Contágio em alta

Brasil marca 20 milhões de casos e 560 mil mortos pela covid; curva de infecção volta a subir

Governo de São Paulo acusa Bolsonaro de reduzir quantidade de vacinas da Pfizer enviadas ao estado e fala em "boicote"

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Manifestação em Brasília: enfermeiras e enfermeiros protestam contra a gestão do governo na pandemia - Sergio Lima/ AFP

O Brasil ultrapassou nesta quarta-feira (4) a marca oficial de 20 milhões de infectados pela covid-19. Desconsiderando a ampla subnotificação, já que nunca foi executado um plano nacional de testagem em massa no país, são 20.026.533 casos confirmados. No último período de 24 horas monitorado pelo Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde), foram registrados 40.716 novos casos da doença.

O número é superior à atual média móvel calculada em sete dias, que está em 32.778. Isso, mesmo sem os dados do Ceará, que não foram incluídos no balanço desta quarta por problemas técnicos na secretaria de Saúde do estado.

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Em relação ao número de mortes, foram 1.175 no período. Na prática, o país já superou as 560 mil vítimas do coronavírus, uma vez que, sem os dados do Ceará, são 559.607 óbitos computados até agora. O Brasil é o segundo país do mundo com maior número de mortes nesta pandemia, que começou em março de 2020, atrás apenas dos Estados Unidos. Entretanto, a média de vítimas segue em declínio e está em 918, menor indicador desde o dia 8 de janeiro.

O avanço da vacinação vem surtindo bons resultados, como esperado. Contudo, o processo poderia ter sido mais veloz, não fosse a má gestão da pandemia pelo governo federal. Desde o início do surto, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) negou a ciência, estimulou e promoveu aglomerações, divulgou mentiras sobre a eficácia e segurança de vacinas e uso de máscaras.

Além disso, como a CPI da Covid investiga, provavelmente prevaricou na compra de vacinas. A aquisição de imunizantes está envolta em um complexo esquema de favorecimento ilícito e corrupção.

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Os números da pandemia de covid-19 no Brasil em 4 de agosto de 2021 / Conass

São Paulo acusa boicote do governo federal

Também nesta quarta, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), acusou o governo Bolsonaro de mais uma ação controversa diante da covid-19. O governo federal teria enviado metade das doses do imunizante produzido pela Pfizer devidas ao estado. Ex-afeto do presidente, Doria entrou em atrito com Bolsonaro e seus seguidores, principalmente em razão da CoronaVac, a vacina desenvolvida em São Paulo, em parceria entre o Instituto Butantan e a farmacêutica chinesa Sinovac.

“São Paulo não aceitará boicotes do governo federal. Ontem recebemos metade das doses de vacinas da Pfizer previstas. O argumento é que São Paulo está com a vacinação mais avançada. Estão punindo a eficiência da gestão de São Paulo? Tomaremos medidas para garantir vacina no braço da nossa população. O Ministério da Saúde deixou de entregar 228 mil doses que estavam planejadas. Isso pode atrasar a vacinação de 228 mil paulistas. Uma vergonha”, declarou o governador.

Até o momento, 21,26% dos brasileiros estão totalmente imunizados com duas doses das vacinas CoronaVac, AstraZeneca e Pfizer, ou dose única da Janssen. A segunda dose é essencial para que o corpo tenha resposta imunológica eficiente, sobretudo contra a variante delta. A mutação do coronavírus é mais resistente às vacinas, especialmente em organismos que tenham recebido apenas a primeira dose.

A cepa também é até 70% mais contagiosa. Em todos os países em que ela se tornou dominante, o aumento de casos alcança números preocupantes. Naqueles com vacinação avançada, as mortes não seguiram a tendência. Já em países com menor número de vacinados, uma nova onda de letalidade está em curso.

Variante Delta avança

A Organização Mundial da Saúde (OMS), alerta que a pandemia está longe do fim e que a variante delta pode reverter avanços conquistados com a vacinação. A entidade também argumenta que a nova cepa do vírus da covid se tornará dominante no Brasil em questão de dias. Duas semanas após a cepa ser identificada pela primeira vez na cidade de São Paulo, a variante já representa 23,5% dos casos identificados, de acordo com estudo do Instituto Adolfo Lutz divulgado ontem.

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A entidade argumenta que a variante já deve circular com intensidade em todo o país, entretanto, o número de testagem segue baixo. Especialmente exames que identifiquem características genéticas do vírus, para detectar de quais variantes circulam pelos estados.

“Podemos ver incidência da variante delta em vários países, a forma como ela se desenvolveu rapidamente, como ela tomou a prevalência. Se formos ver no Reino Unido, a variante alfa ocupava 100% dos casos. Em abril, surge a variante delta e, em menos de 2 meses, ela ocupa todo o cenário de prevalência da pandemia”, disse o secretário municipal de Saúde de São Paulo, Edson Aparecido, em coletiva concedida ontem.

A epidemiologista e pesquisadora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ethel Maciel afirma que o país erra ao “ignorar” a variante delta. A cientista lamenta a suspensão das medidas de isolamento social adotadas no país nos piores momentos, ainda que sempre tivessem sido pouco rigorosas:

“Estamos falando desde junho da variante Delta. Seria uma tragédia evitável, mas parece que teimamos em não aprender e não usamos o tempo a nosso favor. Ainda vai piorar antes de melhorar. Vamos seguir as medidas de controle do vírus e quando chegar sua vez, vacine-se”, escreveu, em seu perfil no Twitter.