Nós nos lembramos que, mesmo mal ajambrado eu arrumava namoradas
Ando com muita saudade dos botecos que a gente frequentava como se não tivesse nenhuma importância, e nem imaginava que voltar a eles se tornaria um sonho. Muitos bons encontros e reencontros aconteciam neles.
Há alguns anos encontrei num bar da Vila Madalena uma antiga colega de trabalho, o que não é nada demais. Mas ela não se conteve, ao comentar sobre minha aparência: “Nossa, você melhorou com a idade, está muito mais bonito do que quando era jovem”. Mais bonito é uma maneira sutil de dizer que estou menos feio.
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Respondi: “Pois é, uma vantagem de ser feio na juventude é essa: a gente não piora. Já os bonitos, as pessoas se lembram deles da forma que eram quando jovens; quando envelhecem acham que eles ficaram feios”.
A conversa continuou na base da brincadeira e nós nos lembramos que, mesmo mal ajambrado eu arrumava namoradas.
Uma delas, estudante de Letras, conheci numa assembleia da Faculdade de Filosofia. Conversamos um pouco, eu me insinuei pretensiosamente e a convidei para, no dia seguinte, ir a um boteco do tipo sujinho, que eu frequentava. Não imaginava que ela toparia.
Pois aconteceu: lá pelas oito da noite, eu estava lá bebericando uma cachaça e ouvindo o burburinho do boteco cheio, quando se fez um silêncio. Virei para a porta e vi o motivo: uma mulher bem vestida e bonita entrando naquele lugar frequentado por mecânicos, carroceiros e uns poucos estudantes avacalhados. Era ela.
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Bom... Numa festa, lá pelos meados dos anos 1970, comecei a namorar uma moça e depois de alguns dias ela me contou que tinha sido namorada de um amigo meu, o Sâmi. Dali uns meses, uma nova namorada me contou que tinha sido namorada desse mesmo amigo. E tempos depois, mais uma...
Aí encontrei o dito-cujo com uma nova namorada, que não vou dar o nome aqui, que estudou História quando eu estudava Geografia. Eu a admirava muito, era linda, inteligente, simpática... Falei pra ela que estava muito contente pelo seu namoro com o meu amigo. Ela me disse: “Não sabia que você gostava tanto do Sâmi”. Eu respondi: “Gosto sim, é um grande amigo. Mas minha alegria por vocês estarem namorando é porque eu herdo todas as namoradas dele”.
Essa eu não herdei.
*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Daniel Lamir