Nos últimos dois meses, uma série de ameaças de morte anônimas foram enviadas, por meio do aplicativo de mensagem WhatsApp, para a vice-presidenta da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Pará (Fetagri/PA), Gislane Souza Soares.
Nesta terça (3), organizações ligadas aos direitos humanos assinaram uma nota conjunta de repúdio.
"As ameaças desferidas estão sendo alvo de apuração pelos órgãos competentes e tudo está sendo feito para garantir a segurança e integridade física e psicológica da ameaçada e seus familiares. Inclusive efetivando a denúncia e o registro do atentado à tiro contra a residência da vítima, ocorrida no dia 21 de junho. Esse atentado foi registrado na Delegacia de Polícia de Ourilândia do Norte e o projétil foi recolhido para perícia", afirma um trecho da nota.
A reportagem do Brasil de Fato tentou contato com Gislane Souza Soares, mas por medida de segurança, ela não está concedendo entrevista.
Ainda em pronunciamento oficial, a Fetagri pontua que reafirma o seu compromisso "em defesa da vida, da paz, da ordem democrática e a sua disposição de não se intimidar e nem se acovardar diante deste tipo de práticas que só contribuem para tonar ainda mais violento e nebuloso o cenário que nos cerca".
Em maio deste ano, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) divulgou o relatório Conflitos no Campo Brasil – 2020. O documento revela o maior número de conflitos por terra, invasões de territórios e assassinatos em conflitos pela água já registrados pela CPT desde 1985.
O número de conflitos no campo passou de 1.903 em 2019, para 2.054 em 2020, envolvendo quase 1 milhão de pessoas.
Desse total, 1.576 ocorrências são referentes a conflitos por terra, o que equivale a uma média diária de 4,31 conflitos por terra, que totalizam 171.625 famílias brasileiras, em um contexto de grave pandemia.
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Repúdio
Assinaram a nota de repúdio, a Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), a Central Única dos Trabalhadores do Pará; CUT/PA e a Federação dos Trabalhadores Rurais Assalariados e Assalariadas do estado do Pará (Feterpa).
A Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), o Movimento de Mulheres do Nordeste Paraense (MMNEPA), a Fundação Viver Produzir e Preservar (FVPP); o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Levante Popular da Juventude e o Movimento Popular Camponês (MCP) também assinaram o documento.
Além da organizações ligadas aos direitos humanos, o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa do Estado do Pará, Deputado Bordalo, também publicou uma nota de repúdio onde afirma que a comissão tomou conhecimento das ameaças "em meados do mês de junho, quando se iniciou a prática delituosa".
"Vem acompanhando efetivamente a situação, cobrando da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social as providências necessárias no intuito de preservar a integridade física e a vida da vítima, assim como, a inclusão da mesma no Programa de Proteção dos Defensores de Direitos Humanos no Estado do Pará, através da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos no Estado do Pará, como forma de proteção e garantia de permanência da mesma em suas atividades, uma vez que a Fetagri/PA é membro do Conselho Estadual de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos", diz a nota.
A militante além de vice-presidente da Fetagri, ocupa o cargo de Secretária de Jovens da entidade.
Edição: Leandro Melito