Caminho longo

A pandemia está acabando? Muita calma nessa hora que não é bem assim

Brasil vive o maior período de declínio de casos e óbitos já observado, mas queda não significa controle da propagação

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Vacinação de jovens acima de 18 anos em Manaus (AM); Brasil precisa correr com a imunização para diminuir as chances de piora no cenário - Camila Batista©/Semsa/Fotos Públicas
Não tem como dizer que o risco não existe. Os cuidados devem permanecer.

Em mais uma semana que confirma a tendência de queda nos números de novos casos e óbitos pela covid-19, o Brasil vive hoje o maior período de declínio do ritmo da pandemia em território nacional. Há um mês, os dados caem diariamente, quase que de maneira contínua.

O ritmo de expansão menos acentuado é observado nas novas contaminações e nos casos fatais. Em 24 de junho, o país alcançava a pior média de casos em 24 horas de toda a trajetória do coronavírus por aqui: mais de 77,2 mil infectados. A média de mortes era superior a 2 mil.

Agora, os registros de infectados se aproximam de 35 mil por dia e os de casos fatais estão em cerca de 1,1mil. Já é consenso que esse cenário tem impactos diretos da campanha de vacinação, mas o Brasil ainda tem menos de 20% da população totalmente vacinada.

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No entanto, o cenário está longe de significar luz no fim do túnel. Ainda há um trajeto longo e desafiador pela frente, que passa pela imunização de pelo menos 70% da população e da manutenção das medidas de prevenção ao contágio.

Entre fevereiro e junho deste ano, o país chegou a um patamar tão alto de crescimento diário, que mesmo a queda constante e relativamente longa de agora não conseguiu  tirar o país da lista de nações com mais casos e mortes a cada 24 horas. O número de óbitos ainda é superior aos piores registros do ano passado.

Em conversa no podcast A Covid-19 na Semana, o médico de família Aristóteles Cardona, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, afirma que a queda nos números é positiva, mas que o estado de atenção ainda é muito necessário.

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Cardona explica que o aumento de casos em países que estão com a vacinação mais adiantada que o Brasil deve acender o alerta. Ele cita a circulação da variante delta, confirmada em mais de 100 casos no país.

Segundo o médico, nas nações que imunizaram uma porcentagem maior da população, a cepa tem aumentado as infecções, mas as mortes não crescem tanto. Entre os que não têm a vacinação avançada, o cenário é outro.

"A mortalidade baixa é consequência direta da vacinação. A gente é um país gigante, ainda falta muita gente pra se vacinar. Tudo isso aponta para a necessidade de a gente ainda precisar seguir com muito cuidado", explica.

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A percepção de que a batalha não está vencida é reforçada por alguns alertas divulgados pela Organização Mundial da Saúde ao longo da semana. Na segunda-feira (19), a diretora técnica da entidade, Maria van Kerkhove, disse que o fim da pandemia pode estar cada vez mais longe.

Ela pontuou que, na semana anterior, houve um aumento de 11,5% no número de novos casos da covid-19 em todo o mundo. A américa está entre os continentes com os menores índices, mas ainda assim em situação alarmante, "Foram quase 1 milhão de novos casos nas Américas e 22 mil mortes", ressaltou.

Aristóteles Cardona questiona: "E se surgir, em algum momento, uma variante em que as vacinas não protejam tão bem? Não tem como dizer que o risco não existe. Os  cuidados devem permanecer", reforça o médico.

"Há um forte debate hoje sobre os países que melhoraram muito, que vacinaram grande parte da população e estão vivendo um clima de 'superamos a pandemia'. A gente ainda está vivendo em plena pandemia e a gente tem que se antecipar aos movimentos que vêm pela frente", finaliza.

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Na a quarta-feira (21) Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, endossou o recado. Segundo ele, o mundo está entrando em uma nova onda de transmissões. A desigualdade na distribuição das vacinas tende a colocar o mundo todo em insegurança. Sem o controle em todos os países, o risco permanece.

“Isso não é apenas um ultraje moral, é também epidemiológica e economicamente autodestrutivo”, disse Tedros. Segundo ele, “a pandemia é um teste e o mundo está falhando”.

 

 

Edição: Leandro Melito