Reencontro, diálogo e reconciliação são algumas das palavras mais presentes nos discursos de representantes do governo e da oposição na Venezuela. À medida que avança o calendário eleitoral, o país parece abandonar o passado de conflitos.
Apesar dos últimos planos desestabilizadores revelados pelo governo bolivariano, uma série de eventos comprovam que existe disposição da maioria do setor opositor em conversar e retomar a institucionalidade do país.
Na última quinta-feira (22), durante transmissão televisiva em cadeia nacional, o presidente Nicolás Maduro reiterou que está "pronto para iniciar as mesas de diálogo no México". A previsão é que as rodadas de negociação comecem em agosto.
Também nesta semana, a vice-presidenta Delcy Rodríguez participou da 77ª assembleia nacional da Federação de Câmaras e Associação de Comércio e Produção Nacional (Fedecâmaras), depois de 20 anos sem um convite a representantes do governo bolivariano. A vice-presidenta também propôs uma mesa de negociação em defesa da produção nacional.
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"Este é o caminho: a participação de setores econômicos privados para desenvolver as potencialidades produtivas que a Venezuela possui. Sigamos juntos apostando pelo diálogo político para construir soluções a todos os venezuelanos", declarou Rodríguez.
O recém-eleito presidente da Fedecâmaras, Carlos Fernández também discursou afirmando que a reaproximação é um meio para gerar soluções à crise.
"Não vejo futuro para o país se não assumimos com seriedade um processo profundo de negociação entre todas as partes", declarou durante a 77ª Assembleia.
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De acordo com a Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (Cepal), a economia venezuelana retraiu 18% em 2020. Segundo projeções da empresa Ecoanalítica, a inflação acumulada ao final de 2021 deve rondar 1.000%, apesar de continuar alta, seria metade do índice de 2020.
Apesar das críticas de grupos de extrema-direita da oposição venezuelana, o setor próximo ao ex-deputado Juan Guaidó parece cada vez mais isolado no cenário político nacional.
Novas denúncias
O extremismo de Guaidó, somado às denúncias de corrupção do governo paralelo fazem com que até seus apoiadores exijam maior transparência sobre o uso do dinheiro venezuelano depositado em contas públicas no exterior.
Em abril, a equipe de Guaidó enviou um documento ao Departamento do Tesouro dos EUA pedindo os desbloqueio de US$ 53, 2 milhões (cerca de R$265 milhões) para financiar seus supostos funcionários. No entanto, o governo do autoproclamado não controla instituições ou território, tampouco possui algum tipo de sede física que justifique os gastos milionários.
Agora em julho, a Agência de Cooperação Internacional dos Estados Unidos (Usaid) publicou um relatório afirmando que não sabe qual foi a aplicação dada para 507 milhões de dólares enviados entre 2017 e 2019 para ONGs coordenadas por opositores venezuelanos - metade seria para ajuda humanitária e a outra metade para atender os imigrantes. No entanto, a Usaid indica que somente 2% do montante foi efetivamente aplicado.
O valor representa o dobro dos fundos que a Organização das Nações Unidas (ONU) solicita para realizar programas sociais com 2,6 milhões de venezuelanos em situação de vulnerabilidade social.
🇻🇪1,9 millones de personas recibieron algún tipo de ayuda humanitaria en los primeros cinco meses de 2021.
— OCHA Venezuela (@OCHA_Venezuela) July 15, 2021
📝133 organizaciones han implementado proyectos en los 335 municipios.
🔍Entérate de quién ha hecho qué, cómo y dónde: https://t.co/jc4xfir3J5#RespuestaHumanitariaVZLA pic.twitter.com/xAwbqnL5Rx
Além da nova polêmica, a comissão parlamentar de investigação de delitos denunciou que a gestão anterior da Assembleia, de maioria opositora, e presidida por Juan Guaidó, gerou um prejuízo estimado em US$ 90 bilhões à Venezuela, por meio da promoção de sanções econômicas contra o país.
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Eleições regionais
No aspecto eleitoral, a missão de verificação da União Europeia continua em Caracas, acompanhando as auditorias ao sistema eleitoral venezuelano e preparando uma série de sugestões para aperfeiçoar o processo. De acordo com o diretor do Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, Roberto Picón, ao finalizar a visita do grupo de especialistas, o poder eleitoral deve assinar um memorando de entendimento com a UE.
El Poder Electoral en conjunto con Cancillería recibió este martes a la misión exploratoria de la Unión Europea quienes se encuentran en el país para evaluar su participación en las Elecciones Regionales y Municipales de noviembre 2021 🇻🇪 pic.twitter.com/THaDjuAfoC
— cneesvenezuela (@cneesvzla) July 21, 2021
O CNE também presta apoio aos partidos que irão realizar eleições primárias. O opositor Ação Democrática, membro do G4, grupo dos quatro maiores partidos de oposição, foi um dos que já sinalizou que irá realizar primárias. Enquanto o governante Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) realizou uma primeira etapa de seleção interna e irá a primárias no dia 5 de agosto.
No dia 21 de novembro, a Venezuela deve eleger governadores, prefeitos e vereadores. O processo eleitoral é visto como mais um passo para a recuperação econômica do país.
Edição: Rebeca Cavalcante