Com 224 mil habitantes, Chapecó (SC) foi elogiada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no início de abril como um dos exemplos da eficácia do chamado “tratamento precoce” contra a covid-19. Quatro meses depois, a cidade registra nova alta de casos ativos e internações, e o prefeito bolsonarista João Rodrigues (PSD-SC) descarta a adoção de novas medidas restritivas para evitar contaminações.
O número de casos ativos na cidade do oeste catarinense saltou de 436, no dia 3 de agosto, para 1.015 nesta segunda-feira (16). Há 102 pacientes internados, e 689 óbitos desde o início da crise sanitária.
“Não vamos fechar nada. Vamos intensificar a fiscalização em quem está descumprindo e promovendo aquilo que não está permitido”, afirmou o prefeito de Chapecó em transmissão ao vivo no último dia 10.
Os alvos da fiscalização seriam principalmente bares e estabelecimentos comerciais. A ideia é atestar a ventilação dos ambientes e o cumprimento de normas relacionadas ao uso de máscaras e ao distanciamento social.
“Havendo redução dos casos [no município] para a ordem de 300, vamos fazer um decreto para liberar baile, balada, tudo com controle de testagem rápida e vacinação de segunda dose”, completou João Rodrigues.
Desde aquela transmissão ao vivo, o número de casos ativos cresceu 54%.
Distorções
Assim que Bolsonaro elogiou a gestão da pandemia em Chapecó, no início de abril, começaram a circular nas redes sociais boatos de que a cidade zerou internações após adotar um suposto “tratamento precoce” contra o coronavírus.
Isso nunca aconteceu. O que houve foi o fechamento de um Centro Avançado de Atendimento Covid-19 (CAAC) montado durante o pior momento da pandemia. Ainda assim, à época daquele rumor, cerca de 116 pacientes de covid-19 estavam internados em UTIs na cidade.
A atual gestão da Prefeitura, de fato, criou em um “centro de tratamento precoce”, oferecendo à população medicamentos sem eficácia comprovada, como ivermectina, azitromicina, cloroquina e hidroxicloroquina, no início deste ano. Porém, os casos ativos da doença só caíram após 14 dias de lockdown – medida restritiva criticada por Bolsonaro.
O presidente visitou Chapecó duas vezes na pandemia, em abril e junho, ignorando o lockdown e insistindo que a cidade é uma prova de que suas teses sobre a covid-19 estão corretas. Na última visita, Bolsonaro e seus apoiadores realizaram uma “motociata” na região.
Chapecó é a quinta cidade mais populosa e a segunda com mais casos ativos de covid-19 em Santa Catarina. A primeira colocada em número de casos ativos é Joinville (1.827), que tem mais que o dobro de habitantes de Chapecó e, portanto, incidência menor do vírus.
Diferentemente de Bolsonaro, o prefeito João Rodrigues é um incentivador da imunização. Até o momento, 133.518 habitantes tomaram a primeira dose da vacina contra a covid e 62.214 tomaram as duas doses.
Edição: Anelize Moreira