO pic.twitter.com/xeHXQ67Wjd
— Fernanda Melchionna (@fernandapsol) July 16, 2021
Molecagem é um eufemismo para adjetivar o que os apoiadores do Bolsonaro fizeram hoje na Comissão da PEC do voto impresso. Como iam perder, melaram a reunião. É isso que eles querem fazer nas eleições do País !!
— Paulo Pimenta (@DeputadoFederal) July 16, 2021
Fraude? Bolsonaro pode ser investigado
O procurador-geral da República (PGR), Augusto Aras, está cada vez mais pressionado por seus pares a se manifestar sobre a tese – sem provas – de fraude nas eleições aventada pelo presidente Jair Bolsonaro.
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Nesta quarta-feira (14), 31 sub-procuradores-gerais da República assinaram uma representação que havia sido apresentada na terça-feira (13) por outros 5 sub-procuradores. Trata-se de um pedido de abertura de investigação, por parte de Aras, das falas de Bolsonaro que colocam as eleições em dúvidas.
Com o “reforço”, já são, ao todo, 36 integrantes – de um total 74 – que querem que a conduta de Bolsonaro contra o sistema eleitoral seja investigada.
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“Os subprocuradores-gerais da República abaixo assinados, tendo em vista a gravidade das manifestações do presidente da República Jair Bolsonaro (…), entendem oportuno externar a Vossa Excelência, por nossas vozes, a gravidade da situação, que demanda a atuação efetiva, firme e preventiva do Ministério Público”, diz um trecho da representação.
Nos últimos dias, Bolsonaro tem intensificado seus ataques ao sistema eleitoral, alegando fraude sem provas, e chegou, inclusive, a ameaçar a realização do pleito em 2022.
Edição: Rebeca Cavalcante