Muitos são capazes de dar laço no vento, nó em pingo d’água
Estou relendo, para me divertir, o livro “Faíscas verbais: a genialidade na ponta da língua”, do Márcio Bueno, jornalista e meu amigo.
Nesse livro, ele fala de grandes sacadas de um bando de gente, ao dar repostas a alguma pergunta besta ou simplesmente ao comentar alguma situação.
Segundo o Márcio, “muitos são capazes de dar laço no vento, nó em pingo d’água e, se cair um raio, antes de escaparem ilesos ainda aproveitam a oportunidade para acender o cigarro”.
Mais causos: Procurando emprego, sem querer achar
Vou dar uma amostra dessas tiradas aqui.
Quando assumiu a presidência da República, Jânio Quadros surpreendeu escolhendo para seu ministério alguns dos seus inimigos. Perguntaram a ele porque fez isso, e ele respondeu: “Porque pra uma boa horta ou um belo jardim é fundamental bom esterco”.
Num debate de candidatos à Presidência da República, em 1989, Paulo Maluf martelava para o eleitorado, dizendo que era muito competente. Na vez do Lula falar, ele sapecou: “Concordo plenamente com o Maluf quando ele diz que é competente... Ele compete, compete, compete, e nunca ganha”.
Milton Campos, ex-governador de Minas Gerais, viajava de avião, o voo ficou muito turbulento, a aeromoça perguntou a ele: “Está sentindo falta de ar?”. Ele respondeu: “Não, estou sentindo falta de terra”.
Mais causos: Viajando de jardineira
Um amigo de Ary Barroso insistia que ele devia parar de beber. Um dia, disse que o único indivíduo que se beneficia do álcool é o dono do bar, que enche as burras de dinheiro. Ary respondeu: “Vou aceitar o seu conselho”. “Vai largar de beber?”. “Não. Vou ser dono de um bar”.
Vinícius de Moraes gostava de uísque e defendeu o hábito de beber: “Nunca fiz amizade tomando leite”.
O jornalista José Hamilton Ribeiro perdeu parte de uma perna quando cobria a Guerra do Vietnã. Uma jornalista inconveniente numa entrevista na TV, perguntou se não era muito difícil ser repórter com uma perna só. Resposta: “Ser repórter com uma perna só é mais difícil do que com duas. Mas é mais fácil do que com quatro”.
Termino com uma coisa que não está no livro. Um jornalista, puxa-saco do patrão direitista, foi entrevistar o humorista Barão de Itararé e, em vez de perguntas, fazia provocações. Uma hora o Barão olhou bem na cara dele e falou: “Houve um tempo em que os animais falavam. Hoje em dia eles até escrevem”.
*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Daniel Lamir