Entre o final de agosto e início de setembro de 1961, Leonel Brizola liderou a campanha da Legalidade. A história desse importante episódio começou no dia 25 de agosto, quando Jânio Quadros surpreendeu o país e renunciou à Presidência. A renúncia estimulou os setores golpistas a atuarem para impedir a posse do então vice-presidente da República, João Goulart.
:: "Brizola faz falta", destacam lideranças que conviveram com o ex-governador do Rio ::
Jango estava realizando uma viagem para diversos países do “bloco comunista”, num contexto de Guerra Fria e polarização ideológica. A comitiva deixou o Brasil no final de julho e no dia da renúncia de Jânio Quadros a missão comercial ainda estava na China.
A crise que se seguiu foi tão grande que o Brasil quase entrou em guerra civil. Tropas contrárias à posse de Jango, visto erroneamente como esquerdista/comunista, foram mobilizadas e as forças do trabalhismo, com Brizola à frente, reagiram. Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, mobilizou a população, montou um verdadeiro bunker no Palácio Piratini e criou, com a ajuda de muitos partidários, um canal de comunicação chamado “Rede da Legalidade”. Armas foram distribuídas para a população, que se aglomerou em Porto Alegre, em frente à sede do governo riograndense. A luta que se travou era pelo respeito à Constituição e pela defesa da ordem democrática e isso significava que João Goulart deveria assumir a presidência.
No dia 30 de agosto, Brizola teria proferido um discurso histórico, dizendo, entre outras palavras de ordem, que “o primeiro tiro a ser disparado não será nosso. No segundo, porém, não erraremos o alvo, pois somos bons atiradores”. A histórica frase é um exemplo claro que demonstra que, em vários momentos da história do Brasil, a democracia esteve ameaçada e teve de ser defendida com o povo nas ruas.
A Legalidade venceu e João Goulart assumiu a presidência no dia 7 de setembro, tendo de governar com poderes restritos após a aprovação da emenda parlamentarista. Aqui, então, iniciava-se outra História que iria desembocar no retorno ao presidencialismo em janeiro de 1963 e no fatídico 31 de março de 1964.
*Marco Aurélio dos Santos é historiador.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Vivian Virissimo