Pedro Castillo se tornou presidente do Peru e pela primeira vez na história um camponês irá conduzir o país. Na última quarta-feira (28), Castillo tomou posse em Lima e fez o primeiro discurso assegurando que chegou através do povo para governar para o povo e construir "com os de baixo", dando a linha de quais serão as prioridades do seu mandato.
O novo chefe de Estado também já anunciou que não irá despachar na Casa Pizarro, nome do Palácio de Governo, em homenagem ao invasor espanhol Francisco Pizarro. O edifício será cedido ao Ministério das Culturas para transformar-se em um museu.
"Devemos romper com símbolos coloniais. Os três séculos que este território pertenceu à Coroa Espanhola lhe permitiram explorar nossos minerais que sustentaram o desenvolvimento da Europa, com esforço dos avós de muitos de nós", afirmou.
Nesta quinta-feira (29), haverá uma nova cerimônia de juramento na cidade de Ayacucho, onde foi proclamada a independência do Peru há 200 anos.
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Reforma Constitucional
Uma das principais bandeiras de Castillo e do seu partido, Peru Livre, é fazer uma reforma à constituição. No entanto, a atual Carta Magna, promulgada em 1993, durante o regime de Alberto Fujimori, não prevê qualquer tipo de mecanismo de mudança, além de emendas que podem ser aprovadas pelo poder legislativo.
Sem a maioria do Congresso, Castillo sinalizou que irá apresentar uma projeto de lei e, se não for aprovado, buscará convocar um referendo constitucional. "Insistiremos nessa proposta, mas sempre dentro da lei", afirmou.
Educação
Sendo professor de escola básica, outro tema fundamental é a educação. Castillo disse que irá declarar um estado de emergência educacional. Prometeu aumentar o orçamento da pasta para 10% do PIB, aumentar a conectividade nas escolas, tornando o acesso à internet um direito, lançar uma campanha de alfabetização e modernizar os projetos políticos pedagógicos com participação dos professores e da comunidade.
Seu projeto é "recuperar aprendizados e evitar que a desigualdade siga crescendo", indicando que pretende reabrir as escolas no primeiro semestre de 2022.
Aos jovens desempregados e que não frequentam nenhuma instituição de ensino, o presidente indicou que devem alistar-se no serviço militar.
Pandemia
O Peru há meses é o país com a maior taxa de letalidade por coronavírus do mundo, quase 6 mil mortos a cada milhão de habitantes, por isso outra tarefa será vencer a pandemia. Para isso, Castillo irá aumentar o orçamento em atenção primária, criar cinco mil equipes de atenção comunitária e integral, assim como acelerar o ritmo de vacinação para ter toda a população imunizada até o final de 2021 - até o momento cerca de 12 milhões de doses foram aplicadas.
Prometeu que uma das suas primeiras obras será construir hospitais especializados no interior do país.
Meio ambiente
Castillo anunciou a criação do Ministério de Ciência e Tecnologia para aumentar o investimento em pesquisas científicas, assim como trabalhar pela redução de 30 a 40% das emissões de carbono: "Possuímos 13% da Amazônia. Já devastamos centenas de milhares de hectares. Devemos reverter essa tendência. A Amazônia é uma das heranças que deixaremos para as próximas gerações".
Reconhecimento étnico
O presidente peruano também segue os espaços dos seus vizinhos bolivianos, aumentando o reconhecimento aos povos originários que edificaram o país. Garantiu que nas regiões em que há maior presença de povos indígenas, quechua e aymara serão idiomas oficiais nos organismos do Estado.
Pedro Castillo e Luis Arce também acordaram reabrir o gabinete binacional para tratar assuntos estratégicos e de cooperação dos dois países.
Economia
O novo mandatário prometeu criar um milhão de empregos em um ano através do programa "Trabalha Peru". Cerca de 70% da população economicamente ativa peruana está no setor informal.
Também irá conceder um auxílio emergencial de 700 soles a todas as famílias mais vulneráveis.
Diante da campanha mediática de que o presidente recém-eleito representa uma "ameaça comunista", Castillo ressaltou que não pretende realizar expropriações ou qualquer tipo de confisco de bens privados. No entanto, assegurou que é necessário rever a presença de monopólios no país.
Castillo disse ainda que irá renegociar as dívidas com pequenas e médias empresas do setor agropecuário, turístico e de transporte.
Edição: Rebeca Cavalcante