As estratégias do presidente Jair Bolsonaro para enfrentar o cerco ao seu governo e as suas chances na eleição de 2022 são os destaques do terceiro episódio do podcast do Brasil de Fato, o Três por Quatro - Um Retrato do Brasil.
No episódio, o ex-ministro José Dirceu, a jurista Carol Proner e a economista Juliane Furno analisaram o desfile de carros blindados das Forças Armadas promovido pelo presidente na terça-feira (10), que virou piada nas redes sociais. Os veículos que passaram pelo Palácio do Planalto durante a manhã soltaram muita fumaça ao atravessarem a Praça dos Três Poderes e foram alvo de chacota.
Para José Dirceu, “o que transformou [o desfile] em um ato político inaceitável foram as circunstâncias no momento em que estão vivendo e os antecedentes. Nós temos sempre que olhar a história e nos atermos aos fatos, porque muitos dizem que o alto comando do Exército não concordou e inclusive pressionou o comandante para não ir. Mas as notas, os fatos e as entrevistas dizem o contrário”.
Tais circunstâncias, ainda que não tenham o apoio das oposições, do empresariado e do Poder Judiciário, o ex-ministro defende que é necessário ir para as ruas defender a democracia. Vale lembrar que o desfile ocorreu no mesmo dia da votação do voto impresso na Câmara dos Deputados. Apesar de ter sido derrubada, a pauta defendida por Bolsonaro recebeu mais votos a favor do que contra, 229 contra 218 contrários.
Enquanto esse tema ganhou os veículos de imprensa, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) aproveitou para colocar em pauta assuntos importantes, como a Medida Provisória 1.045, que foi aprovada por 304 votos a 133.
A MP estabelece o Novo Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, que traz a suspensão ou redução salarial e de jornada de trabalho, com o pagamento de um benefício emergencial aos trabalhadores, e vale para quem tem carteira assinada e para os contratos de jornada parcial e de aprendizagem. Segundo Carol Proner, a MP estabelece a contratação de jovens sem nenhuma garantia trabalhista.
Além disso, Arthur Lira garante “garante pressa na aprovação do novo Bolsa Família, precarizado, sem contrapartida, sem estabilidade de futuro, com valor muito mais baixo, mas que pode atingir mais 16 milhões de pessoas e garantir uma estabilidade para 2022”, afirma Proner. “A gente quer que haja também condição de construção de futuro e esse tipo de assistencialismo sem nenhuma garantia de futuro e destruindo as políticas públicas” vai na mão contrária.
O governo promete aumentar o valor médio do benefício, de R$ 190 para até R$ 400, e a abrangência, de 14,7 milhões para 17 milhões de famílias. No entanto, hoje já existem cerca de 3 milhões na fila do programa. Com as condições impostas a partir da pandemia, a abrangência deveria ser expressivamente maior, como afirmam especialistas.
Nesse cenário, Juliane Furno afirma que “as perspectivas para a vida da classe trabalhadora estão bastante ruins”. Para a economista, a MP 1.045 é um bom exemplo do que está por vir. “O programa de realocação de jovens é péssimo do ponto de vista até da produtividade da economia, porque não é uma adição de trabalhadores jovens. É uma substituição. Então precariza mais as condições trabalhistas, faz com que os jovens iniciem a carreira em condições mais precárias e incide na produtividade da economia, porque troca trabalhadores mais experientes por trabalhadores mais jovens”. Para Furno, a criação do novo Bolsa Família também é um pouco disso.
O presidente, no entanto, se depara com problemas orçamentários que ele mesmo ajudou a construir, como o Teto de Gastos. “O Teto de Gastos diz que a ampliação de recursos para um novo programa social independe da receita. Essa é a grande jabuticaba do Teto de Gastos. O governo pode ganhar na loteria que isso não abre possibilidade de aumento de recursos para saúde, educação ou programas sociais, porque o que importa é a variação da inflação do ano anterior, não é o conjunto de arrecadação anual”, explica Furno.
Para José Dirceu, esse cenário joga Bolsonaro para escanteio nas eleições de 2022. “As panelas estão vazias. É luz, é gás, é transporte, arroz e feijão, não tem carne. É a carestia, o desemprego. O conjunto da obra. Tudo indica que o bolsonarismo é incompatível com a reestruturação que o capitalismo está tendo no mundo. Eu não acredito que Bolsonaro ganha no segundo turno.”
Já para Furno, Bolsonaro tem “boas chances de fazer um segundo mandato”, principalmente tendo em vista a pauta econômica, o que pode parecer com pouco contraditório. Mas a situação econômica, explica a economista, está rumando para a normalidade, e qualquer crescimento econômico nos próximos meses se comparados com o ano passado pode parecer promissor.
“Da democratização para cá não houve nenhuma eleição em que o mandatário da República não estivesse pelo menos em um segundo turno. Esse é um elemento para se considerar, embora o bolsonarismo e Bolsonaro estejam bastante desgastados, ele tem o que outros candidatos da direita brasileira não tiveram que é base de apoio social, militância. Isso é um elemento importante.”
O programa vai ao ar todas as sextas-feiras e já está disponível nas principais plataformas de podcasts. No time do Três por Quatro estão o ex-ministro José Dirceu, a jurista Carol Proner e a economista Juliane Furno, debatendo os fatos mais relevantes da política nacional e internacional pela perspectiva dos setores populares. A apresentação é do jornalista Igor Felippe.
Edição: Camila Salmazio