Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques, auditor do Tribunal de Contas da União (TCU), confirmou que foi o responsável por um “estudo paralelo” que indicou que metade das mortes por covid-19 não teria ocorrido.
À Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, Marques disse que enviou o documento ao seu pai, Ricardo Silva Marques, coronel do Exército Brasileiro, no dia 6 de junho. No dia seguinte, o presidente Jair Bolsonaro divulgou o documento como um relatório oficial do TCU. Segundo o auditor, seu pai confirmou que enviou o estudo ao capitão reformado do mesmo jeito que recebeu do filho.
Marques, no entanto, disse que o documento está longe de ser oficial. Trata-se de um estudo preliminar que o auditor estava tocando sozinho, sem nenhuma conclusão, em formato Word, de duas páginas e sem nenhuma referência ao TCU.
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O auditor acredita que o documento tenha sido adulterado, uma vez que o estudo divulgado por Bolsonaro aparece com a inscrição do Tribunal e em PDF. “Vincular o Tribunal a um documento de duas páginas não conclusivo, eu achei irresponsável”, afirmou Marques
Segundo o auditor, os dados foram retirados do Portal da Transparência do Registro Civil, da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais, e tabulados apenas para discussão interna. “Mas concluímos que não havia como contribuir para um conluio para a super notificação”, afirmou. Antes de enviar ao seu pai, Marques conversou com outros integrantes do TCU, com os quais derrubou a validade do documento. Ainda assim, dias depois, Alexandre Marques enviou o estudo ao seu pai.
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Os senadores reagiram ao depoimento de Marques. “O seu trabalho nada serviu para o Brasil. Pelo contrário, você estava procurando uma justificativa para o presidente da República. Não sei quem mandou você fazer isso, mas tenho certeza que isso não nasceu da sua cabeça. Contribuiu para desmerecer o trabalho de milhares e milhares de profissionais da saúde”, afirmou Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI, ao auditor do TCU.
Na mesma linha, Simone Tebet (MDB-MS), afirmou que Bolsonaro "divulgou um documentos sabidamente adulterado. Se isso não for a confirmação que, no conjunto da obra, esse governo queria é negar a gravidade da pandemia, eu não sei o que é".
Logo no início do depoimento, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) retirou sua inscrição da sessão ao afirmar que Bolsonaro sabia que o documento não era oficial. “O depoente já confirmou que só mandou o documento para seu pai, amigo pessoal do PR. E que seu pai mandou para PR. Já pode encerrar o depoimento. Bolsonaro sabia que estava mentindo para os brasileiros. Este jogo de mentiras em rede social matou e continua matando brasileiros”, afirmou nas redes sociais.
O pai do servidor Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques, Ricardo Silva Marques, é amigo próximo de Jair Bolsonaro. Eles são da mesma turma na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), quando se conheceram. Em 2020, Ricardo foi um dos nomes que assinaram o manifesto de apoio a Bolsonaro assinado por formandos da turma de 1977.
Um ano antes, ele foi nomeado para a gerência executiva de Inteligência e Segurança Corporativa da Petrobras. No mesmo ano, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Gustavo Montezano, que é próximo dos filhos de Bolsonaro, indicou Alexandre Marques para uma diretoria do banco. A indicação só não se concretizou pois foi barrada pelo TCU. O órgão entendeu que poderia haver conflito de interesses, uma vez que o banco é fiscalizado pelo tribunal.
Edição: Vinícius Segalla