A África do Sul experimenta o que tem sido apontado como seu maior período de instabilidade desde o fim do apartheid. Após a prisão do ex-presidente Jacob Zuma, e no contexto de desemprego recorde e da pandemia de covid-19, foram registrados uma série de saques e episódios de violência em áreas vitais para a economia da região.
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De acordo com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, os tumultos causaram a morte de 212 pessoas em 118 episódios de "violência pública, incêndios criminosos e saques" e são responsáveis por um prejuízo de “bilhões de Rands (moeda local)”. Mais de 2.550 pessoas foram presas por suposta conexão com os tumultos.
Qual o cenário da África do Sul?
De acordo com o Departamento de Estatística da África do Sul, a taxa de desemprego atingiu o número recorde de 32,6% no primeiro trimestre de 2021. São mais de 7,2 milhões de desempregados. É o número mais alto registrado desde o início da série histórica em 2008. Entre os jovens, todavia, o desemprego é ainda maior, atingindo 46,3% da população entre 15 e 34 anos. O país africano tem uma população de 55,7 milhões de habitantes.
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Os dados também indicam que, na comparação do primeiro trimestre de 2021 com o mesmo período de 2020, caiu o número de contratados em período integral (-6,5%) e aumentou o número de empregados em meio período (5,3%). Os salários recuaram no mesmo período, na mesma comparação anual, em 2,9%.
A pandemia de covid-19 já causou mais de 68 mil mortes na África do Sul, o que torna o país um dos mais atingidos pelo novo coronavírus em todo o continente. O Departamento da Saúde afirma que, até a quinta-feira (22), já foram aplicadas 6.085.108 doses de vacinas.
A pandemia também colaborou para a queda na expectativa de vida no país, que recuou de 62,4 anos em 2020 para 59,3 anos em 2021 entre os homens. Já entre as mulheres, a queda foi maior: de 68,4 anos em 2020 para 64,6 anos em 2021. Os dados, novamente, são do Departamento de Estatística da África do Sul.
O que aconteceu com o ex-presidente Jacob Zuma?
Chefe do Executivo entre 2009 e 2018, Zuma está preso desde 7 de julho. Ele cumpre uma pena de 15 meses por desacato à Justiça após se negar a participar de um interrogatório. Ele também é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro.
Figura histórica da política sul-africana e veterano da luta contra o apartheid, Zuma nega as acusações, diz ser vítima de perseguição e chegou a afirmar que ser preso durante a pandemia e com sua atual idade, 79 anos, “é o mesmo que me sentenciar à morte.”
“Tenho o dever e a obrigação de garantir que a dignidade e o respeito pelo nosso judiciário não sejam comprometidos por sentenças que lembrem nosso povo dos dias do apartheid”, afirmou Zuma em coletiva de imprensa antes de ser detido.
Após a prisão do ex-presidente, os tumultos começaram em sua província, KwaZulu-Natal, e posteriormente se espalharam para outras partes do país.
Zuma é do mesmo partido, o Congresso Nacional Africano (CNA), do atual presidente, Cyril Ramaphosa. O CNA está no poder desde o fim do apartheid e da eleição de Nelson Mandela, em 1994.
Qual é o tamanho da violência?
Em reunião com líderes empresariais, Ramaphosa afirmou na terça-feira (20) que os impactos econômicos dos tumultos serão sentidos por todo o país. Ele classificou os episódios como "parte de um deliberado, coordenado e bem planejado ataque contra nossa democracia."
Ramaphosa mobilizou 25 mil militares para garantir a segurança de fábricas, instalações importantes do governo e da iniciativa privada, além de proteger a rota N3, rodovia que liga a capital Joanesburgo com Durban, terceira maior cidade da África do Sul e sede de um importante porto.
Gavin Kelly, presidente da Road Freight Association, entidade que reúne empresas de frete por caminhão, estima que a N3 transporte diariamente cerca de 3 bilhões de Rands, cerca de R$ 1 milhão. A rota chegou a ficar fechada na segunda semana de julho, após 25 caminhões serem incendiados.
“Felizmente, os caminhões agora podem fazer a economia girar novamente ao longo desse corredor, permitindo que muitas empresas retomem as operações. A proteção dos caminhões, dos funcionários, das cargas e dos centros de distribuição continua sendo fundamental para a Road Freight Association, e pedimos às autoridades que se mantenham ativas e vigilantes na proteção da N3”, afirmou Gavin Kelly ao New Frame.
Algumas partes da África do Sul ficaram desabastecidas de comida e combustível. Caminhões transportando estes bens passaram a ser escoltados pelas Forças Armadas e os mercados implantaram um sistema de racionamento para evitar uma piora da crise. Filas se formaram para conseguir alimentos e outros itens.
Charity Mnguni, de 38 anos, esperou em uma fila no bairro de Umlazi, na cidade de Durban, para conseguir comida para ela e seus dois filhos. “Se eu pudesse conseguir uma refeição de milho, frango e outros poucos produtos apenas para nos manter por alguns dias. Não temos nada ”, disse Mnguni ao New Frame.
*Com informações de New Frame.
Edição: Vivian Virissimo