No início da noite desta terça-feira (10), o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo revogou a prisão preventiva de Paulo Lima, conhecido como Galo; Danilo Silva de Oliveira, conhecido como Biu; e Thiago Vieira Zem, os três investigados pelo incêndio na estátua de Borba Gato em 24 de julho. O juiz Eduardo Pereira Santos Júnior avaliou que não existem elementos para manter a detenção dos acusados.
A reportagem do Brasil de Fato acompanhou o momento da prisão de Danilo na tarde de segunda-feira (9), e visitou nesta terça a comunidade do Vietnã, onde Biu é líder comunitário e coordena ações sociais durante a pandemia. A prisão, mesmo que preventiva, já trazia impactos.
Na última sexta-feira (6), a juíza Gabriela Marques da Silva Bertoli havia decretado a prisão preventiva de Biu, que se apresentou nesta segunda-feira (9) ao 11º Distrito Policial, em Santo Amaro, zona sul de São Paulo (SP).
Assim como Paulo Galo, ele admitiu envolvimento no incêndio da estátua do bandeirante Borba Gato, cuja autoria foi assumida pelo grupo "Revolução Periférica".
Tanto a prisão dele como a de Galo são inconstitucionais na visão dos advogados. Na última semana, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) chegou a ignorar uma liminar de soltura expedida pelo Superior Tribunal de Justiça e manteve a prisão de Galo.
Os dois não têm antecedentes criminais e em nenhum momento deixaram de colaborar com as investigações.
Biu é entregador de aplicativo, estudante de História e tem uma filha de 7 anos. Na favela do Vietnã, onde atua como líder comunitário, sua prisão já era sentida entre as famílias que vivem entre as vielas estreitas e em moradias precárias, sem saneamento básico.
Com o descaso do governo federal no combate ao vírus e à fome, a solidariedade se tornou peça chave para o enfrentamento à pandemia no Vietnã. E Biu esteve à frente das ações.
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Em 2020, em meio a um dos momentos mais perversos da crise sanitária, as doações somaram mais de 10 mil cestas básicas. Em 2021, já são 3.100 cestas distribuídas.
"Eu não trabalho e aí quando eu precisava dele, eu falava com ele para arrumar uma cesta para mim. Ele: 'Tá bom Dona Cícera, eu vou trazer'. E ele vinha trazer na minha porta", relembra a desempregada Cícera Lourenço de Souza, de 53 anos.
Também sem ofício, Antônia da Silva tem as mesmas dificuldades para conseguir alimento. A idosa foi despejada em 2003, mudou-se para o Vietnã, e desde então aguarda um apartamento em um conjunto habitacional. Biu é quem ajuda no processo.
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"Eles ajudaram muito nós, não deixou faltar o pão de cada dia, graças a Deus", revela.
A moradia de Shirley Aparecida Coelho também foi garantida por meio das ações do ativista. Sem emprego e com 6 filhos para alimentar, ela recebe apenas com um auxílio emergencial de 370 reais.
"Me ajudou na reforma do meu barraco também. Conseguiu umas madeiras para mim. O Biu faz um trabalho excelente aqui, coisa que o governo não lembra nem que a gente existe", destaca.
Edição: Leandro Melito